Bloomberg — Um ano depois que o CEO Oliver Blume defendeu um plano de recuperação para a Volkswagen, os investidores voltaram à “estaca zero”.
As ações da montadora alemã avançaram cerca de 2,5% nos últimos 12 meses, enquanto as de outros grandes fabricantes de automóveis europeus, como a Renault e a Stellantis, subiram mais, ambas em torno de 50% (veja gráfico abaixo).
Quando Blume se dirigiu aos acionistas na assembleia anual da empresa realizada na quarta-feira (29), ele enfatizou a paciência, dizendo que a transição da Volkswagen para a era dos veículos elétricos ocorre no momento em que o setor “passa por sua maior transformação de todos os tempos”.
Os investidores, no entanto, querem ver um progresso claro no enfrentamento da difícil transformação da empresa para a eletrificação, que incluiu uma série de lançamentos fracassados de novos modelos e o declínio da relevância da empresa na China, o maior mercado de veículos elétricos.
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E agora, com os fabricantes chineses em expansão pela Europa, a Volkswagen está sob crescente pressão para produzir um carro elétrico pelo qual mais pessoas possam pagar.
A Volkswagen “carece de um ‘carro do povo’ para o setor elétrico”, disse Janne Werning, da Union Investment, em comentários preparados antes da assembleia de quarta-feira. As ações da empresa “precisam urgentemente de impulso”.
A Volkswagen planeja lançar um veículo elétrico de 20.000 euros (cerca de US$ 21.700) em 2027 para competir com empresas como a BYD. A fabricante chinesa está instalando duas fábricas na Europa e pretende trazer seu hatchback Seagull para a região no ano que vem a um preço abaixo de 20.000 euros.
Tanto a Renault quanto a Stellantis têm procurado fazer parcerias para reduzir o custo de suas ofertas de modelos elétricos. A Stellantis planeja vender na Europa, a partir de setembro, veículos elétricos desenvolvidos em conjunto com a Leapmotor, da China.
A Renault, que coopera com a Volvo para produzir vans movidas a bateria, apresentou no ano passado um carro de passeio elétrico compacto que será vendido a partir de 2026 por menos de 20.000 euros. No ano passado, as ações da Renault subiram 57% em Paris, enquanto a Stellantis subiu cerca de 40% em Milão.
Enquanto isso, o projeto de veículos elétricos da Volkswagen com a Xpeng, da China, cujos primeiros modelos para o mercado local serão lançados em 2026, está progredindo em “enorme velocidade”, disse Blume. “Só na China, planejamos lançar mais de 40 novos modelos nos próximos três anos.”
Cargo duplo
Blume assumiu o cargo de CEO da Volkswagen em 2022, mantendo o mesmo cargo na Porsche, o que o coloca na posição incomum de liderar não apenas a empresa controladora mas também uma de suas marcas mais importantes.
Alguns investidores dizem que sua dupla função acarreta conflitos de interesse e prejudica o desempenho da empresa.
“Escolha uma empresa. Ouça o mercado de capitais. Concentre-se em uma tarefa”, disse Ingo Speich, da Deka Investment, acrescentando que o desempenho do preço das ações da empresa foi “insatisfatório” em comparação com os concorrentes europeus.
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Blume não sinalizou que está pronto para deixar um de seus cargos. Sua mensagem aos investidores é que ele estabeleceu metas ambiciosas e almeja retornos de dois dígitos.
"As metas são aumentar os lucros, trabalhar nos custos em todas as áreas e em todos os níveis da empresa e explorar fontes adicionais de receita", disse ele.
A Volkswagen está preparada para aumentar o free float (quantidade de ações em circulação na bolsa) da fabricante de caminhões Traton, disse Blume, uma medida que aumenta as chances de a unidade entrar para o índice MDAX de média capitalização.
O grupo explora ainda a venda de até 1 bilhão de euros em ações da Traton, informou a Bloomberg News no início deste mês de maio.
Embora Blume tenha embarcado em um programa de redução de custos de 10 bilhões de euros para aumentar os lucros da marca homônima da empresa, Ingo Speich, da Deka Investment, disse que os resultados foram “muito escassos”.
Os concorrentes, acrescentou ele, têm sido mais eficientes com seus investimentos e com a transformação em direção à mobilidade elétrica, levando a “mudanças drásticas nas participações de mercado”.
Além dos cortes de custos, as marcas da Volkswagen planejam introduzir mais de 30 modelos neste ano e estão reforçando as ofertas de híbridos para combater a demanda mais fraca de veículos elétricos na Europa.
“Os planos da VW são grandes, mas o fator decisivo pode ser a execução operacional, algo pelo qual a empresa não é particularmente conhecida”, disse Joel Levington, da Bloomberg Intelligence.
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