CFO Magali Leite assume como CEO na Espaçolaser após turnaround e receita recorde

Executiva substitui Paulo Camargo e diz à Bloomberg Línea que vai manter a disciplina financeira de execução da estratégia de crescimento sem comprometer a rentabilidade

Unidade da Espaçolaser, empresa listada na B3 (Foto: Divulgação)
22 de Março, 2024 | 06:24 AM

Bloomberg Línea — A Espaçolaser (ESPA3) tem um novo comando. A CFO da maior rede de lojas de depilação do Brasil, Magali Leite, foi eleita pelo board para o cargo de CEO, então ocupado desde junho de 2022 por Paulo Camargo, que renunciou. A mudança ocorreu nesta quinta-feira (21), no dia em que a companhia anunciou uma receita bruta recorde de R$ 500,5 milhões, no quarto trimestre, acumulando vendas das lojas próprias e franquias de R$ 1,6 bilhão em 2023.

À Bloomberg Linea, a executiva disse que vai manter a disciplina financeira de execução da estratégia de crescimento sem comprometer a rentabilidade, com esforço de redução do endividamento e de expansão geográfica por meio de franquias. Das 789 lojas no país, 218 são franquias, responsáveis por 27,5% da receita.

“O Paulo Camargo tem uma carreira paralela de palestrante, vai lançar um livro e se dedicar a uma agenda de palestras como influencer no mundo dos executivos. Ele não deseja, por enquanto, ocupar uma cadeira executiva e está renunciando, e o conselho me elegeu como nova CEO. Ele vai ficar um tempo comigo em transição e garantir que o plano da companhia em andamento vai continuar sendo executado”, afirmou Leite.

A executiva é também atualmente presidente do IBEF SP (Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de São Paulo), presidente do Conselho Fiscal da Casas Bahia e vice-presidente do Conselho Fiscal da Embraer, segundo informações do site da Espaçolaser. Ela vai continuar na função de CFO interinamente.

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Magali Leite, ex-CFO e CEO da Espaçolaser

Camargo, que antes comandava a Arcos Dorados, responsável pela operação do McDonald`s no Brasil, foi responsável pelo processo de reestruturação da Espaçolaser, que chegou a reportar um prejuízo de R$ 47 milhões em 2022 com uma dívida líquida de R$ 595 milhões, levando a cortes de custos e de lojas deficitárias.

Ele entregou um lucro líquido de R$ 6,6 milhões em 2023, com uma margem líquida crescendo 5,7 pontos percentuais, com conversão de Ebitda em caixa de 92,5%. O Ebitda ajustado totalizou R$ 43,9 milhões no quarto trimestre e R$ 213 milhões no ano, o que representou uma alta de 39% em 12 meses.

A nova CEO destacou a melhora do nível de alavancagem da companhia.

A relação dívida líquida/Ebitda terminou 2023 em 2,36 vezes, ante 3,1 vezes no final de 2022. Em março, a companhia lançou nova emissão de debêntures no valor de R$ 733 milhões. Com isso, alongou o prazo da dívida e reforçou a estrutura de capital.

“O prazo médio da dívida passou de um duration de 1,5 para 3,7 anos”, disse Leite.

Com mais recursos em caixa, a empresa planeja manter sua média anual de investimento (Capex), entre R$ 30 milhões e R$ 40 milhões. O dinheiro, segundo a CEO, vai ser usado principalmente para impulsionar sua estratégia digital, em um mercado pulverizado.

Segundo a Fitch Ratings, o equacionamento das dívidas em 2024, a partir das emissões realizadas, deve prover um alívio temporário à liquidez da companhia. “O grupo necessitará acessar fontes de financiamento já em 2025 para amortizar ao menos parte dos R$ 134 milhões resultantes dos refinanciamentos atuais que vencem naquele ano”, apontou relatório da agência, citando que o perfil da dívida da Espaçolaser é caracterizado por custo médio a elevado e majoritariamente com garantias de recebíveis.

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A nova CEO destacou que a companhia vai seguir em busca do aumento da geração de caixa, de ganhos de eficiência e de produtividade de sua operação, também presente na Argentina, Colômbia, Chile e Paraguai. “Vamos fazer mais com menos, mantendo a qualidade da Espaçolaser. O compromisso é com a disciplina na execução”, resumiu.

O crescimento das vendas no critério “mesmas lojas” (SSS, same store sales) foi de 5% em 2023 e ficou dentro do esperado, segundo Leite. Ela explicou que o quarto trimestre é afetado pela sazonalidade, com impacto dos custos, mas as vendas fechadas só acabam sendo incorporadas às receitas ao longo dos períodos seguintes.

O relatório da Fitch com o rating da emissão de debêntures indicou a expectativa de que a Espaçolaser cresça no critério SSS entre 7% e 7,5% a partir deste ano, com abertura média anual em torno de 53 franquias no Brasil no período de 2024-2026; além de investimentos médios de R$ 41 milhões nesse intervalo e ausência de distribuição de dividendos nos próximos três anos e de abertura de unidades próprias no país até o final de 2024.

“Queremos chegar a ter 1.000 lojas nos próximos anos”, disse a nova CEO.

Perspectiva positiva no longo prazo

Magali Leite disse que a Espaçolaser tem mais de 4 milhões de clientes, dos quais 87% do sexo feminino.

Ela se torna mais uma mulher a comandar uma companhia negociada na B3, ao lado de CEOs como Tarciana Medeiros, do Banco do Brasil (BBAS3), Cristina Betts, do Iguatemi (IGTI11) e Jeane Tsutsui, do Fleury (FLRY3) - há ainda Livia Chanes, do Nubank (ROXO34), cujo ativo é negociado por meio de BDRs. No início do mês, a Marisa (AMAR3) trocou Andreia Menezes por Edson Garcia. A B3 tinha 443 empresas listadas em fevereiro, segundo o mais recente relatório operacional divulgado pela Bolsa.

Fundada em 2004 a partir da união de três empreendedores (dermatologista Ygor Moura, advogado Paulo Morais e ex-militar Tito Veiga Pinto), a companha estreou na B3 em 2021.

Hoje o bloco de controle reúne o grupo SMZXP, de José Carlos Semenzato, o fundo franco-americano L Catterton e dois sócios-fundadores (Moura e Morais). O L Catterton é ligado ao grupo francês de luxo LVMH, enquanto a SMZXP tem a apresentadora Xuxa Meneghel como sócia.

O Brasil é considerado o quarto maior mercado de beleza e cuidados pessoais do mundo, segundo a consultoria Euromonitor, atrás de EUA (1º), China (2º) e Japão (3º).

O segmento de depilação ainda tem baixa penetração no país em comparação com países desenvolvidos e caracterizado por elevada fragmentação, devido às baixas barreiras de entrada e à acirrada competição com outros métodos como cera e lâmina.

“As perspectivas de longo prazo para o setor são positivas, ainda que o crescente número de participantes deva manter as margens operacionais em níveis inferiores aos registrados nos últimos anos”, avaliou a Fitch.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.