CEO da Votorantim diz que a barra ‘está mais alta’ para realizar novos investimentos

Em entrevista à Bloomberg News, João Schmidt afirma que o grupo da família Ermírio de Moraes tem adotado postura cautelosa ante juros elevados e tarifas de Trump

Votorantim Cimentos
Por Mariana Durão
31 de Março, 2025 | 04:13 PM

Bloomberg — A Votorantim, conglomerado de propriedade de uma das famílias mais ricas do Brasil, está restringindo seus critérios para novos investimentos em razão do aumento dos juros e da mudança econômica global que está ocorrendo sob o comando do presidente dos EUA, Donald Trump.

Os principais executivos da Votorantim disseram em uma entrevista à Bloomberg News que a holding, que tem três subsidiárias no negócio de metais, estaria adotando uma abordagem mais cautelosa para gastar em projetos além daqueles que já estão em seu pipeline.

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“Para as novas decisões a barra de retorno está mais alta dado que o custo capital está mais elevado”, disse o CEO, João Schmidt, por videochamada, citando a taxa de juros básica do Brasil - agora em 14,25% ao ano, a mais alta desde 2016 - e a incerteza criada por uma enxurrada de tarifas dos EUA.

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Com operações em 19 países, o portfólio do grupo inclui um dos principais produtores de alumínio, uma siderúrgica e a quinta maior mineradora de zinco do mundo.

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Schmidt disse que, embora seja difícil prever o impacto de longo prazo das tarifas sobre os fluxos comerciais, a empresa considera seu portfólio suficientemente equilibrado para amortecer os riscos.

A siderúrgica da Votorantim, Acerbrag SA, permanecerá focada no mercado interno da Argentina, disse Schmidt. A produtora de alumínio Cia Brasileira de Alumínio, ou CBA, poderia optar por reduzir a produção e vender mais energia ou ajustar seu mix de vendas, uma vez que fabrica desde metal primário até produtos processados.

As tarifas não devem ter muito impacto sobre a CBA porque 90% de suas vendas são domésticas e as remessas para os EUA representam entre 3% e 5% do total das exportações, conforme afirmou o CEO da unidade a investidores em fevereiro.

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No entanto, a empresa está acompanhando de perto os anúncios de Trump.

“Teremos que dar algum tempo para ver onde a política econômica assenta”, disse Schmidt.

João Schmidt, CEO do grupo Votorantim

A Votorantim, de propriedade da família Ermirio de Moraes, registrou R$ 51,8 bilhões de receita líquida em 2024, de acordo com sua última demonstração de resultados.

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Isso representa um aumento de 7% em relação ao ano anterior, principalmente devido a uma recuperação nos preços do alumínio e do zinco, combinada com um aumento nos níveis de produção.

A empresa, que não tem ações negociadas em bolsa, viu seu lucro diminuir 55% no ano passado, para R$ 830 milhões, já que o dólar mais forte pesou sobre sua dívida.

O acordo para encerrar o litígio entre sua produtora de cimento e o Cade, órgão de fiscalização antitruste do Brasil, também afetou os resultados.

Apesar do maior nível de exigência para novos projetos, a Votorantim elevar em 30% o investimento em 2025, para R$ 20 bilhões, em um portfólio geograficamente diversificado que inclui uma das maiores fabricantes de cimento do mundo, bem como negócios imobiliários, financeiros, suco de laranja e energia renovável.

A empresa tem R$ 6,7 bilhões em caixa e seu nível de endividamento é de 1,29 vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização.

Dois anos após sua estreia no mercado imobiliário dos Estados Unidos, o grupo continuará buscando oportunidades em propriedades industriais e residências chamados multifamily - - com apartamentos destinados a aluguel e um único proprietário - no país, disse o diretor financeiro Sergio Malacrida na entrevista.

A empresa imobiliária Altre Empreendimentos e Investimentos Imobiliários já se comprometeu a investir mais de R$ 1 bilhão em novos empreendimentos de Chicago a Nova York, ao mesmo tempo em que cresce como uma plataforma de crédito.

O CFO vê os fatores de longo prazo para o setor imobiliário intactos. Os investidores estão apostando que a demanda por aluguel continuará forte nos EUA, onde os possíveis compradores de imóveis enfrentam pressões financeiras que os mantêm à margem do mercado de revenda, enquanto uma enorme escassez de moradias mantém os aluguéis altos.

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