Bloomberg Línea — A Enauta (ENAT3) e a 3R Petroleum (RRRP3) assinaram um memorando de entendimento para encaminhar a fusão de suas operações, em uma negociação que envolve a Maha Energy Offshore, acionista relevante da 3R. A transação abre caminho para que outras operadoras independentes também busquem alianças, avaliam fontes ouvidas pela Bloomberg Línea.
A transação prevê a incorporação da Enauta pela 3R. Segundo fato relevante das companhias nesta quarta-feira (10), pelo acordo haverá troca de fatia atualmente detida pela Maha em sociedade controlada pela 3R por participação direta na 3R (”roll-up”). Há exclusividade de diligência e de negociação por 30 dias, prorrogável por igual período, acrescenta o documento.
Os acionistas da Enauta receberão novas ações da 3R de modo que o capital social da nova companhia integrada será representado por 53% de acionistas da 3R, e por 47%, da Enauta (sujeito a ajustes).
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A potencial transação prevê o roll-up da participação de 15% da Maha na 3R Offshore (subsidiária da 3R), de modo que receba 2,17% da nova companhia integrada.
O Itaú BBA e o BTG Pactual são assessores financeiros da 3R, e os escritórios Spinelli Advogados e Mattos Filho atuam como assessores jurídicos. A Enauta é assessorada pela XP e pelo Citi, bem como o escritório Pinheiro Neto Advogados.
O negócio deve gerar sinergias de R$ 1,5 bilhão, em uma companhia com valor de mercado combinado de cerca de R$ 16 bilhões.
Na avaliação do sócio-diretor da A&M (antiga Alvarez & Marsal) Infra, Filipe Bonaldo, o anúncio deve acelerar o movimento de fusões e aquisições no segmento. “Existe uma corrida das junior oils, que precisam cada vez mais de condições financeiras para fazer investimentos e, a partir disso, ter maior capacidade de competir no mercado”, disse.
Diante da nova estratégia da Petrobras (PETR3, PETR4) de cessar a venda de ativos em campos maduros, as operadoras independentes buscam alternativas para continuar a crescer. Fusões e aquisições devem ser o principal movimento no segmento.
Em recente entrevista à Bloomberg Línea, o CEO da Enauta, Décio Oddone, afirmou que há uma tendência de consolidação das empresas menores de petróleo e gás no país.
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“Este é um negócio de escala e, para se ter mais acesso a mercado de capitais, devemos ver um movimento de consolidação no segmento”, disse o executivo na ocasião, em outubro passado. “Estamos preparados para estar na ponta consolidadora, temos experiência, equipe, geração de caixa e um conjunto de acionistas que acredita nessa tese”, acrescentou.
Oddone destacou que a capacitação técnica da empresa é única. “É diferente assumir um ativo já existente e continuar tocando a operação. Somos a única independente que desenvolve do zero um projeto de grande porte em águas profundas, é [um trabalho] semelhante aos projetos das majors.”
Bonaldo ponderou que, atualmente, existem diversas operadoras de petróleo consideradas de médio porte - em relação a gigantes como Petrobras e Shell (SHEL), por exemplo - no mercado brasileiro, incluindo PRIO (PRIO3) e PetroRecôncavo (RECV3). Dentro desse escopo se encaixa ainda a Eneva (ENEV3), focada na produção de gás.
“Temos várias empresas que são de médio porte que estão procurando ganhar mais capacidade financeira e, a partir disso, começar de fato a ter condições de competir com grandes players”, analisou o especialista.
Oportunidades
No ano passado, especulações de mercado apontavam para possíveis negociações entre a PRIO e a Enauta, mas à época a antiga PetroRio negou a transação. No início deste ano, 3R e PetroRecôncavo confirmaram conversas para uma possível união dos negócios a partir de determinados ativos.
Agora, o mercado deve ficar ainda mais atento às operadoras independentes. “O M&A é uma tendência no segmento, vamos ver esse movimento nos próximos três anos”, afirmou Bonaldo.
Para o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz, a decisão de união com a Enauta foi mais vantajosa para a 3R, uma vez que a alternativa envolvendo a PetroRecôncavo “resultaria em uma empresa ligeiramente mais endividada”.
“Com a fusão, a nova entidade terá uma alavancagem baixa, inferior a 2x o Ebitda, o que evita possíveis problemas”, disse o analista. “A empresa resultante se tornará uma grande produtora e isso a posicionará como uma alternativa significativa [para investidores] ao risco de interferência política enfrentado pela Petrobras”, acrescentou.
Cruz avaliou que um dos desafios para a nova companhia resultante da fusão será reduzir o custo de extração por barril de petróleo (lifting cost). “Se as empresas conseguirem articular um plano para atingir um patamar mais competitivo em dois anos, isso certamente será bem recebido pelo mercado.”
Ele observou que a sinergia projetada de US$ 1,5 bilhão entre as duas empresas é um ponto significativo e promissor para o futuro. “Em um cenário internacional marcado por tensões no Oriente Médio e entre Rússia, Ucrânia e Europa, com preços do petróleo permanecendo elevados, há um interesse considerável dos investidores nas empresas envolvidas na sua exploração.”