Como a família Randon quer transformar um ‘hobby’ em um negócio bilionário

Empresa agrícola começou as atividades na década de 1970 com maçãs. Agora, diversificada, fatura R$ 500 milhões e mira crescer na exportação de itens premium e no varejo

CEO da RAR, Sergio Barbosa, em frente ao estoque de queijos tipo grana, que já está sendo exportado (Foto: RAR/Divulgação)
01 de Setembro, 2023 | 04:45 AM

Bloomberg Línea — Em meados da década de 1990, o fundador da Randon (RAPT4), Raul Anselmo Randon, aprendeu com um amigo italiano sobre as particularidades de um reconhecido queijo local, o grana padano. Decidido a produzir o item no Brasil, ele voou para Ohio, nos Estados Unidos, e comprou 140 vacas prenhas, que chegaram a Porto Alegre (RS) em dois aviões cargueiros da Boeing.

A partir desse plantel, a RAR, empresa agrícola da família Randon com sede em Vacaria (RS), conseguiu acumular 3.200 animais, dos quais 1.380 em ordenha, que proporcionam 45 mil litros de leite por dia atualmente.

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A RAR iniciou suas atividades em meados da década de 1970 com a produção de maçãs e, a partir da então nova aposta de seu fundador, passou a fabricar no Brasil o primeiro queijo tipo grana fora da Itália, sob o nome Gran Formaggio - já que o tradicional grana padano recebe um selo que garante que o item foi produzido em uma província específica do país europeu.

Com uma oferta de produtos que vai de azeites a vinhos, a RAR deve faturar neste ano R$ 500 milhões. A meta, em cinco anos, é dobrar o faturamento para R$ 1 bilhão.

“É algo que meu pai sempre trabalhou com amor, era o hobby dele”, afirmou Daniel Randon, o filho mais novo dos cinco herdeiros da família de Caxias do Sul (RS), à Bloomberg Línea.

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De acordo com uma pessoa próxima à família, que falou sob condição de anonimato, Raul não deixava de pegar a estrada toda semana para cuidar do negócio agrícola e de suas plantações de grãos. Também era frequentador assíduo de feiras de agronegócio.

Daniel confirmou que Raul se mantinha ativo no negócio agrícola da família até sua morte, em 2018. “Toda quinta ou sexta-feira, ele pegava a estrada para Vacaria. Meu pai sempre trabalhou com o ‘pé embaixo’ até os 88 anos.”

O patriarca da família Randon começou a produzir maçãs por causa de um incentivo fiscal, dado que, em meados da década de 1970, o país importava grande parte do consumo doméstico da fruta.

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Em 2023, a empresa deve exportar 6.000 toneladas de maçãs para Índia, Irlanda, Inglaterra, Bangladesh, Rússia, Colômbia, Cingapura, Portugal e Emirados Árabes Unidos. A meta é quase dobrar a produção da fruta em dez anos e atingir novos e disputados mercados, como o dos Estados Unidos.

A RAR exporta maçã para diversos países no mundo e trabalha para produzir a variedade orgânica. Foto: RAR/Divulgação

No segmento de queijos e derivados, a RAR já é a maior produtora individual de leite do Rio Grande do Sul, segundo o CEO da empresa, Sergio Barbosa. “Em dois anos, seremos o oitavo maior [produtor de leite] do Brasil, com 70 mil litros por dia para produzir parmesão e subprodutos, como manteiga e creme de leite”, disse o executivo à Bloomberg Línea.

A produção de queijos e derivados da RAR deve atingir 2.000 toneladas neste ano. No período, a companhia fará dois embarques de queijos para o Paraguai. Mais recentemente, a empresa obteve licença das autoridades chilenas para exportar o produto para o país vizinho.

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Segundo Barbosa, a conquista desse mercado é muito importante, já que o processo de obtenção da habilitação para exportar alimentos para o Chile é muito rígido, com escrutínio desde a documentação técnica das instalações até os próprios produtos.

Com a obtenção da licença, os produtos da RAR poderão ser comercializados nas principais cadeias de supermercados e canais de alimentação do Chile.

“Procuramos nichos de mercado, queremos oferecer produtos diferenciados. Nossa maçã, por exemplo, é cultivada com proteção contra granizo, e já estamos trabalhando para produzir a variedade orgânica”, disse o executivo.

Outro diferencial, ressaltou, é que a RAR tem a primeira fazenda no Rio Grande do Sul com selo de bem-estar animal, que atende a critérios ligados a nutrição, conforto e exposição, entre outros. “Cada vez mais, o cliente busca esse tipo de adequação”, disse Barbosa.

‘Desculpas’ boas

Daniel Randon relatou que a primeira boa “desculpa” que seu pai achou para começar a produzir maçãs foi o incentivo fiscal. Em meados de 2002, Raul decidiu começar a produzir vinhos, aproveitando a comemoração de 50 anos de seu casamento que estava por vir.

“Meu pai achou uma boa desculpa - as bodas de ouro dele - para começar a fazer vinhos. Ele já cultivava algumas uvas em Vacaria, mas em 2002 começou a produzir vinhos através de uma parceria”, contou.

Hoje, a empresa trabalha com uma linha de 31 vinhos e espumantes, sendo 18 rótulos de produção nacional e 13 importados da Itália e da Argentina, em uma parceria com a vinícola MASI. Daniel pontuou que a marca de vinhos Randon, de Santa Catarina, é de outra empresa, pertencente à família do primo de Raul.

A RAR também produz azeite de oliva extravirgem, além de vinagre orgânico de maçã e massas (em modelo de parceria). Na seara de importados, os itens vão desde aceto balsâmico até queijos, como o próprio grana padano da Itália.

A companhia deve encerrar o ano com sete lojas Spaccio RAR, provenientes do modelo de franquia da marca. “Nossa meta é aumentar o número de franquias: queremos chegar a 50 nos próximos cinco anos”, disse Barbosa.

Empresa comercializa produtos também por meio de franquia. Foto: RAR/Divulgação

Com 1.200 funcionários fixos, a RAR chega a contratar 2.500 pessoas na época de colheita das maçãs. Segundo pessoas próximas à companhia ouvidas pela Bloomberg Línea, o crescimento da empresa foi decisivo para mudar a característica da região.

Vacaria está a cerca de 120 quilômetros de Caxias do Sul. De acordo com um executivo ligado à Randoncorp, que não quis se identificar porque as conversas são privadas, o negócio qualifica os integrantes da família como “verdadeiros empreendedores” e é mais uma garantia de receita, ainda que tenha nascido como uma paixão do fundador.

Essa fonte acrescentou que toda a diretoria da RAR tem o mesmo treinamento promovido na Randoncorp, e o planejamento estratégico é feito nos mesmos moldes da holding voltada para o setor automotivo.

Apesar das metas ambiciosas, a RAR tem capital fechado e não opera sob a holding Randoncorp. “É uma empresa da família, meu cunhado é presidente e toca a operação. Também temos dois irmãos que participam do conselho. É a história do meu pai, um negócio que preservamos”, disse Daniel.

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Juliana Estigarríbia

Jornalista brasileira, cobre negócios há mais de 12 anos, com experiência em tempo real, site, revista e jornal impresso. Tem passagens pelo Broadcast, da Agência Estado/Estadão, revista Exame e jornal DCI. Anteriormente, atuou em produção e reportagem de política por 7 anos para veículos de rádio e TV.