Bloomberg Línea — Com uma dívida bruta de R$ 800 milhões, a CVC (CVCB3) se tornou a nova aposta da WNT, gestora da Faria Lima especializada em ativos estressados (distressed assets). Fundos sob sua administração compraram o equivalente 5,01% da empresa, o que a tornou uma acionista relevante, segundo comunicado no último dia 20. Três dias depois, tais fundos reduziram a participação para 3,34%.
A empresa de viagens, uma das maiores do país, acumula prejuízos recentes de R$ 2,3 bilhões, renegociou dívida em 2023 e tem uma amortização de debêntures prevista para o fim de novembro.
Liderada pelo investidor Valério Marenga Junior, a WNT se tornou mais conhecida nos últimos anos por adquirir participações relevantes de empresas em dificuldades financeiras, até em recuperação judicial, como a Light (LIGT3), e participar ou conduzir processos de turnaround com a perspectiva de se beneficiar com a valorização posterior dos ativos.
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O portfólio inclui também o grupo de moda Vest (VSTE3), antes conhecida como Restoque, dona das marcas Le Lis, Dudalina e John John, e a Westwing, plataforma de móveis e decoração.
A asset se notabilizou também por realizar negócios em nome do Banco Master, de Daniel Vorcaro, e do experiente Nelson Tanure - mas nem todos os seus negócios são relacionados.
No comunicado ao mercado no último dia 20, a CVC informou que a WNT não tem - por ora - intenção de alterar a composição do seu controle ou a estrutura administrativa.
Procurada pela Bloomberg Línea, a gestora não revelou os nomes dos cotistas dos fundos que montaram posição na CVC nem quis fornecer informações adicionais sobre seu movimento.
“Vemos como positiva a entrada de novos investidores, visto os resultados positivos da companhia nos últimos 12 meses”, informou a CVC em nota enviada à Bloomberg Línea.
Captação de R$ 1,1 bilhão
Com origem no agronegócio de Minas Gerais e seus elos com a Faria Lima, a WNT teve um primeiro semestre de destaque entre as assets com uma captação líquida de R$ 1,081 bilhão entre janeiro e junho, segundo levantamento da Quantum.
Ficou em segundo lugar no ranking das maiores gestoras, atrás apenas da BB Asset Management (R$ 9,274 bilhões) e à frente da Kapitalo Investimentos (R$ 1,007 bilhão).
O desempenho semestral da WNT foi pontual e não recorrente, disse uma pessoa com conhecimento sobre a gestora à Bloomberg Línea.
Além da Light, da Veste e da Westwing a WNT é a principal acionista da plataforma de dados e informações financeiras para investidores TC (TRAD3), antes conhecida como TradersClub, e da fabricante de freezers e geladeiras Metalfrio (FRIO3).
A entrada da gestora como acionista relevante do maior grupo de viagens do país ocorre no momento em que as ações da CVC acumulam uma queda de 35% em 12 meses.
A companhia é avaliada hoje em R$ 1,2 bilhão na B3. O desconto nos preços das ações costuma ser um dos critérios usados pelos fundos da WNT para guiar suas potenciais investidas, além do potencial de recuperação dos preços dos ativos após executar medidas de reestruturação.
Crescimento e geração de caixa
A CVC reportou um prejuízo líquido de R$ 22,2 milhões no segundo trimestre, de acordo com resultado divulgado no início do mês - e de R$ 15 milhões no prejuízo ajustado, segundo cálculos de analistas de equity research do Itaú BBA.
A equipe do Itaú BBA, por outro lado, ressaltou uma evolução no desempenho operacional, como o aumento de 9% nas receitas (R$ 294 milhões) em 12 meses e de 1,6 ponto percentual, para 9,4%, no take rate, o percentual cobrado por cada transação executada.
No relatório, o analista Victor Rogatis Trevisan avaliou que o indicador de reservas de viagem confirmadas ainda é considerado fraco, mas previu uma retomada do crescimento com a melhora gradual da operação da CVC na Argentina, onde opera por meio das marcas Almundo, Avantrip, Biblos, Quiero Viajes e Olá, além de inaugurações de lojas no Brasil. Ele esperava um prejuízo maior (R$ 38 milhões) do que o reportado no segundo trimestre.
As receitas líquidas cresceram 9,2% na base anual no segundo trimestre, para R$ 294 milhões.
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O caixa da CVC caiu de R$ 646 milhões para R$ 244 milhões em 12 meses, mas, no segundo trimestre, houve geração de caixa de R$ 35 milhões, revertendo uma sequência de dados negativos nessa métrica.
A dívida bruta estava em R$ 799 milhões, abaixo dos R$ 892 milhões um ano antes. A dívida líquida somou R$ 555 milhões, acima dos R$ 246 milhões na mesma comparação.
Em 2023, a companhia fez acordo com debenturistas para reperfilamento da dívida, com alongamento do perfil da mesma e redução do endividamento.
Os juros das debêntures reperfiladas têm de ser pagos de forma semestral, sendo que o primeiro pagamento foi feito em maio, com o fim da carência prevista após a renegociação. As próximas amortizações estão acordadas para novembro (10% do total) deste ano, 2025 (45%) e 2026 (45%).
Foram negociados novos covenants com garantias vinculadas aos recebíveis da companhia. Entre eles, a limitação de capex de R$ 125 milhões ao ano e um nível de alavancagem igual ou menor a 3,5x, apurado trimestralmente até dezembro. A companhia disse, no último balanço, que tem cumprido os covenants e que o endividamento está sob controle.
“A companhia vem constantemente adotando medidas, como revisão de sua política de preços, com melhora de sua lucratividade (take rate), e redução do ciclo financeiro, com prazos de pagamentos médios mais curtos e parcerias com instituições financeiras para oferta de crédito direto aos clientes”, disse no balanço.
Hoje uma das principais concorrentes da CVC é a BeFly, que surgiu após o grupo mineiro Belvitur comprar a Flytour em 2021, em um negócio que teve o Banco Master como advisor para o plano de negócios.
A holding liderada pelo empresário Marcelo Cohen reúne empresas como a Belvitur, Flytour, Queensberry, Vai Voando. A CVC também enfrenta rivais de maior porte como a argentina Despegar, conhecida no país como Decolar, além de agências de viagem online e players menores, regionais.
Mudanças no board
Também houve mudanças recentes no conselho de administração da CVC.
No início do mês, foi formalizada a renúncia de Felipe Gomes, que continua como CFO. Para seu lugar, foi eleito como membro independente Felipe Pontes Gondim, sócio da Atlas One Investimentos, que no passado atuou como analista na Gávea Investimentos.
O board, composto por cinco conselheiros, é presidido por Mateus Bandeira desde agosto do ano passado. Ele atua como membro do conselho de outras companhias como Vibra Energia (VBBR3), Oi (OIBR3) e Marcopolo (POMO4). A WNT não tem cadeira no conselho.
Em maio do ano passado, a CVC trocou de CEO.
Saiu Leonel Andrade, que comandou o processo de reestruturação das debêntures depois que a companhia atravessou a crise da pandemia da covid, que causou grandes perdas ao setor de turismo no Brasil e no mundo devido às restrições de circulação de pessoas. Ele foi substituído por Fabio Godinho, que foi CEO da companhia aérea Webjet antes da venda para a Gol.
A Webjet era um dos investimentos do empresário Guilherme Paulus, fundador da operadora de turismo, que voltou à CVC em junho do ano passado depois que o seu fundo GJP se comprometeu com um aporte de R$ 75 milhões, conforme divulgado na época. Ele é hoje vice-presidente da companhia.
O GJP detém hoje o equivalente a 13,22% da CVC, seguido pela Absolute Gestão de Investimentos (7,81%), de Fabiano Rios, e pelo Opportunity (7,40%).
- Matéria atualizada às 10h de 26 de agosto com a informação da nova participação acionária de fundos da WNT no capital da CVC.
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