Como a família dona da José Cuervo construiu um império imobiliário nos EUA

Juan Beckmann Vidal, o patriarca por trás da fabricante de bebidas Becle, comprou e construiu ao menos 465 mil metros quadrados de propriedades em três estados americanos

Portfólio de Juan Beckmann Vidal ultrapassa US$ 1 bilhão (Foto: Susana Gonzalez/Bloomberg)
Por Daniel Cancel - Felipe Marques
08 de Junho, 2024 | 03:00 PM

Bloomberg — O herdeiro de uma fortuna construída com a tequila José Cuervo investiu dinheiro em imóveis comerciais nos Estados Unidos nos últimos 15 anos e acumulou discretamente um portfólio que vai de Miami a Minneapolis.

Juan Beckmann Vidal, o patriarca por trás da fabricante de tequila e de outras bebidas alcoólicas Becle, comprou e construiu pelo menos 464.515 metros quadrados de propriedades principalmente comerciais em três estados dos EUA. No total, os edifícios valem mais de US$ 1 bilhão, de acordo com o Bloomberg Billionaires Index.

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O negócio imobiliário foi totalmente financiado pela própria família Beckman e, até o momento, recusou coinvestidores, disse José Antonio Pérez, um advogado mexicano de formação que dirige a Agave Holdings, como a empresa é conhecida.

O mais recente projeto da Agave, um complexo de uso misto na badalada área de Coral Gables, perto de Miami, não é apenas o mais ambicioso até o momento, mas também emblemático de uma das famílias mais ricas do México, que possui uma fortuna combinada de US$ 7 bilhões, de acordo com o índice de riqueza da Bloomberg.

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A Agave adquiriu o terreno de Coral Gables após uma execução hipotecária há mais de uma década. Sua incursão antecipada no sul da Flórida foi uma bênção, já que os preços dos imóveis dispararam após a chegada de novos residentes dos EUA e do exterior. O novo edifício, que já está totalmente alugado, incluirá escritórios para a Apple (AAPL).

A empresa espera repetir esse sucesso em Chicago. A Agave adquiriu imóveis na cidade nos últimos anos com grandes descontos, apostando que um dos mercados imobiliários comerciais mais prejudicados dos EUA acabará por se recuperar.

Beckmann “quer maximizar a metragem quadrada como parte de uma estratégia de longo prazo para as gerações futuras”, disse Pérez em uma entrevista em Miami. “Em 15 anos, tudo foi reinvestido no Agave. Ele nunca tirou um centavo da empresa.”

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Embora Beckmann, de 84 anos, continue a residir no México com seus filhos, que administram a Becle, de capital aberto, seu parente Carlos Beckmann, primo em segundo grau, é diretor administrativo da Agave.

As propriedades incluem o recém-concluído Plaza Coral Gables, com 210.000 metros quadrados de espaço para escritórios, residências e varejo. A Agave também é proprietária do edifício 396 Alhambra em Coral Gables, que abrigará a sede da FIFA durante a Copa do Mundo de 2026.

Em Chicago, eles possuem e operam duas torres de escritórios, incluindo uma adquirida no ano passado com um desconto de quase 40% em relação à última vez em que foi vendida. Em Minneapolis, eles adquiriram um hotel de 93 quartos.

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Como foram pioneiros entre as famílias ricas latino-americanas na construção de empresas imobiliárias nos Estados Unidos, eles agora estão em conversas com outros investidores e famílias para possíveis parcerias fora da Agave ou para oferecer conhecimento especializado.

Eles são parceiros estratégicos da White Bridge Capital, uma empresa liderada por ex-banqueiros do Citigroup (C), que busca conectar family offices com oportunidades de investimento.

Em 2008, Beckmann havia se exposto excessivamente ao setor imobiliário em seu país natal, o México, quando começou a se desfazer de suas participações no país para diversificar seus investimentos.

Ele contratou Pérez, que já trabalhava para seu family office, para construir uma operação imobiliária nos EUA, mesmo quando as reverberações da crise financeira global ainda estavam atingindo a economia. Além dos ativos imobiliários, Pérez também supervisiona os imóveis, investimentos, ativos e estruturas tributárias pessoais dos Beckmanns nos EUA.

(Foto: Slaven Vlasic/Getty Images)

Gregory Schwartz, que entrou para a Agave em 2018, dirige a empresa junto com Pérez. Ambos ajudam as gerações mais jovens da família Beckmann a analisar oportunidades de investimento, incluindo negócios de startups de tecnologia, disseram eles.

O negócio de bebidas alcoólicas remonta a 1758, quando José Antonio de Cuervo recebeu a aprovação do rei da Espanha, Fernando VI, para plantar agave e produzir tequila.

A empresa construiu uma destilaria no início do século 19 e começou a engarrafar e exportar o produto. Beckmann, um descendente de imigrantes alemães, se uniu à família por um casamento e assumiu o controle da destilaria em 1970. Sob sua liderança, a empresa começou a adquirir outros tipos de destilados para diversificar além da tequila e do mezcal.

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Beckmann costumava visitar Miami praticamente todo mês para supervisionar projetos, mas reduziu suas viagens desde a pandemia, disse Pérez.

Durante a construção do Plaza, houve muitos momentos de nervosismo quando a pandemia chegou e eles não tinham aluguéis bloqueados. Eles perceberam que não tinham dinheiro suficiente para “construir esse monstro”.

Em um determinado momento, Beckmann lhes perguntou quanto precisavam para terminar a construção. A resposta: US$ 300 milhões.

“Então ele nos enviou US$ 300 milhões. Ele disse: ‘apenas termine. Não quero pesadelos, não quero dores de cabeça, não quero ter alavancagem excessiva’”, contou Pérez.

A Agave tem uma equipe de cerca de seis pessoas e, embora tenham analisado outras cidades de rápido crescimento após a pandemia, não estão convencidos de que se sairão melhor do que em seus locais atuais, onde conhecem o mercado e recebem constantemente novas oportunidades.

Um critério para qualquer novo destino é ter um voo direto de sua base em Miami, brincaram eles.

“Sempre dizemos que não estamos procurando”, disse Pérez, olhando pela janela do escritório para o complexo Coral Gables Plaza. “Mas foi assim que chegamos aqui”.

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