Bloomberg Línea — O CEO do Santander Brasil (SANB11), Mario Leão, manteve o tom de cautela ao traçar uma perspectiva sobre o nível de risco que a filial do banco espanhol espera tomar em 2024.
A carteira de crédito pode crescer no ano que vem, mas em um ritmo menor do que o visto em 2021, último ano do período de juros baixos, afirmou o executivo em conversa com analistas na manhã desta quarta-feira (25), após a divulgação do resultado do terceiro trimestre. O executivo disse estar atento aos desafios do cenário externo e às mudanças regulatórias no setor financeiro nacional.
Leão apontou que o aumento da inadimplência vista no varejo bancário nos últimos dois anos como um assunto encerrado. As “safras antigas” de empréstimos, formadas quando o setor financeiro surfava o ciclo de taxa Selic mínima de 2% ao ano (agosto de 2000 a março de 2021), já foram renovadas e não pesam mais nos indicadores de atrasos do banco, segundo o executivo.
Evitando antecipar guidance (projeção) para a dinâmica da carteira de crédito em 2024, o executivo afirmou que o banco vai buscar crescimento, pois tem domínio do seu portfólio de perfil de clientes menos arriscado, e dos direcionamentos da estratégia adotada desde o começo de 2021, quando captou o risco da maior inadimplência no mercado.
“Não há uma discussão nos comitês executivo e de risco uma discussão de que temos de entrar mais conservadores. Não vamos buscar um crescimento mais tímido de carteira em 2024. Vamos buscar um crescimento igual ou maior”, afirmou o CEO do Santander Brasil, antes de fazer a ressalva sobre as variáveis fora do controle do mercado, como o comportamento da demanda, do cenário macroeconômico e das possíveis mudanças regulatórias na pauta do setor financeiro.
Retomada na emissão de cartões
Atualmente, há uma discussão política em Brasília sobre possíveis novas regras para os limites da taxa de juros cobrada nas linhas de crédito rotativo, a mais alta do sistema financeiro nacional.
Leão disse que participa do debate com as autoridades, a exemplo de outros CEOs do setor, e que o tom das conversas é técnico. “Até o final do ano, há esse debate, que está evoluindo. O avanço regulatório vai ser positivo.”
A expectativa de novos limites e regras para os juros cobrados pelos bancos no crédito rotativo não é avaliado como motivo de preocupação pelo CEO do Santander Brasil.
“Estamos retomando a venda de cartões de crédito, mas estamos sendo mais seletivos, pois já conhecemos mais os clientes. Não vamos emular o crescimento de 2021, não queremos fazer centenas de milhares de cartão como antes e construir a PDD [provisão para devedores duvidosos] do futuro”, afirmou Leão, em referência à crise de inadimplência dos últimos dois anos, que pressionou a lucratividade dos bancos com a obrigação de reservar mais recursos para se proteger dos calotes.
Menos crédito sem garantias
Segundo ele, a estratégia de crescimento da carteira busca ampliar a participação de crédito colateralizado (empréstimos que exigem garantias) nos segmentos de pequenas, médias e grandes empresas, além do cliente de alta renda. “Não será um crescimento linear em todas as linhas de crédito do portfólio, que está mais diversificado.”
A busca por melhorar os indicadores de rentabilidade e de eficiência também foi destacado pelo executivo na teleconferência com os analistas. O Santander Brasil deve terminar 2023 com uma rede de agências físicas 20% menor do que no final de 2021, totalizando 460 unidades encerradas em dois anos.
O banco contabilizava 2.756 lojas e pontos de atendimento no final de setembro, 131 menos do que no final de junho e 243 menos do que há um ano.
O CEO descartou adotar um ritmo maior de aberturas de unidades do Work/Café, que contam com cafeterias e disponibilidade de sinal de Wi-Fi. Esse modelo de lojas, já adotado no Chile, está em testes no Brasil, mas as localizações são definidas após estudos sobre o perfil de clientes e da região.
Já os clientes com perfil de média e alta renda vão continuar como principais alvos do Santander no Brasil, enquanto o modelo de negócios para a baixa renda não implementa reduções de custos operacionais capazes de oferecer rentabilidade melhor, segundo Leão.
As operações da financeira e da área de seguros também devem seguir com performances destacadas nos resultados futuros do banco.
Leia também
BTG diz que câmbio resiliente deve ajudar o Banco Central a cortar juros