CEO do Bradesco: o pior da inadimplência já passou e há queda no 4º tri

Octavio de Lazari Jr. aponta visão construtiva com base nos números de outubro, mas analistas ressaltam que retomada do crédito e da rentabilidade levará tempo

Octavio de Lazari Jr. vê recuperação da margem financeira (receitas de juros) e da rentabilidade após o fim da crise da inadimplência e do ciclo de aperto monetário
10 de Novembro, 2023 | 04:06 PM

Bloomberg Línea — O CEO do Bradesco (BBDC4), Octavio de Lazari Jr., considerou, nesta sexta-feira (10), como superada a crise de inadimplência responsável pelo freio na concessão de crédito e pela erosão da margem financeira e da rentabilidade desde 2021. Os atrasos no pagamento por clientes afetam os resultados dos bancos desde o começo de 2022.

Na visão do executivo, o cenário para 2024 tende a ser mais favorável ao crédito com a perspectiva de continuidade do ciclo de cortes nas taxas de juros, iniciado em agosto: já são três quedas de 0,50 ponto percentual na Selic, que passou de 13,75% para 12,25% ao ano.

“O pior ficou para trás. Atingimos o pico da inadimplência. Fechamos o mês de outubro e observamos uma melhora. Dando spoiler para vocês: vamos observar ao longo do quarto trimestre uma redução de inadimplência também”, revelou o executivo em entrevista a jornalistas para comentar o balanço do terceiro trimestre.

Entre julho e setembro, o segundo maior banco privado do país lucrou R$ 4,6 bilhões, em linha com o consenso do mercado, segundo relatório do Goldman Sachs. Já o Itaú BBA esperava um valor menor (R$ 4,3 bilhões). A rentabilidade medida pelo ROE (11,3%) foi a menor entre os bancos incumbentes no trimestre, apontou a Genial Investimentos em nota.

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Para o CEO do Bradesco, a tendência é recuperar a margem financeira (receitas de juros) com clientes em 2024 e aproveitar o novo ciclo de crédito decorrente dos novos cortes da taxa Selic com aumento no volume de concessão e na retomada de operações no mercado de capitais, como IPOs (oferta inicial de ações).

“É fato que a menor originação de crédito e o mix de menor risco continuam colocando um pouco de pressão nas margens de clientes. Acreditamos que estaremos operando no nível mais normalizado de originação no final do quarto trimestre e no início de 2024″, disse Lazari Jr.

Foco na margem e ROE

Com os índices de inadimplência sob controle, o foco de atenção de analistas é o tempo que o Bradesco levará para aumentar a margem financeira com clientes, a carteira de crédito e a rentabilidade (ROE). Antes do início da pandemia, o Bradesco reportava ROE acima de 20%, ante os 11,3% do terceiro trimestre.

“A recuperação de rentabilidade para níveis mais próximos a 20% pode demandar mais tempo do que inicialmente esperado, possivelmente até 2026″, estimou a equipe liderada por Eduardo Nishio, em relatório da Genial.

Analista do BB Investimentos, Rafael Reis apontou uma avaliação semelhante. “Apesar da melhora na inadimplência, temos evidências de que o momento desafiador do ciclo de crédito no Bradesco deve ser mais duradouro do que anteriormente antecipado, já que as receitas mostram fraqueza, assim como o volume de crédito”, escreveu.

Reis manteve recomendação “neutra” para a ação do Bradesco com preço-alvo de R$ 18,40 (20,5% acima dos R$ 15,26 do fechamento da quinta).

“Apesar de pairar no imaginário dos investidores a recuperação plena e completa do Bradesco à velha forma, incluindo um ROE na casa dos 20%, neste momento vemos poucos indícios não apenas da velocidade mas da possibilidade desse cenário, ainda que a inadimplência comece a dar sinais de melhora”, avaliou.

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Em reação ao resultado divulgado na noite de ontem (9), o papel abriu o pregão em forte queda, acima de 3%, cotado a R$ 14,77 (mínima do dia).

Por volta de 15h50, a ação do Bradesco era negociada perto de R$ 15,00, com queda de 2%.

“Ainda vemos o banco adotando uma abordagem cautelosa na concessão de empréstimos (particularmente às pequenas e médias empresas), o que dará alívio à qualidade dos ativos, mas travará a expansão das receitas”, indicou a equipe liderada por Tito Labarta, em relatório do Goldman Sachs, que manteve recomendação neutra para a ação com preço-alvo de R$ 15.

Acordo com Americanas neste ano

O CEO do banco reconheceu o desafio de reduzir a inadimplência no segmento de PME (Pequenas e Médias Empresas), mas antecipou que já observa uma melhora dos atrasos nessa categoria de clientes no quarto trimestre.

Lazari Jr. reforçou que o Bradesco tem buscado captar mais clientes de alta renda com iniciativas como abertura de contas internacionais e emissão de cartões aspiracionais, como o Centurion (Amex Black), da American Express.

Quanto às negociações com a Americanas (AMER3), que deve mais de R$ 5 bilhões ao Bradesco, o executivo disse esperar que um acordo seja assinado até o final do ano, antes do recesso do Judiciário e após a divulgação do balanço de 2022 pela varejista, aguardado para a próxima segunda-feira (13).

“O processo está caminhando bem. Os acionistas de referência [os bilionários Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Beto Sicupira e Marcel Telles] aumentaram o valor do aporte para R$ 12 bilhões. Estamos trabalhando no draft [rascunho] do plano de recuperação judicial”, disse Lazari Jr.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.