CEO da Starboard acusa Pfizer de ‘destruição de valor’ de US$ 20 bilhões

Jeffrey Smith, que comanda a gestora ativista, reclama de falta de medicamentos ‘blockbuster’ em vendas e de gastos em aquisições que não deram retorno; empresa não quis comentar

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Bloomberg — O CEO da Starboard, Jeffrey Smith, disse que houve pelo menos US$ 20 bilhões em destruição de valor na farmacêutica Pfizer, empresa que ele repreendeu por não conseguir entregar uma linha de novos medicamentos potencialmente blockbusters em vendas.

Em seu discurso na 13D Monitor Active-Passive Investor Summit, na terça-feira (22), Smith descreveu a queda do preço das ações da Pfizer desde a pandemia de Covid como “louca” e disse que era hora de “aumentar a responsabilidade” da empresa.

Um porta-voz da Pfizer não quis comentar à Bloomberg News.

Smith ultrapassou confortavelmente o tempo de 30 minutos que lhe foi concedido no evento de Nova York, ao criticar a Pfizer por uma série de erros, incluindo o pagamento excessivo por aquisições, a falta de novos tratamentos e a geração de um retorno de apenas 15% dos gastos com pesquisa e desenvolvimento (P&D) - o que, segundo ele, ficou atrás de seus pares, como a Eli Lilly & Co. e a AbbVie.

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“Esse é o problema”, disse Smith: “a disciplina dos gastos e a obtenção do retorno adequado desses gastos.”

As ações da Pfizer perderam mais de um terço de seu valor nos últimos dois anos. Em 12 meses, a queda é da ordem de 6%, enquanto o S&P 500 avançou quase 40% no período.

Participação da Starboard

No início deste mês, veio à tona que a Starboard havia construído uma posição de US$ 1 bilhão na Pfizer e que busca estimular uma reviravolta na farmacêutica, que, segundo o investidor ativista, administrou mal seus ganhos inesperados com a pandemia, com negócios caros que não valeram a pena.

Sob o comando do CEO Albert Bourla, a Pfizer embarcou em uma série de negócios de US$ 70 bilhões nos últimos anos, com a aquisição de empresas como a Global Blood Therapeutics, fabricante de medicamentos para anemia falciforme, e a Seagen, especializada em câncer.

Mas uma queda drástica na demanda por vacinas e tratamentos para a covid uma vez superada a pandemia, e o surgimento de concorrência para alguns de seus principais medicamentos, deixou a Pfizer em uma luta para preencher esse espaço, apesar das grandes aquisições.

Smith disse que o principal medicamento do acordo com a Global Blood Therapeutics foi recolhido devido a problemas de segurança. “Isso é um sinal negativo para o due dilligence deles.”

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A Starboard observou em uma apresentação que acompanhou a conferência de terça-feira que a Pfizer parecia ter pago a mais por suas aquisições pós-2022 com base em suas próprias metas de vendas.

“Eles precisam fazer algo diferente para garantir que estão mudando a forma como alocam o capital”, disse Smith. “Não podem seguir a definição de insanidade de Einstein e continuar a fazer a mesma coisa repetidamente.”

Smith disse, no evento de Nova York, que a Pfizer também não cumpriu a promessa de seus medicamentos experimentais para perda de peso, estabelecendo inicialmente uma meta de vendas de US$ 10 bilhões para a categoria que, segundo o investidor, agora deve render menos de US$ 600 milhões até 2030.

Inicialmente, parecia que a Starboard poderia ter o apoio dos ex-executivos da Pfizer Ian Read e Frank D’Amelio em seus esforços para pressionar por mudanças, mas a dupla mudou de rumo e prometeu seu apoio à empresa e à sua atual administração.

Em uma entrevista separada com a CNBC na terça-feira, Smith disse que poderia fazer sentido para a Pfizer substituir Bourla como CEO.

Aposta na Kenvue

As ações da empresa de produtos de consumo Kenvue, por sua vez, subiram nesta semana depois que a Starboard adquiriu uma participação na fabricante do Tylenol com o objetivo de fazer mudanças para aumentar o preço das ações da empresa.

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O investidor ativista acredita que a Kenvue, que foi desmembrada da Johnson & Johnson no ano passado, tem algumas das melhores marcas de consumo do setor, mas suas ações tiveram um desempenho inferior ao do mercado mais amplo.

“Essas são marcas de classe mundial, as melhores das melhores”, disse Smith na conferência 13D. Smith disse que a Kenvue, cujas outras marcas incluem a Zyrtec e a Benadryl, estava barata em comparação com seus pares que têm uma trajetória de crescimento semelhante, embora tenha o portfólio mais forte.

"Acreditamos que a Kenvue tem o melhor portfólio de marcas em seu grupo de pares", disse ele.

Smith disse que a J&J havia tomado a decisão correta de desmembrar a Kenvue. E que a Kenvue agora precisa se concentrar mais em produtos para a pele e beleza para ajudar a estimular o crescimento.

Um representante da Kenvue não quis comentar à Bloomberg News.

- Com a colaboração de Cynthia Koons e Bill Haubert.

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