Bloomberg — Pekka Lundmark busca manter a Nokia nos trilhos depois que a empresa finlandesa perdeu um contrato de US$ 14 bilhões com a AT&T para a concorrente Ericsson, o que significa que os equipamentos de comunicação da empresa serão removidos de uma das maiores redes dos Estados Unidos.
Como CEO desde 2020, o executivo hoje com 60 anos está bem familiarizado com o fato de a empresa ainda não ser devidamente reconhecida por suas principais áreas de atuação, dado que muitas conversas envolvem a explicação de que a Nokia não fabrica mais telefones celulares depois de ter perdido sua liderança então dominante após o advento dos smartphones.
Com seu foco agora - há alguns anos - nos equipamentos que possibilitam conexões sem fio, a Nokia tem procurando diversificar os negócios, com a busca de novas áreas de crescimento, que incluem data centers e defesa. A empresa adquiriu a Infinera como parte de um impulso para negócios com Inteligência Artificial (IA).
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Lundmark conversou com a Bloomberg News sobre as lições aprendidas dentro e fora da Nokia, o possível impacto da eleição de Donald Trump nos Estados Unidos e explicou por que enxerga uma oportunidade de crescimento em um mundo cada vez mais instável.
A entrevista abaixo a seguir foi editada para fins de clareza.
O senhor começou a carreira na Nokia, entre 1990 e 2000, e depois trabalhou em várias outras empresas e setores. Como essa experiência causou efeito após o seu retorno?
É muito importante para um líder dispor de perspectivas amplas e trabalhar em diferentes áreas. Na verdade, comecei minha carreira em uma pequena empresa de software em Princeton, no estado de Nova Jersey, nos Estados Unidos. Depois, entrei para a Nokia no outono de 1990.
Depois de dez anos, decidi que queria fazer outra coisa. Trabalhei por dois anos em uma empresa de venture capital em estágio inicial, em que analisamos centenas de planos de negócios. Isso me deu uma perspectiva totalmente diferente da Nokia. Foi muito bom trabalhar com startups, porque isso realmente ajuda a se concentrar na inovação.
Qual foi a maior mudança na Nokia nos 20 anos em que o senhor esteve fora da empresa?
Para um engenheiro finlandês, acho que não há nada mais empolgante do que ter a oportunidade de dirigir a Nokia. É claro que essa era uma empresa muito diferente.
Em 2000, éramos um concorrente bastante pequeno no setor de redes. A grande diferença foi que, quando voltei, o mercado estava muito mais consolidado e a Nokia tinha sido o principal agente de consolidação. Havíamos nos tornado um dos gigantes.
O interessante é que eu ainda podia ver, quando fui a lugares como Oulu [cidade no norte da Finlândia onde a Nokia tem laboratórios de pesquisa e desenvolvimento], que as pessoas de lá ainda tinham a mesma mentalidade de engenharia de startup. Foi muito bom ver isso.
Como o fracasso da Nokia em telefones celulares afetou a maneira como a empresa é vista?
Quando viajo para diferentes partes do mundo, encontro pessoas o tempo todo que perguntam o que aconteceu com os telefones. Obviamente, eles foram vendidos para a Microsoft há dez anos. Mas quando nos expandimos para essas novas áreas de crescimento, é bom que as pessoas reconheçam o nome Nokia. Portanto, pelo menos é assim que começamos as conversas.
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O grande desafio é explicar para todos as verticais empresariais em que estamos presentes. Tentamos capturar na mente deles o fato de que todos conhecem o nome Nokia e então buscamos reposicionar a marca como líder em tecnologia B2B, como um parceiro confiável para redes críticas.
A Nokia tem avançado para além das redes móveis e fixas e entrou no segmento de data centers. Qual é o racional por trás disso?
O mercado de data centers vale dezenas de bilhões de dólares. Atualmente, definimos negócios de cerca de 20 bilhões de euros (US$ 21 bilhões) que podem ser endereçados por nós. O mercado de operadoras de rede é de aproximadamente 84 bilhões de euros, mas não cresce. Já o crescimento do data center é de cerca de 30% ao ano. É por isso que há espaço para um player como nós.
Agora que a IA e a nuvem impõem novas e enormes demandas nos data centers, incluindo segurança e confiabilidade, além de programabilidade dos data centers, vemos claramente que temos uma grande oportunidade de entrar.
Estamos no meio do processo de aquisição da Infinera, que adicionará cerca de 3.000 especialistas à Nokia. É uma empresa do Vale do Silício que fortalecerá ainda mais nossa oferta para data centers. Portanto, esse será um fator de crescimento fundamental para nós nos próximos anos.
O mundo se tornou mais volátil, especialmente na Europa, com a guerra da Rússia na Ucrânia. Qual o papel que o senhor enxerga para a Nokia no setor de defesa?
Temos um direito muito natural de atuar nesse setor. É por isso que adquirimos uma empresa americana chamada Fenix Group no ano passado, que fica na Virgínia. Eles têm rádios dedicados a comunicações militares. O que estamos fazendo agora é integrar seus sistemas com a plataforma 5G da Nokia e, juntos, podemos oferecer uma solução abrangente de comunicação sem fio para comunicações táticas.
Em muitos países, vemos uma demanda crescente por redes para segurança pública, às vezes para a polícia, às vezes para o corpo de bombeiros. Em muitos casos, acreditamos que as comunicações militares serão feitas por meio de redes dedicadas.
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Agora ajustamos o 5G para que ele se torne robusto o suficiente para fins de campo, de modo que a rede possa se mover com as tropas. O que podemos oferecer agora, juntamente com a Fenix, é na verdade uma rede totalmente flexível e autoconfigurável que pode ser transportada nas mochilas dos soldados ou montada em veículos. Você não precisa de nenhuma torre de celular.
O primeiro mandato de Trump fez com que as empresas cortassem ou limitassem as compras de fornecedores chineses, o que ajudou a Nokia. O que o senhor espera do segundo mandato?
Ainda é muito cedo para saber. Estamos ocupados com a construção de conexões com o governo Trump. Somos uma empresa, não somos políticos. Isso significa que estamos prontos para trabalhar com qualquer governo. Portanto, agora vamos trabalhar com o governo Trump.
É claro que continuamos a insistir na importância de contar com fornecedores confiáveis. Queremos expandir essa discussão para abranger não apenas as redes móveis mas as redes em geral, incluindo banda larga fixa, fibra óptica, roteamento e assim por diante.
A América do Norte continua a ser um mercado extremamente importante para nós, para todos os nossos negócios, mas especialmente quando se trata de data centers e comunicações militares, porque é são áreas em que estão os maiores investimentos.
E, por fim... o que o senhor está lendo, assistindo ou ouvindo que chamou a sua atenção?
Estou sempre ouvindo livros em áudio porque uma das minhas paixões é o esporte. E acredito que se você quiser ter um bom desempenho como CEO, precisa cuidar de sua condição física.
É por isso que tenho em minha agenda uma hora de exercícios todos os dias. Hoje de manhã, por exemplo, fiz uma hora e meia de levantamento de peso. Recentemente, li a biografia do meu treinador de levantamento de peso. Ele fala sobre esse equilíbrio entre o bem-estar físico e mental.
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