Bloomberg — A China começou a estudar se aumentará as tarifas sobre veículos europeus movidos a combustão de grande porte e se começará a cobrar impostos sobre o brandy importado do continente.
O governo de Pequim investiga a possibilidade de aumentar as tarifas sobre os veículos europeus com maior motorização e começará a cobrar taxas sobre o brandy, o que pode “escalar” a disputa comercial depois que a União Europeia decidiu aprovar tarifas sobre os veículos elétricos chineses.
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O Ministério do Comércio passou essa informação em comunicado nesta terça-feira (8), pouco depois de anunciar que os importadores de brandy - uma categoria mais ampla que inclui o conhaque - da UE terão que pagar um depósito de até 39% a partir de sexta-feira (11). As ações de empresas europeias do setor caíram.
A ação contra os exportadores europeus de carros e brandy ocorre depois que a UE decidiu, na semana passada, aprovar tarifas de até 45% sobre as importações de veículos elétricos chineses por cinco anos. As negociações entre as duas partes continuam, e os anúncios chineses podem representar uma tentativa de Pequim de pressionar Bruxelas a encontrar uma alternativa para as tarifas.
As tensões comerciais prejudicaram os laços entre a China e a UE nos últimos anos.
Ambos os lados tentariam evitar uma guerra comercial, especialmente com a proximidade das eleições nos Estados Unidos, que poderiam trazer mais incertezas em todo o mundo.
A perspectiva de novas tarifas chinesas sobre carros e outros produtos prejudicaria ainda mais as empresas europeias que já lutam contra a desaceleração da maior economia da Ásia.
A UE contestará as medidas chinesas sobre o brandy na Organização Mundial do Comércio (OMC), de acordo com uma declaração da Comissão Europeia.
“Acreditamos que essas medidas são infundadas e estamos determinados a defender a indústria da UE contra o abuso dos instrumentos de defesa comercial”, disse Olaf Gill, porta-voz da Comissão, no comunicado.
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Os formuladores de políticas econômicas chineses também estão sob pressão na frente doméstica, enquanto lutam para atingir suas metas de crescimento para 2024. No mês passado, Pequim anunciou cortes nas taxas de juros e prometeu até US$ 340 bilhões em injeção de capital para apoiar o mercado de ações, mas evitou liberar mais estímulos nesta terça-feira.
As ações das montadoras europeias e das empresas de bebidas caíram, especialmente aquelas com alta exposição à China.
As ações da BMW caíram mais de 3%, enquanto as da Mercedes-Benz recuaram cerca de 2%. A destilaria francesa Remy Cointreau perdeu até 9,3% em valor, e a Pernod Ricard SA caiu 4,6%.
A Comissão Europeia deve publicar os resultados finais de sua investigação sobre veículos elétricos da China até o final deste mês - e após essa fase as tarifas entrariam em vigor. A mídia estatal chinesa e os grupos comerciais haviam sugerido que Pequim poderia aumentar as tarifas sobre as importações de automóveis em resposta às medidas da UE, e essa é a primeira confirmação oficial do ministério.
O chefe de economia da UE, Paolo Gentiloni, disse não estar preocupado com o risco de uma escalada tarifária.
“Tivemos uma investigação séria sobre os riscos de superprodução em alguns setores”, disse Gentiloni a jornalistas em Luxemburgo. “Tomamos decisões apropriadas e muito proporcionais e não creio que haja qualquer razão para [a China] reagir a essas decisões proporcionais com retaliação.”
A Alemanha e a Eslováquia, que votaram contra as tarifas, estão mais expostas caso a China imponha tarifas sobre as importações de automóveis.
O CEO da Volkswagen, Oliver Blume, disse que qualquer possível tarifa chinesa seria particularmente arriscada para a indústria automotiva alemã e que a empresa enfrentaria desvantagens significativas no mercado chinês.
Quanto ao brandy, a maior parte das importações da China vem da França, que votou a favor das tarifas sobre os carros chineses. A declaração do ministério mencionou especificamente os fabricantes europeus de bebidas alcoólicas controlados por Remy Cointreau e Pernod Ricard, entre outros.
A China anunciou uma investigação antidumping sobre o brandy europeu em janeiro deste ano, após o início da investigação da UE sobre seus subsídios para veículos elétricos. O país asiático disse em agosto que encontrou alegadas evidências de dumping por parte dos produtores europeus de bebidas alcoólicas em uma investigação preliminar, mas não cobrou tarifas na época.
O setor de brandy da China é comparativamente pequeno. O país importou quase US$ 1,8 bilhão em bebidas destiladas de vinho de uva no ano passado, sendo que mais de 99% vieram da França.
A UE criticou a investigação da China sobre o brandy e outros produtos, com o chefe de comércio europeu, Valdis Dombrovskis, dizendo ao ministro do comércio chinês, Wang Wentao, no mês passado que ela era “injustificada, baseada em alegações questionáveis e sem provas suficientes”.
Dombrovskis solicitou que a China encerrasse essas investigações e disse que a Europa "faria todo o possível para defender os interesses de suas indústrias".
-- Com a colaboração de Yujing Liu, Alberto Nardelli, Richard Bravo, Ben Sills e Jorge Valero.
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