Bloomberg Línea — O mercado de carro por assinatura cresce no país com uma proposta de comodidade e custo-benefício, em meio ao aumento de 100% dos preços de veículos novos em poucos anos e de novos hábitos do consumidor.
O segmento de luxo não é exceção: montadoras e empresas de locação exploram o segmento e apostam em diferentes estratégias para atrair o cliente, como a oferta de esportivos e atendimento personalizado que inclui até “mimos” como envio de champanhe no aniversário e passeio de helicóptero pela cidade. As mensalidades chegam a custar R$ 25 mil.
A pandemia foi um fator decisivo para o aumento dos preços dos carros, diante da crise na cadeia de fornecedores das montadoras. O preço médio dos modelos de luxo saiu de R$ 265 mil, em 2019, para R$ 510 mil em abril deste ano, segundo levantamento da consultoria JATO Dynamics.
Do lado da oferta, montadoras e locadoras de veículos têm ampliado a operação no segmento de assinatura, que promete comodidade e preços mais acessíveis para os clientes - que em muitos casos não desejam ou não têm condições de comprar um carro zero quilômetro.
Segundo estimativa da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla), o mercado de carro por assinatura no Brasil, atualmente, é de 150 mil a 160 mil unidades (pessoas físicas).
Nos pacotes básicos estão incluídos documentação (IPVA e licenciamento), manutenção, seguro e franquia de quilometragem. Não há desembolso inicial para pegar um carro, diferentemente da compra de um carro novo, que exige pelo menos o pagamento de uma entrada referente ao valor do carro.
A Audi estreou no segmento de carro por assinatura em setembro de 2020 com um projeto piloto em São Paulo. Hoje, o serviço é oferecido no país inteiro e já conta com quase todo o portfólio da marca alemã.
“O serviço tem resultado muito bom e estamos estudando oferecer o primeiro esportivo a combustão na modalidade de assinatura”, afirmou o head de vendas corporativas e seminovos da Audi do Brasil, Araken Madella, em entrevista à Bloomberg Línea.
No portfólio de carros por assinatura, a Audi oferece desde o modelo de entrada, o A3, até o RS e-tron GT, cujo preço de venda supera R$ 1 milhão.
“Temos uma variedade grande de clientes. Estamos atraindo desde o consumidor que talvez não compraria [um Audi] até aqueles que já ‘são de casa’, mas que querem experimentar um novo modelo de negócio”, relatou o executivo.
Os planos de assinatura da Audi custam a partir de R$ 6.245 mensais, no caso do sedã A3, até R$ 21.840 no RS e-tron GT. “Para auxiliar o cliente, criamos uma calculadora financeira que visa responder de forma mais objetiva quanto custaria uma assinatura, pois cada estado tem uma IPVA diferente e levamos isso em conta no valor da mensalidade”, contou.
Na avaliação do executivo, a tendência é que esse mercado tenha um crescimento expressivo no Brasil. “Queremos crescer de forma orgânica. Se o mercado de assinatura vier com força, estaremos preparados para atender com uma gama de carros completa. Todos os nossos lançamentos já chegam com a modalidade de assinatura ativa”, disse.
Ele disse que a assinatura pode ser considerada a plataforma ideal para quem quer testar um carro elétrico.
“Muitos clientes ficam um pouco receosos de comprar um elétrico e encontram na assinatura um ambiente seguro [para testar o modelo]. Eles não precisam se preocupar com variáveis como seguro, [valor de] revenda e custo de manutenção”, ponderou Madella. Em 2022, 21% dos contratos da Audi na modalidade de assinatura foram justamente de modelos 100% elétricos.
A chinesa BYD, que anunciou recentemente uma fábrica no Brasil no estado da Bahia, já tem um de seus modelos na plataforma de assinatura. O híbrido plug-in Song, que custa R$ 269.990 na venda, pode ser contratado na modalidade por meio da Localiza (RENT3), segundo a montadora.
“O Brasil está em um movimento crescente no negócio de carro por assinatura, sobretudo em modelos premium. Vamos crescer bastante no segmento”, disse o presidente do conselho da montadora no país, Alexandre Baldy, à Bloomberg Línea.
Na última quarta-feira (30), a BYD lançou o coupé esportivo 100% elétrico Seal, com 530 cavalos de potência e 520 quilômetros de autonomia, com preço de lançamento de R$ 296.800,00. O modelo não está disponível para assinatura, mas o executivo disse que a montadora chinesa estudará todas as possibilidades para o serviço no Brasil.
“Pretendemos oferecer [na assinatura] os modelos que sejam viáveis no país. Se o mercado acolher nossos produtos, a BYD também fornecerá na forma de assinatura”, acrescentou.
De champanhe a helicóptero
Além das montadoras, locadoras também apostam na assinatura para o público de alta renda. A For You Fleet, fundada há três anos, já tem 30% de sua receita proveniente do negócio de carro por assinatura.
Os pacotes da empresa incluem serviços de concierge, manutenção que busca e entrega o carro na casa do cliente, gestão de multas, telemetria e rastreamento, além de levantamento de estatísticas dos condutores para o contratante.
“Buscamos entregar o que nenhuma outra grande empresa do segmento oferece”, disse o CEO da For You Fleet, André Campos.
O executivo afirmou que o foco principal da empresa não é preço, ainda mais no segmento voltado para alta renda. “No aniversário de um de nossos clientes, por exemplo, mandamos uma cesta com champanhe importada e taças de cristal, com uma carta assinada por mim”, afirmou.
Em outra ocasião, um cliente com três carros por assinatura contratados ganhou um passeio de helicóptero por São Paulo. “Temos essa preocupação de oferecer um tratamento diferenciado”, disse Campos.
Ele afirmou que a grande demanda é de carros que custam acima de R$ 200 mil, ainda que a companhia possa oferecer qualquer modelo. Hoje, a For You Fleet tem contratos de assinatura de veículos de R$ 700 mil, cujas mensalidades são de aproximadamente R$ 25 mil, a depender do prazo e da franquia de quilometragem.
O BMW X5 híbrido e o BMW X6 a combustão estão entre dois dos modelos com valor mensal mais elevado.
No segmento de luxo da empresa, os contratos na modalidade custam a partir de R$ 8.900 por mês, com mil quilômetros de franquia. Segundo Campos, caso esse limite esteja próximo de ser atingido, a própria For You Fleet entra em contato para avisar o cliente.
“Não deixamos o cliente descobrir só quando ele está para pagar uma multa por exceder a quilometragem contratada. Assim que detectamos o padrão de uso, entramos em contato para saber se ele quer recalibrar o contrato”, relatou o executivo.
O plano da For You Fleet nos próximos cinco anos é atingir uma frota de aproximadamente 500 carros. “Trata-se de uma operação de nicho. Temos o desafio de manter esse escopo que desenhamos desde a essência”, afirmou Campos.
Na avaliação do executivo da Audi, a tendência é a de crescimento desse mercado também no segmento premium. “Nossa estratégia em relação à assinatura é oferecer uma alternativa ao cliente, e não ser um competidor com a venda [de veículos]”, ressaltou Madella.
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