China suspende aprovação de novas usinas siderúrgicas diante de crise do setor

Sistema que exige eliminação de capacidade existente para liberação de novos projetos será substituído por novo programa a ser desenvolvido, disse o governo; país tem excesso de produção

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Bloomberg — A China suspendeu abruptamente seu sistema de aprovação de novas usinas siderúrgicas, à medida que o governo reage a uma profunda queda na demanda que “esmagou” os lucros do setor e alimentou o maior aumento nas exportações em quase uma década.

Durante anos, Pequim exigiu a eliminação da capacidade existente como condição para a construção de novas usinas.

Essas regras não serão mais aplicadas a partir desta sexta-feira (23) e o governo desenvolverá um programa alternativo, informou o Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação em um comunicado.

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Nos últimos meses, tem havido crescentes pedidos de ação por parte das autoridades chinesas, uma vez que os preços do aço despencaram diante de um excesso de produção cada vez maior.

A demanda caiu mais de 10% desde 2020, e muitos analistas dizem que o setor precisará encolher para se adequar a uma economia que se torna menos dependente da construção com uso intensivo de aço.

As exportações chinesas de aço dispararam cerca de 20% neste ano e atingiram o nível mais alto desde 2016, um sinal de que as usinas estão lutando para encontrar mercados externos - o Brasil é um deles - para cerca de 1 bilhão de toneladas por ano de produção.

“Nossa opinião é que essa medida não seria suficiente para eliminar significativamente o excesso de capacidade”, disseram em uma nota analistas do Citigroup, incluindo Jack Shang. “Acreditamos que o enfraquecimento da demanda local exige medidas mais drásticas (controle agressivo da produção etc.), juntamente com uma forte fiscalização do governo.”

O presidente do conselho do China Baowu Steel Group Corp., o maior produtor mundial, Hu Wangming, alertou na semana passada que o setor enfrentava uma situação pior do que as crises que sofreu em 2008 e 2015. Seus pares globais - incluindo a ArcelorMittal - se queixaram do impacto do aumento das exportações chinesas, bem como siderúrgicas brasileiras com alcance global, como a Gerdau (GGBR4).

Novas usinas já aprovadas

A reação inicial do mercado ao último anúncio foi relativamente discreta, com os futuros do aço subindo ligeiramente em Xangai. Uma questão importante é que muitas novas usinas já foram aprovadas e poderão entrar no mercado de qualquer forma nos próximos dois anos. O Citigroup estima que mais de 80 milhões de toneladas de capacidade aprovada ainda não estão em operação.

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“A relação entre oferta e demanda no setor siderúrgico enfrenta novos desafios”, disse o ministério no comunicado. “Ainda há problemas como a implementação inadequada de políticas, supervisão e mecanismos imperfeitos e incompatibilidade com a situação e as necessidades de desenvolvimento do setor.”

Os preços do minério de ferro caíram à medida que a delicada situação enfrentada pelas siderúrgicas chinesas se tornou mais evidente nas últimas semanas - caíram cerca de 10% neste trimestre e atingiram o menor valor desde 2022 na semana passada. Os contratos futuros em Cingapura caíam 1,1% nesta sexta, para US$ 96,25 a tonelada perto das 14h no horário local, reduzindo um ganho semanal.

Cerco ao aumento de capacidade

Pequim introduziu pela primeira vez as chamadas “trocas de capacidade” para indústrias pesadas, incluindo a siderúrgica, em meados da década passada, quando o governo começou a combater a expansão desenfreada.

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De acordo com as regras mais recentes, introduzidas há três anos, cada tonelada de capacidade siderúrgica anual adicionada em áreas ambientalmente sensíveis deveria ser compensada pelo fechamento de 1,5 tonelada da capacidade existente, ou por 1,25 tonelada em todas as outras áreas.

Mas havia exceções significativas, em grande parte destinadas a incentivar as fábricas de “fornos elétricos a arco” que dependem de sucata, em vez dos altos-fornos a carvão que dominam o setor na China.

“O programa de troca de capacidade, na verdade, levou ao crescimento, já que as usinas muitas vezes optavam por demolir fábricas obsoletas em troca de outras maiores”, disse He Jianhui, analista da SDIC Essence Futures.

“Agora que toda a demanda do setor está claramente em declínio, o excesso de capacidade se torna uma questão cada vez mais séria, e esse documento do ministério envia um sinal de controle.”

O ministério disse que aceleraria a pesquisa de uma nova política de troca de capacidade. As autoridades locais que anunciarem quaisquer novos planos de substituição serão consideradas como tendo adicionado capacidade ilegalmente, acrescentou.

- Com a colaboração de Winnie Zhu, Jessica Zhou e James Mayger.

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