Bloomberg Línea — Com uma estratégia agressiva, o Mercado Pago, fintech do Mercado Livre (MELI), quer acelerar o crescimento entre os bancos digitais, o que significa desafiar o Nubank, seu principal rival no segmento. A meta? Conquistar a liderança na América Latina.
Em sua mais nova ofensiva, o Mercado Pago dobrou a aposta no rendimento de sua conta digital e lançou um novo produto de reservas que irá render o equivalente a 112% do CDI, acima dos 105% do CDI oferecidos atualmente. A iniciativa se aplica a valores depositados de R$ 1.000 a R$ 10.000.
Em modelo semelhante às “caixinhas” do Nubank (NU), o “cofrinho” do Mercado Pago teve sua reformulação anunciada nesta terça-feira (22) pela cantora Anitta, nova embaixadora da marca no Brasil, em evento no Mercado Pago Hall, no novo Estádio do Pacaembu, em São Paulo.
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A cantora, empresária e celebridade global foi parceira do banco fundado por David Vélez e Cristina Junqueira - chegou a integrar o conselho de administração até 2022 e foi embaixadora global da marca - e agora estrela uma campanha de marketing com provocações à antiga casa.
“Meu relacionamento com meu banco digital não estava dando certo. Quando as coisas estão assim, é melhor mudar, né?”, diz Anitta na campanha recém-lançada. “Vai ficar aí roxo de vontade? Vem com a patroa”, completa a cantora em referência às cores do Nubank.
O Mercado Pago tem hoje 61 milhões de usuários na América Latina, distribuídos em oito países: Brasil (seu maior mercado), Argentina, Chile, Colômbia, México, Peru, Uruguai e Venezuela.
O Nubank, por sua vez, tem 105 milhões de clientes entre Brasil, México e Colômbia – 100 milhões deles estão em território brasileiro, país de fundação da fintech e seu principal mercado.
Provocação à parte, o crescimento acelerado de 34% da base de usuários no último ano não vem de concorrentes digitais como o Nubank, mas, sim, de grandes bancos de varejo.
“Nós estamos crescendo mais rápido que o resto dos bancos digitais da região e estamos vendo, principalmente, usuários que migram de bancos tradicionais para os digitais”, afirmou Osvaldo Gimenez, presidente global do Mercado Pago, em conversa com jornalistas nesta terça.
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“Nossa missão é ser o maior banco digital da América Latina e temos crescido muito [nas geografias] onde temos atuação. Em algumas delas já somos líderes no segmento, como é o caso da Argentina”, reforçou o executivo.
O Mercado Pago nasceu em 2003 para ser um meio de pagamento para o Mercado Livre, que se tornou a maior plataforma de e-commerce da América Latina.
Mas ganhou tanta “musculatura” e cresceu tanto que hoje é descrito pela “empresa-mãe” como um banco completo, com uma oferta que vai de cartões de crédito e débito a investimentos, empréstimos e seguros. Ainda assim, os principais executivos enxergam muito espaço para crescer.
André Chaves, líder para Mercado Pago no Brasil, destacou o fato de que o banco digital ainda possui uma fatia de mercado que classificou como pequena em suas principais áreas de atuação.
“Estamos falando de [um percentual de] um dígito em alguns produtos, e a ambição é ser líder em várias dessas verticais, ao menos entre os bancos digitais”, disse.
Parte desse crescimento deve vir com o investimento de R$ 34 milhões que o Mercado Livre anunciou para o Brasil em 2025 – o seu maior da história. A empresa não detalha quanto do investimento deve ser destinado ao Mercado Pago, mas indica que uma “grande parte” desse valor será investido na fintech e que o montante já contempla, por exemplo, a parceria com Anitta, cujo valor não foi divulgado.
A expectativa é que o investimento seja alocado para acelerar os planos de expansão do Mercado Pago, que já responde por 38,6% do faturamento do grupo. “A ambição é multiplicar o negócio várias vezes”, afirmou Chaves, sem indicar um horizonte de tempo para a conquista do objetivo.
O Mercado Pago também mudou sua marca do azul para o amarelo, em ação que busca ressaltar as sinergias com o Mercado Livre. Em seu último resultado, o grupo superou em muito as estimativas dos analistas e registrou um lucro líquido de US$ 639 milhões, contra uma expectativa de US$ 406 milhões, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
O lucro anual do Mercado Livre saltou para US$ 1,9 bilhão em 2024, com US$ 21 bilhões de receita, o que representou um aumento de 38% na comparação anual.
O Brasil representou sozinho 54,9% da receita total do ano. Dos R$ 61,4 bilhões de receita provenientes do país, R$ 23,7 bilhões são referentes ao Mercado Pago. No país, os ativos sob gestão cresceram 111% no último ano e o gasto de cartão de crédito registrou um aumento de 138%.
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