CEO da TotalEnergies diz que mundo tem que se adaptar a um clima mais quente

Para Patrick Pouyanne, cuja empresa investe US$ 5 bi por ano em transição energética, líderes políticos têm a responsabilidade de trabalhar seriamente na adaptação a essa realidade

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Bloomberg — Patrick Pouyanne, CEO da TotalEnergies, afirmou que o mundo ainda pode consumir mais de 100 milhões de barris de petróleo por dia até 2040, o que torna vital começar a se preparar e se adaptar para um clima mais quente.

A advertência do executivo francês de 60 anos, conhecido por suas opiniões contundentes, tem peso, pois, sob sua liderança, a TotalEnergies está investindo US$ 5 bilhões por ano em combustíveis de baixo carbono e energias renováveis, enquanto continua a ser um grande fornecedor de petróleo e gás.

O fato é que “levará tempo” para construir um sistema global de energia limpa que possa satisfazer as demandas de uma população em crescimento, disse Pouyanne.

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“A responsabilidade dos líderes políticos é trabalhar seriamente agora na adaptação” às temperaturas mais altas, disse o CEO em uma entrevista na sede da TotalEnergies, perto de Paris, na quarta-feira (24).

“Isso não significa que você deva desistir” das metas climáticas do Acordo de Paris, mas os formuladores de políticas públicas devem encarar a realidade, afirmou ele.

O tempo está se esgotando para manter o aumento das temperaturas globais abaixo de 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais - a meta estabelecida nas conversas entre governo em Paris em 2015.

O aquecimento já estava nesse nível em 2023, quando o planeta enfrentou o ano mais quente registrado. O consumo mundial de petróleo ultrapassou 100 milhões de barris por dia em 2023 e deve continuar aumentando neste ano e no próximo, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE).

Alcançar emissões líquidas zero até 2050 requer triplicar a capacidade de energia renovável até o final da década e mais do que dobrar os investimentos verdes para US$ 4,5 trilhões por ano globalmente até o início da década de 2030, disse a AIE no ano passado.

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“Talvez seja possível”, disse Pouyanne, mas isso requer coordenação global.

As políticas europeias atuais não apoiam os esforços de empresas como a TotalEnergies, que tem sido criticada por governos, investidores e grupos ambientais, mesmo direcionando um terço de seus gastos anuais de capital para energia limpa e combustíveis de baixo carbono, como biogás, disse Pouyanne.

Enquanto o investimento anual de US$ 5 bilhões da empresa francesa em energia limpa supera o de suas concorrentes dos Estados Unidos, os investidores europeus ainda “veem o copo meio vazio” e têm vendido parte de suas participações em empresas de petróleo, disse Pouyanne.

Os reguladores europeus estão pressionando as instituições financeiras para “avançar mais rápido do que a sociedade” na transição para emissões líquidas zero e isso tem levado os bancos da região a se tornar relutantes em financiar projetos de combustíveis fósseis por receio de violar as regras de sustentabilidade e enfrentar litígios climáticos, disse Pouyanne.

No entanto os bancos dos EUA estão dispostos a assumir essa posição, afirmou ele.

A TotalEnergies, que comemora o centenário de sua fundação neste ano, precisa continuar a produzir tanto combustíveis fósseis quanto energia limpa por muitos anos, disse Pouyanne.

A empresa deve continuar a crescer sua produção de petróleo e gás com novos projetos em locais como EUA, Catar, Iraque, Brasil e Uganda.

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Lucros fortes e pagamentos de dividendos dos combustíveis fósseis são necessários para manter os investidores satisfeitos e financiar o crescimento da energia limpa até que essa linha de negócios possa se tornar positiva em geração de fluxo de caixa em 2028, disse Pouyanne.

A TotalEnergies prevê que eletricidade, energias renováveis e combustíveis sintéticos respondam por 20% do total de vendas de energia até 2030, acima dos 8% no ano passado. Isso pode ser alcançado sem grandes aquisições caras, disse Pouyanne.

Mesmo assim, o forte balanço patrimonial da empresa a coloca em uma posição perfeita para comprar partes de projetos de desenvolvedores de parques eólicos e solares que estão enfrentando grandes aumentos nos custos de financiamento, afirmou ele.

Quando questionado sobre possíveis arrependimentos ou erros, Pouyanne, que foi colocado no comando da companhia francesa quando seu predecessor morreu em um acidente de avião quase dez anos atrás, citou a saída do grupo da Venezuela, embora tenha dito que a decisão também foi motivada por preocupações de segurança.

“Eu odeio tomar decisões fortes rapidamente porque o tempo oferece mais opções”, disse Pouyanne.

Essa consideração cuidadosa conquistou investidores durante a crise da pandemia de covid, quando, ao contrário de suas concorrentes do Reino Unido, a TotalEnergies não cortou seu dividendo.

Também gerou críticas quando Pouyanne continuou a fazer negócios na Rússia após a invasão da Ucrânia, enquanto a BP, a Shell e outras empresas foram mais rápidas em se retirar.

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