CEO da Stellantis diz que ‘não há tabu’ sobre o futuro de marcas do grupo

Carlos Tavares disse à Bloomberg Television que ‘decisões serão tomadas’ se o desempenho piorar - portfólio inclui Fiat, Peugeot, Jeep, Chrysler, Citröen, Maserati e outras

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Bloomberg — A Stellantis (STLA) levantou a possibilidade de se desfazer de uma ou mais das 14 marcas da gigante automotiva caso não permaneçam lucrativas, à medida que aumenta a pressão sobre o CEO Carlos Tavares após uma queda nos lucros do primeiro semestre.

Embora todas as marcas do grupo sejam ativos importantes e lucrativos, “não há absolutamente nenhum tabu” se o desempenho delas piorar, disse Tavares nesta quinta-feira (25).

As marcas “estão aqui para ser aproveitadas”, disse o CEO em entrevista à Bloomberg Television. “Se não forem capazes de monetizar o valor que representam, então decisões serão tomadas.”

A fabricante dona das marcas Fiat, Jeep, Chrysler, Peugeot e Citröen informou um lucro líquido que quase caiu pela metade nos seis meses até junho, após uma queda nas vendas nos Estados Unidos e na Europa.

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Os resultados, que fizeram as ações recuarem até 13%, são divulgados após balanços decepcionantes nesta semana da Ford (F) e da Tesla (TSLA), que também levaram à queda de suas ações.

Mesmo a Renault, que informou a sua maior lucratividade de todos os tempos na quarta-feira (24), viu as ações caírem 10% depois que o sentimento de investidores piorou.

As montadoras enfrentam uma demanda enfraquecida, especialmente por carros elétricos, e uma concorrência intensificada na Ásia e na Europa por fabricantes chineses.

Para a Stellantis, as dificuldades foram mais agudas nos EUA, onde a empresa tem visto altos níveis de estoque, uma série de saídas de executivos e problemas de qualidade que afetaram o lucro.

Para combater a queda, a fabricante já se move para se desfazer de ativos.

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Separadamente, na quinta-feira, a companhia anunciou a venda de uma participação majoritária na unidade de robótica Comau, desencadeando uma nova rodada de críticas entre os sindicatos na Itália, e disse que conduzirá uma revisão estratégica de suas operações no Reino Unido.

Com a queda de 18% nos embarques na América do Norte, a Stellantis decidiu apostar novamente em alguns modelos que havia retirado do mercado dos EUA, incluindo o Dodge Charger, para reconquistar alguns clientes, disse a diretora financeira Natalie Knight em uma entrevista a jornalistas.

Rodada de descontos

A montadora também deve reduzir preços, especialmente ao introduzir novos produtos, acrescentou Knight. A América do Norte, onde a Stellantis pretende reduzir a produção no terceiro trimestre, “é o mercado que precisa de mais trabalho e onde estamos mais concentrados”.

“Os problemas da Stellantis continuam”, escreveu um analista do Citi, Harald Hendrikse, em uma nota a clientes. “Não vemos uma melhoria real até e a menos que a Stellantis elimine o excesso de estoque - o que, por si só, colocaria pressão” nas margens.

Entre outros problemas está a marca Maserati, cujos embarques caíram mais da metade para 6.500 unidades nos primeiros seis meses do ano.

Ecoando comentários feitos na entrevista por Tavares, Knight sugeriu que a empresa pode reconsiderar qual seria “o melhor lar” para a marca, embora por enquanto o grupo permaneça focado em impulsionar melhorias.

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Os resultados aumentam a pressão sobre Tavares, o CEO mais bem pago entre as montadoras tradicionais, para reverter uma queda na participação de mercado em vários países.

Ele já reduziu extensivamente os custos, e a previsão é de atingir uma economia de mais 500 milhões de euros no segundo semestre. Alguns analistas começaram a apontar os limites de sua estratégia.

No geral, o lucro líquido da Stellantis caiu 48% para 5,6 bilhões de euros (US$ 6,1 bilhões) no primeiro semestre, aquém da estimativa média de 7 bilhões de euros em uma pesquisa da Bloomberg com analistas.

Os resultados podem reacender as críticas de acionistas e grupos consultivos que se opuseram ao pacote de pagamento de US$ 40 milhões de Tavares no ano passado, um aumento de 60% em relação aos níveis de 2022 que elevou sua remuneração acima de seus pares na indústria.

As margens diminuíram mais significativamente na América do Norte, o principal mercado da Stellantis, em meio a uma linha de modelos desfavorável e pressão sobre os preços, disse a empresa. A companhia já havia alertado sobre a redução da lucratividade em abril.

A montadora tem tomado “ações corretivas” para abordar os problemas, disse Tavares. A Stellantis reiterou que terá um total 20 novos lançamentos de veículos neste ano. A empresa também planeja reduzir ainda mais os custos trabalhistas e espera uma redução de 25% nas despesas logísticas na segunda metade do ano.

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