Com Reag como sócia, Roberto Justus aposta em casas de luxo como seu maior negócio

Empresário e ex-apresentador de ‘O Aprendiz’ diz à Bloomberg Línea que a Steel Corp, de modelo construtivo com estrutura de aço, pode faturar R$ 800 milhões em seu primeiro ano

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Bloomberg Línea — “Você está demitido!” Com essa frase, o empresário Roberto Justus ganhou notoriedade na TV brasileira por quase dez anos à frente do reality show “O Aprendiz”, versão brasileira do “The Apprentice”, que tinha Donald Trump como apresentador.

Esse tempo ficou para trás. Justus, que construiu antes do programa televisivo uma carreira premiada no mercado publicitário à frente de grandes agências, tem como mais nova empreitada erguer residências de luxo com um modelo de construção com estrutura de aço, chamado de “Light Steel Frame”.

O ex-apresentador, 68 anos, assumiu o cargo de CEO da SteelCorp, que pretende desenvolver projetos imobiliários com tempo de entrega abaixo da média do mercado. Ele projeta um faturamento de R$ 800 milhões em 2024 para a empresa, que acaba de completar seis meses.

A gestora Reag Investimentos, comandada por João Carlos Mansur, um dos idealizadores do Allianz Parque, arena multiuso que serve como estádio do Palmeiras e de shows de artistas nacionais e globais, é uma das sócias do ex-apresentador no empreendimento, com 30% do capital. O valor investido não é revelado.

Nos últimos anos, a gestora tem experimentado um período de crescimento acelerado, a tal ponto que se tornou uma das maiores assets independentes do país, com R$ 166 bilhões em ativos sob gestão em outubro, dado mais recente divulgado pela Anbima. Em maio de 2022, eram R$ 63 bilhões.

Em entrevista à Bloomberg Línea, Justus disse já ter acertado projetos de construção de moradias na Fazenda Boa Vista, reduto de milionários idealizado e operado pela JHSF (JHSF), em Porto Feliz, no interior de São Paulo.

“Assinamos contrato com diferentes arquitetos para construir casas de alto padrão. O PIB brasileiro que tem propriedade na Boa Vista verá com que rapidez fazemos uma obra com esse sistema inovador. Será nosso cartão de visita”, disse o empresário, que tem residência no empreendimento da JHSF.

Leia trechos da entrevista com Justus, editada para fins de clareza.

O que motivou o senhor a trocar a publicidade e o entretenimento por um segmento da economia tradicional como a construção civil?

Me atraio por coisas diferentes e disruptivas. Fui apresentador de TV por 16 anos. Apesar de ter dado prazer e dinheiro, era um hobby, não uma profissão. Quando o prazer acabou, saí da televisão. Dava muito trabalho, mas fiz tudo que eu queria. Realizei todos os meus sonhos em todos os tipos de programa. “O Aprendiz” foi o que mais gostei de fazer.

Na publicidade, trabalhei por 38 anos. Em 2015, vendi minhas empresas. Decidi investir em vários negócios em outros ramos. Já tenho quatro empresas na área financeira, wealth, private equity, asset e tem escritório de agente autônomo ligado ao BTG Pactual (BPAC11).

Tenho ainda três negócios na área de tecnologia, tenho uma empresa de recuperação de direito tributário. Fiquei nos conselhos dessas empresas todas nas quais sou sócio atuando como um consultor, não querendo mais atividade no dia a dia.

Qual será o peso da SteelCorp em seu patrimônio?

Pode se tornar a maior empresa da minha vida. Não tenho dúvida. O potencial dela é gigantesco. Temos previsão de faturamento de R$ 800 milhões para quando completar um ano em 2024, mas estou mirando com minha equipe surpreender e chegar a R$ 1 bilhão. Só faremos obra privada.

Já comprei o backlog de negócios de uma construtora que adquirimos. Estamos montando uma fábrica dos perfis [estruturas de aço utilizadas na construção de paredes, telhados, pisos e lajes], que deve provavelmente começar a operar em uma cidade na Grande São Paulo, que ainda não batemos o martelo.

Como o senhor avalia o setor da construção civil no Brasil em termos de inovação de tecnologia?

Quando tive contato com o método do steel frame, de montar uma obra no canteiro de obras como se fossem blocos de Lego, quis entender por que só 1% do mercado brasileiro trabalhava com construção industrializada, modular, enquanto nos EUA essa penetração do steel frame é de 75%, na Europa, mais de 60%, igual na Ásia.

Vi uma pesquisa dizendo que a construção civil, que responde por 25% do PIB nacional, só perde para a pesca em ternos de atrasos de inovação. Ou seja, a construção ficou parada no tempo, não evoluiu, ainda constrói em alvenaria, e não adota uma tecnologia que é mais rápida, com obra mais limpa, sem entulho, com mais sustentabilidade.

Como foi montada a estrutura societária da empresa?

A SteelCorp começou a operar em junho. Vendemos 30% da empresa para a Reag, grande player imobiliário, que tem o João Carlos Mansur, idealizador do Allianz Parque. A Reag permitiu um capital inicial para os investimentos. Não posso revelar o valor. Tenho meu sócio Daniel [Gispert] e o minoritário Marcelo [Pieruzzi], que cuida do nosso banco, o Steel Bank. Temos uma securitizadora para financiar os clientes que compram os imóveis. Vamos ter uma fábrica de 10 mil metros quadrados em Cotia.

Como está a captação de contratos?

Temos pressa para ativar a operação. Estamos na fase de negociação de vários contratos, e o volume daqueles com chance de serem fechados é elevada. Já temos 130 funcionários. No backlog, temos vários contratos de diferentes perfis, como condomínios residenciais, obra corporativa em Trancoso, na Bahia, cinco prédios para construir. Pegamos uma obra no Cidade Jardim, outra em Indaiatuba.

Estamos assinando contrato com diferentes arquitetos para construir cinco casas de alto padrão. O PIB brasileiro que tem propriedade na Boa Vista vai ver com que rapidez fazemos uma obra com esse sistema inovador. Será nosso cartão de visita.

A Steel Corp já tem fornecedores definidos?

Não temos um fornecedor exclusivo. Fazemos compras relativas a cada obra. Não fazemos estoque. Movimentamos 10 mil toneladas por mês. Compramos com o preço do momento. Conversei com CSN (CSNA3), Usiminas (USIM5), ArcelorMittal, adquirimos também de chineses.

A Gerdau (GGBR4) comprou a Brasil ao Cubo, que é uma concorrente nossa. O aço representa 40% do nosso custo de obra de nosso método. Exijo do cliente um sinal de 30%, aí travo o preço e compro a matéria-prima. Isso torna nossa tabela de custos mais previsível.

A companhia vai investir em obras de moradia de baixa renda?

Nosso modelo é competitivo em imóveis de médio e alto padrão. No popular, como os imóveis do programa Minha Casa, Minha Vida, não conseguimos ainda chegar a uma equação, mas acredito que no futuro chegaremos lá. É difícil ser competitivo nesse segmento, pois é difícil fazer uma boa margem.

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