Com agro no radar, BB revisa projeção de provisões com crédito pela segunda vez

Novo guidance aponta provisão entre R$ 34 bi e R$ 37 bi em 2024, versus intervalo anterior de R$ 31 bi a R$ 34 bi. Inadimplência acima de 90 dias para o crédito agro voltou a subir, e classificação de risco caiu

Agência do Banco do Brasil em São Paulo
14 de Novembro, 2024 | 07:50 AM

Bloomberg Línea — O Banco do Brasil (BBAS3) elevou sua projeção (guidance) de despesas com crédito duvidoso pelo segundo trimestre consecutivo. A instituição bancária espera agora fechar o ano com PCLD (Provisão para Créditos de Liquidação Duvidosa) no intervalo entre R$ 34 bilhões e R$ 37 bilhões.

Em agosto, quando anunciou sua primeira revisão do guidance, o banco apontava de R$ 31 bilhões a R$ 34 bilhões. No início do ano, o intervalo previsto era de R$ 27 bilhões a R$ 30 bilhões.

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O indicador corresponde às despesas relacionadas com o risco de crédito, menos os valores recuperados de perdas, além de descontos concedidos e perdas por imparidade. E impacta diretamente o resultado. No acumulado de nove meses, a PCLD Ampliada apontou despesas de R$ 26,4 bilhões.

Em agosto, executivos do banco disseram a jornalistas e analistas que a inadimplência no segmento do agronegócio, um dos fatores que explicavam a primeira revisão do guidance, estava sob controle e que deveria ceder com a liberação de crédito para financiar a nova safra.

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O setor atravessa um momento mais desafiador com a queda global nos preços das principais culturas, como soja e milho, além de eventos climáticos extremos que afetaram a produção na última safra, como as chuvas históricas que atingiram o Rio Grande do Sul em maio.

A inadimplência de mais de 90 dias no crédito para o agronegócio subiu de 0,71% da carteira em setembro de 2023 e de 1,32% em junho deste ano para 1,97% ao fim do terceiro trimestre; nas mesmas bases de comparação, a cobertura passou de 214,5% e 198%, respectivamente, para 165,3%

Sob a ótica de qualidade do crédito, o saldo com classificação AA, que dispensa provisões, equivalia a 78,0% do total da carteira agro em setembro de 2023; no terceiro trimestre deste ano, passou para 65,1%.

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A nova revisão do guidance veio junto com a divulgação do resultado do terceiro trimestre, que apontou um lucro líquido ajustado de R$ 9,5 bilhões no período, praticamente estável (+0,1%) em relação ao segundo trimestre e um crescimento de 8,3% em um ano.

A rentabilidade medida pelo ROAE (retorno sobre o patrimônio líquido) foi de 21,1% no terceiro trimestre, abaixo do reportado no segundo (21,6%) e em igual período do ano passado (21,3%).

“Alcançamos o lucro líquido de R$ 24 bilhões nos nove primeiros meses do ano, reflexo do bom desempenho no crédito, nas captações, em serviços, em negócios do conglomerado e do foco no controle de custos. A nossa carteira de crédito classificada superou R$ 1 trilhão, com crescimento de 11,1% em relação a setembro de 2023″, destacou o banco no relatório sobre o resultado.

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A carteira de crédito para pessoas físicas cresceu 7,5% em nove meses. Na carteira PF, o destaque do banco foram as operações de crédito consignado, que alcançaram R$ 137,2 bilhões em nove meses.

Já a carteira PJ, sem empresas do agro, cresceu 10,4%, com destaque para o saldo com clientes do segmento de grande empresas, que avançou para R$ 132,3 bilhões.

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Crédito para o agronegócio

As operações de crédito no agronegócio, com produtores rurais de pequeno, médio e grande porte e com as empresas que atuam no segmento, apresentaram crescimento de 12,2% no mesmo período.

No agronegócio, houve um desempenho positivo da carteira ampliada (13,7% no ano) no período. No Plano Safra 2024/2025, o BB desembolsou R$ 63,4 bilhões.

Além disso, houve desembolso de R$ 11,0 bilhões na cadeia de valor do agro, totalizando R$ 74,4 bilhões. Foram mais de 200 mil operações contratadas no período em mais de 4.800 municípios, das quais 69,8% destinadas à agricultura familiar (Pronaf) e a médios produtores (Pronamp).

Também foi revisado o guidance para o aumento de despesas administrativas, do intervalo de 6% a 10% para 5% a 7%, o que sinaliza maior controle dos gastos. No acumulado do ano, foi observado 4,9%.

Inadimplência

Entre pessoas físicas, a inadimplência com mais de 90 dias de atraso atingiu 5,03%, em linha com setembro do ano passado. Para PJ, houve piora da inadimplência, que chegou a 3,58%, acima dos dados ao fim de junho (3,38%) e de setembro do ano passado (3,04%).

O BB divulgou ainda que aprovou a distribuição de R$ 2,759 bilhões a título de remuneração aos acionistas sob a forma de JCP (Juros sobre Capital Próprio), relativo ao terceiro trimestre.

O valor do provento foi fixado em R$ 0,48330421704 e será pago no próximo dia 6 de dezembro, tendo como base a posição acionária de 25 de novembro.

As ações do banco acumulam desvalorização de 6% desde o início do ano.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.