Carlos Tavares renuncia como CEO da Stellantis em novo capítulo da crise automotiva

Decisão foi tomada diante de pressões com a queda das vendas e dos lucros nos EUA; empresa terá comando interino até a nomeação de um novo CEO em 2025

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Bloomberg — O CEO da Stellantis, Carlos Tavares, renunciou ao cargo neste domingo (1º de dezembro) , em novo capítulo da crise da indústria automotiva global. A sua saída é imediata, e a empresa global dona das marcas Fiat, Jeep, Chrysler, Peugeot e Citroën, entre outras, será comandada por um comitê interino liderado pelo presidente do conselho, John Elkann.

Um novo CEO será anunciado no primeiro semestre de 2025, informou a empresa, confirmando uma reportagem da Bloomberg News sobre a renúncia de Tavares divulgada mais cedo no domingo.

Tavares deixa sua posição antes do esperado devido a divergências de visão sobre o futuro da montadora com o conselho e alguns acionistas, segundo o comunicado. A empresa confirmou sua projeção financeira para o ano.

A Bloomberg News informou em outubro que Elkann havia iniciado um processo para encontrar um sucessor para Tavares. O CEO havia declarado que permaneceria no cargo até o fim de seu mandato, no início de 2026.

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Tavares é um dos vários executivos da indústria automobilística que têm enfrentado pressão à medida que as montadoras lidam com um mercado em queda, afetado pela desaceleração econômica na China, pela demanda enfraquecida por veículos elétricos na Europa e pela ameaça de tarifas enquanto Donald Trump se prepara para voltar à Casa Branca. O diretor financeiro da Nissan Motor, Stephen Ma, também está prestes a renunciar, segundo pessoas próximas ao assunto.

Conhecido por sua habilidade em cortar custos, Tavares tentou recuperar o controle nas últimas semanas, após contratempos que levaram a montadora a reduzir as expectativas de lucro e fluxo de caixa para o ano em setembro. Embora rivais europeias, como a Volkswagen, também estejam enfrentando demanda fraca, a gravidade do alerta da Stellantis gerou preocupações entre os acionistas.

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Investidores, concessionárias e sindicatos criticaram Tavares nos últimos meses devido à queda nas vendas, a uma linha de veículos desatualizada nos EUA e a estoques excessivos, resultando no alerta de lucro em setembro.

Apesar de Tavares ter prometido correções e tenha substituído seu chefe financeiro e outros executivos, a participação de mercado continuou a cair nos principais países, incluindo a França, alimentando preocupações sobre as perspectivas de longo prazo da montadora.

As ações da Stellantis caíram 38% nos últimos 12 meses.

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Histórico de sucesso

Após ascender nas fileiras da Renault SA sob o comando de Carlos Ghosn, conhecido por cortar custos, Tavares, de 66 anos, impressionou investidores por sua capacidade de reverter situações difíceis em montadoras nas quais outros fracassaram.

No início de sua gestão como CEO da Stellantis, ele estava no caminho para repetir esse sucesso, reduzindo o número de plataformas de veículos e eliminando postos de trabalho.

No entanto, as tensões aumentaram nos últimos meses, com sindicatos alertando que o foco nos cortes de custos estava gerando problemas de qualidade e atrasos no lançamento de novos modelos-chave. Nos EUA, concessionárias acusaram Tavares de prejudicar marcas como Jeep, Dodge, Ram e Chrysler.

-- Esta reportagem foi atualizada às 17h40 para incluir informações da nota oficial confirmando a saída de Tavares

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