Bloomberg — A Nestlé reduziu o guidance (projeção) de vendas e lucros para o ano de 2024, à medida que a maior empresa de alimentos do mundo luta para reconstruir sua participação de mercado depois que os preços mais altos afastaram os consumidores dos seus produtos.
A apresentação dos resultados trimestrais foi uma ocasião também para que o novo CEO, Laurent Freixe, há pouco mais de 45 dias no cargo, anunciasse medidas de reformulação do alto escalão (veja mais abaixo).
A fabricante do Nescafé e das rações Purina espera agora que as vendas orgânicas aumentem cerca de 2% em 2024, abaixo da previsão anterior de pelo menos 3%, segundo informou nesta quinta-feira (17). O crescimento de 2% seria a menor taxa anual desde, pelo menos, a virada do século.
A Nestlé substituiu abruptamente o CEO Mark Schneider por Laurent Freixe em setembro, o que significou privilegiar um executivo que subiu na hierarquia executiva da empresa suíça ao longo de quase quatro décadas, com experiência em funções como marketing e vendas e em diferentes regiões.
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As ações da empresa se recuperaram das perdas iniciais nesta quinta-feira e chegaram a subir até 2,3%, depois que Freixe disse a analistas que tem analisado o portfólio de produtos, o que levanta a perspectiva de possíveis alienações de ativos.
O novo CEO tenta restaurar a confiança dos investidores após os recentes “tropeços”, o que inclui um corte anterior em junho em sua meta de vendas para o ano inteiro, que era de 4%.
A Nestlé se baseou em preços mais altos para impulsionar as vendas durante o período de inflação mais rápida decorrente da pandemia, o que levou consumidores a trocar seus produtos por itens de marca mais baratos. Desde então, tem enfrentado dificuldade para atraí-los de volta.
Diretoria mais enxuta
“Para um ‘superpetroleiro’ como a Nestlé, a perda em apenas alguns meses é enorme”, disse o analista da Vontobel Jean-Philippe Bertschy em uma nota a clientes.
Na quinta-feira, Freixe anunciou uma série de mudanças organizacionais, incluindo uma diretoria executiva mais enxuta e mais jovem e menos zonas geográficas para acelerar a tomada de decisões.
Como parte da reformulação, os executivos que lideram a iniciativa de usar IA (Inteligência Artificial) para gerenciar seus dados da “fazenda ao garfo”, bem como a área de sustentabilidade - Antonia Wanner -, se reportarão diretamente ao CEO, sem fazer parte do conselho executivo.
Philipp Navratil, que lidera a Nespresso, vai se juntar ao comitê executivo e se reportar diretamente ao CEO.
A Zona para América Latina vai ser unificada com a Zona para América do Norte para formar a Zona Américas, sob liderança do americano Steve Presley, que se mudará para a sede global em Vevey, na Suíça. Ele atualmente comanda as operações na América do Norte.
“Uma estrutura mais enxuta da diretoria executiva e a estreita colaboração da equipe de liderança na sede aumentarão a simplicidade, acelerarão a tomada de decisões e fortalecerão o impulso por trás das iniciativas globais”, disse Freixe em comunicado.
“Continuaremos a aproveitar as forças dos nossos diretores de mercado para garantir uma execução consistente em cada mercado da Nestlé”, completou.
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"Esta é claramente uma atualização muito desafiadora da maior empresa de produtos básicos de consumo da Europa", disseram os analistas da Bernstein em uma nota, acrescentando que não está imediatamente claro como a reformulação organizacional expandirá a participação no mercado ou acelerará o desempenho.
Impacto de juros em LatAm
O crescimento na América do Norte foi o mais fraco entre as principais regiões nos primeiros nove meses do ano, com as vendas em contração de 0,3%.
Enquanto isso, as altas taxas de juros na América Latina significam que as lojas têm reduzido o tamanho dos estoques, disse a diretora financeira (CGO) Anna Manz em uma call com jornalistas.
A Nestlé também reduziu suas metas para o ano inteiro em relação ao lucro básico por ação e à lucratividade. Espera-se agora que a margem de lucro operacional comercial subjacente fique em torno de 17%, em vez de uma modesta melhora em relação aos 17,3% do ano passado.
A empresa não ajustou suas metas para 2025 de crescimento orgânico de um dígito médio e uma margem de lucro de pelo menos 17,5%. Espera-se que a perspectiva seja abordada em um evento para investidores em 19 de novembro.
Ainda assim, Freixe disse que o portfólio de produtos está posicionado para crescer à frente do setor de alimentos e bebidas, liderado por alimentos para animais de estimação, nutrição e café.
- Com a colaboraçnao de Lisa Pham.
- Com informações da Bloomberg Línea.
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