CEO da Lamborghini conta como busca novas gerações para seus carros de milhões

Em entrevista à Bloomberg Línea em visita ao Brasil, Stephan Winkelmann explica a estratégia para crescer no mercado de modelos superesportivos, incluindo híbridos

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Bloomberg Línea — Amor ou ódio. Por muito tempo, essa foi uma das percepções sobre a Lamborghini, marca italiana de carros superesportivos que tem celebridades como clientes, incluindo o jogador Neymar Jr. e o cantor Justin Bieber. Com estratégia de nicho, a montadora tem conseguido crescer em um mercado em transformação, principalmente porque as novas gerações estão repensando a posse de automóveis.

Para comprar o novo superesportivo Huracán Sterrato, lançado nesta semana no Brasil, o cliente precisa desembolsar cerca de R$ 4,4 milhões. “Diferentemente de outros negócios, como moda e acessórios, o mercado de carros de luxo tem um apelo emocional que nenhum outro tem”, afirmou o CEO global da Lamborghini, Stephan Winkelmann, em entrevista à Bloomberg Línea.

O executivo esteve no país para a inauguração oficial do novo showroom da marca, no bairro de Pinheiros, na capital paulista, doze anos após sua última visita. “O desempenho da América Latina é pequeno se comparado a outros mercados, mas não é sobre números, é sobre relacionamento com nossos clientes. É por isso que estamos aqui. É um mercado que certamente tem potencial, mas que precisa ser desenvolvido com o tempo”, disse o executivo alemão, que tem nacionalidade italiana, após o evento.

Em 2023, a montadora atingiu pela primeira vez a marca de 10.000 carros vendidos globalmente. “Estamos na melhor performance da companhia em termos de vendas, retorno e lucro”, disse Winkelmann.

No ano passado, a Lamborghini registrou aumento das vendas nas três macrorregiões em que atua. Os Estados Unidos seguem como o principal mercado para a companhia, com 3.000 carros entregues no período, seguido por Alemanha (961) e China/Hong Kong (845).

Apesar do crescimento, a marca italiana enfrenta desafios como qualquer outra montadora: atrair as novas gerações de consumidores. O primeiro deles é a mudança de hábito – principalmente da Geração Z – de privilegiar o uso em vez da posse. No novo contexto, muitos jovens repensam a compra do carro para usar mais aplicativos de transporte e carona, por exemplo.

Quando se trata de um superesportivo, cujo preço em geral atinge cifras milionárias, o desafio para as montadoras é ainda maior. Embora a idade média dos clientes da Lamborghini gire em torno de 50 anos, o CEO da marca para as Américas, Andrea Baldi, defendeu a visão de que o design e a versatilidade dos modelos têm atraído o público mais jovem.

“A Lamborghini é percebida como a mais jovem entre as marcas de superesportivos, estamos orgulhosos disso e pretendemos manter esse posto”, disse o executivo em entrevista à Bloomberg Línea. “Quando um jovem da Geração Z tem condições de comprar um carro superesportivo, a nossa marca definitivamente atrai esse consumidor”, acrescentou.

Ele relatou que houve um tempo em que a Lamborghini era mais “polarizada”: ou você ama ou odeia. “Isso está se transformando, a marca está mais palatável para as pessoas. Investimos em produtos para as gerações mais jovens, estamos crescendo porque temos obtido ‘sangue novo’”, disse.

A montadora tem feito ações diversas para atrair novos consumidores, como a maior participação em campeonatos de corridas, além de licenciamento de games, por exemplo. “Estamos fazendo o máximo que podemos para nossa comunidade”, disse Winkelmann.

A presença em mídias sociais também é uma aposta da marca. “Mesmo que a Lamborghini sirva uma pequena parte da população, os fãs ficam felizes em ver nossos carros na pista, mesmo que não possam comprar”, acrescentou.

Transição energética

Outro ponto crucial na estratégia para atrair a Geração Z (em geral, pessoas nascidas a partir do ano 2000, ou seja, com 23 anos ou mais) é o apelo de sustentabilidade.

Conhecidos por seus altos níveis de emissões de carbono, os carros superesportivos acabam perdendo a atratividade aos olhos de muitos jovens. Nesse sentido, a montadora italiana prepara a transformação de toda a sua linha para modelos híbridos, o que deve começar a acontecer ainda neste ano.

“O consumidor da Lamborghini quer um híbrido? Se você me perguntasse isso cinco anos atrás, eu diria que teríamos que nos preparar primeiro. Mas as coisas mudam rapidamente, hoje há uma sensibilidade maior em relação à sustentabilidade. Meu filho voltava da escola e perguntava por que não estávamos fazendo isso”, contou Winkelmann. “É uma mudança de mentalidade, mas, para nós, a eletrificação é crucial.”

Para Baldi, a marca deve chegar rapidamente aos híbridos. “Nossa próxima geração vai ser toda híbrida e o passo seguinte é lançar os modelos com zero emissão. Isso responde a maior parte das questões da Geração Z”, disse.

Na visão de Winkelmann, o maior desafio para modelos superesportivos 100% elétricos é a questão do desenvolvimento de produto. A montadora planeja colocar no mercado seu primeiro carro totalmente eletrificado no final da década.

“Há coisas que podemos fazer e outras em que ainda é um pouco cedo, porque demandam desenvolvimento. Por outro lado, ainda temos a oportunidade de caminhar por anos com o híbrido, que está completamente aceito e tem o melhor dos dois mundos: menos emissões e mais potência”, afirmou.

Perspectivas de mercado

Na avaliação de Winkelmann, o mercado de luxo tem se transformado. “O tamanho da economia nem sempre quer dizer que vai se gastar muito com luxo”, disse. Neste sentido, ele acredita que o Brasil e outros países da América Latina têm grande potencial.

O executivo acrescentou que o lançamento, há alguns anos, do primeiro SUV da marca, o Urus, foi um “divisor de águas” para a marca. “O Urus pode ser um carro para o dia-a-dia. O modelo se tornou muito importante para nós no mercado brasileiro”, disse.

Baldi relatou que, em média, as vendas no Brasil chegaram a 30 unidades anuais nos últimos dois anos, o dobro do volume registrado no período anterior. Para ele, apesar da importância do fator econômico para elevar as vendas, há uma parcela da população que está disposta a comprar um superesportivo.

“Achamos que o mercado brasileiro tem muito mais potencial. É claro que o fator econômico é importante, mas somos uma marca estabelecida e estamos bem posicionados para capturar o crescimento desse mercado”, disse.

Em sua visão, a expansão da Lamborghini vai acontecer no país. “Talvez não em uma escala de milhares [de unidades], mas o suficiente para multiplicar o número de hoje por 5 ou 10 em um curto espaço de tempo”, afirmou. “Vemos muitos ingredientes para isso, como o número de pessoas com recursos disponíveis e a mudança de estilo de vida das pessoas, que querem aproveitar mais.”

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