Bloomberg Línea — Diante da alta do dólar nos últimos meses, a Azul (AZUL4) se prepara para enfrentar um cenário persistente de custos mais altos. O CEO da companhia, John Rodgerson, disse que embora a desvalorização cambial leve um tempo para chegar nas tarifas, isso inevitavelmente acaba acontecendo.
“Demora um pouco, mas chega lá. É óbvio que precisamos aumentar a tarifa [quando o dólar sobe], como qualquer coisa importada”, afirmou o executivo a jornalistas.
Rodgerson destacou, entretanto, que na passagem do segundo para o terceiro trimestre houve a maior desvalorização cambial do ano -- de 15% -- mas o aumento da tarifa média da Azul foi de apenas 12%.
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“Isso foi feito sem [a receita] de Porto Alegre. Para o quarto trimestre, teremos a volta dessa operação, estamos otimistas com o desemprego caindo e com a demanda fortalecida”, disse.
O CFO da companhia, Alex Malfitani, lembrou que quando a Azul começou a operar no Brasil, em 2008, o dólar estava perto de R$ 1,58. “Naquela época, ninguém acreditaria se disséssemos que teríamos Ebitda recorde com um dólar a R$ 5,80″, afirmou.
Ele acrescentou que o modelo de negócio da companhia permite lidar com a desvalorização cambial. “A tarifa acaba ficando mais alta, não tem como, com o preço do combustível e uma lista enorme de outros custos. Acabamos sendo um produto importado, quando a dólar sobe a tarifa acompanha”, disse o executivo. “Mas conseguimos chegar a um equilíbrio e melhorar a rentabilidade.”
Malfitani reforçou que a companhia conseguirá operar em meio a oscilações. “Já operamos com o preço do petróleo a US$ 200 e com o barril negativo, com o dólar a quase R$ 6 e abaixo de R$ 2. A Azul vai lidar com isso.”
A aérea reportou nesta quinta-feira (14) um lucro líquido de R$ 360,3 milhões no terceiro trimestre, revertendo prejuízo de R$ 1,27 bilhão no mesmo período do ano passado.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de julho a setembro alcançou R$ 1,65 bilhão, alta de 6% na mesma base de comparação.
A receita líquida total da aérea atingiu R$ 5,12 bilhões no terceiro trimestre, avanço de 4,3% sobre igual intervalo de 2023. No segmento de passageiros, o indicador cresceu 4%, para R$ 4,76 bilhões; já em cargas, houve aumento de 8,8%, para R$ 366,8 milhões.
Oferta e demanda
Rodgerson destacou que a demanda corporativa já voltou aos patamares pré-pandemia, e que o câmbio favorece as exportações do agronegócio e, consequentemente, a busca por viagens a negócios, principalmente no Centro-Oeste.
“Estamos vendo uma demanda corporativa muito forte, mas o Brasil tem que continuar investindo no segmento de lazer, o brasileiro tem que conhecer mais seu próprio país”, afirmou.
Em meio à forte demanda, o executivo ponderou que o crescimento da oferta de voos depende do fornecimento das fabricantes de aeronaves, que enfrentam uma crise global. “Temos um problema mundial de falta de peças e motores, as entregas da Airbus, Boeing e Embraer estão atrasadas”, alertou.
Segundo ele, a Azul deveria ter recebido 11 aviões da Embraer em 2024, mas apenas cinco foram entregues e o restante deve chegar até o final do ano.
“Todo mundo quer voar mais e diluir os custos fixos, porque a demanda está forte, mas há um problema de suprimentos mundial, que vai demorar de dois a três anos, no mínimo, para ser resolvido”, disse.
Malfitani ressalta que o crescimento projetado para a Azul em 2025 deverá vir principalmente do segmento internacional, cujas aeronaves novas já foram entregues.
A companhia divulgou em guidance nesta quinta-feira uma projeção de Ebitda de R$ 7,4 bilhões para o ano que vem. “A premissa de Ebitda para 2025 leva em conta os desafios que ainda vão acontecer, mas o risco é baixo”, afirmou.
A Azul concluiu uma reestruturação que permitirá à companhia retirar do balanço cerca de R$ 5 bilhões em dívida. “Com o dólar perto de R$ 5,80, isso aumenta a nossa dívida, temos que fazer mais esforços para reduzir a alavancagem. Mas os investidores demonstram que confiam na Azul”, disse Malfitani.
Questionado sobre negociações para comprar a Gol (GOLL4), Rodgerson disse que a companhia tem “obrigação” de estudar oportunidades de mercado, mas que este não é o momento para falar sobre o tema.
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