CEO da GetNinjas amplia participação a quase 25% e acirra disputa com gestora Reag

Eduardo L’Hotellier diz à Bloomberg Línea que está comprando ações para reforçar sua posição na defesa da proposta de redução de capital em assembleia no próximo dia 23

Eduardo L'Hotellier, CEO da GetNinjas
13 de Outubro, 2023 | 07:14 PM

Bloomberg Línea — A GetNinjas (NINJ3), maior plataforma de contratação de serviços do mercado brasileiro, virou palco de uma espécie de “queda-de-braço” entre seus principais acionistas. E o embate ganha novos capítulos.

De um lado está o CEO e fundador da companhia, Eduardo L’Hotellier, que era dono de 19,6% das ações e passou a 24,99%, segundo comunicado ao mercado após o pregão desta sexta-feira (13). Do outro, a gestora Reag Investimentos, comandada por João Carlos Mansur, que vem adquirindo participações relevantes nas últimas semanas e cobra mudanças na estratégia da startup, listada na B3 desde 2021. A Reag chegou a 25,004% do capital nesta semana.

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O embate se tornou público quando a empresa convocou um assembleia de acionistas para votar uma proposta de redução de capital para o próximo dia 23 de outubro, com o argumento de excesso de caixa. O plano é devolver aos acionistas R$ 220 milhões de um total de R$ 270 milhões.

A Reag, até então com 24,09% da companhia, divergiu da proposta com a defesa da visão de que a GetNinjas tem que usar o dinheiro em aquisições para alavancar o crescimento.

Em entrevista à Bloomberg Línea, o CEO da plataforma disse que, apesar do questionamento da gestora, a assembleia marcada para o próximo dia 23 está confirmada, após decisão da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) que analisou e descartou pedido da Reag para desmarcar a votação.

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Além disso, L’Hotellier afirmou que aumentou sua participação para pouco abaixo do limite de 25% a fim de defender a proposta de redução de capital. Enquanto isso, a Reag se prepara para lançar uma OPA (oferta pública de aquisição), após acabar de alcançar o patamar de 25% do capital. Pelo estatuto, isso aciona a chamada poison pill (obrigação de fazer uma oferta por 100% do capital da companhia).

“O preço mínimo da OPA seria de R$ 4,52, considerando os 30 pregões anteriores a 11 de outubro”, disse o CEO, destacando que a redução de capital proposta aos acionistas fixou a devolução de R$ 4,40 por papel.

Ou seja, caso a redução de capital seja aprovada no próximo dia 23 e a Reag realize a OPA em data posterior pelo preço mínimo de R$ 4,52, o acionista embolsaria um total de R$ 8,92 - no caso de a distribuição de capital acontecer antes da OPA. A ação fechou nesta sexta (13) cotada a R$ 4,81, com alta de 14,52% diante das expectativas com a OPA e a redução de capital.

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No IPO da GetNinjas, realizado em maio de 2021, o papel saiu negociado a R$ 20. A companhia tem atualmente um valor de mercado de R$ 213 milhões.

“Com a decisão unânime da CVM de manter a data da assembleia, a Reag não tem mais tempo para tentar novamente bloquear a votação da redução de capital. A assembleia vai sim acontecer no dia 23″, reforçou o CEO, confiante na mobilização da base de acionistas.

Mobilização de acionistas

Dados da B3 apontam que a GetNinjas possui 4.590 pessoas físicas como acionistas, além de 134 pessoas jurídicas e outros 134 que são investidores institucionais, como fundos. As ações em circulação do mercado (free float) somam 41.720.647, segundo a bolsa brasileira.

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Uma fonte a par dos bastidores da companhia, que pediu anonimato, pois a questão é privada, disse à Bloomberg Línea que o CEO está engajado em aumentar o quorum da assembleia com disparo de e-mails e mensagens pelo WhatsApp, com o auxílio de plataformas que podem simplificar a burocracia do processo, com o registro do voto em poucos minutos.

Na entrevista, o CEO reafirmou que sua posição declarada é defender a redução de capital diante dos acionistas e do conselho de administração (sete assentos) e que a Reag assume um voto de divergência.

“Questionamos se há um grupo de acionistas coligados, pois não queremos que a empresa fique nas mãos de um grupo e que os minoritários fiquem sem liquidez para vender suas posições˜, afirmou L’Hotellier.

Além da Reag, a companhia questionou, em comunicado ao mercado, as gestoras ARC Capital, de Sérgio Machado, ex-executivo do Credit Suisse, e o fundo exclusivo Artic, gerido pela WHG (Wealth High Governance), como possíveis interessadas em formar um grupo de acionistas para destituir o atual conselho, que tem mandato até 2025. Juntas, as três gestoras teriam cerca de 43% do capital.

Em correspondência enviada pela Reag à GetNinjas, divulgada nesta sexta em fato relevante, a gestora negou a existência de suposto acordo, após questionamento feito pela GetNinjas.

“A ARC e a WHG não responderam à nossa correspondência. Só a Reag fez isso, negando que atuam juntas. O que foi estranho foi a coincidência de, após o envio do nosso questionamento, a Reag aumentar sua posição de 24,09% para 25,004%, após anteriormente ter dito que já havia atingido sua posição alvo há três dias”, afirmou L’Hotellier.

Nesta sexta, após o CEO ter falado com a Bloomberg Línea, a ARC negou em comunicado que esteja atuando em conjunto nem que represente algum outro acionista da GetNinjas.

O executivo acrescentou que o movimento foi feito pelo fundo exclusivo Arctic, gerido pela ARC. A Reag e a Arc Capital não responderam imediatamente ao pedido de comentários da Bloomberg Línea. A WHG disse que não comentaria o assunto.

Posição da Reag Investimentos

A Reag contestou o cenário apontado pelo CEO da GetNinjas e disse que a OPA será realizada antes da distribuição de capital, caso seja aprovada a redução de capital pelos acionistas.

Em nota enviada à Bloomberg Línea na segunda-feira (16), a Reag disse ser contrária à distribuição de caixa da GetNinjas, alegando que a “empresa não cumpriu o plano e tem que se reinventar”.

A gestora destacou o fato de ser a maior acionista da empresa, com participação de 29,99%, e negou suposta atuação conjunta com ARC Capital e WHG.

Sobre a OPA, a Reag afirmou ver conflito de interesses no fato de o executivo da GetNinjas dizer que os minoritários terão direito a receber a devolução do capital, caso aprovada, mais o valor a ser oferecido pela Reag.

”O fato (não observado pela companhia) é que a OPA ocorre antes da eventual distribuição de capital (se aprovada). Os acionistas que aderirem à OPA vendem suas ações e não têm mais nada a receber ou direitos com a companhia. Os demais acionistas remanescentes poderão receber a eventual devolução de capital (se aprovada)”, apontou a Reag na nota à Bloomberg Línea.

- Matéria atualizada às 14h27 de 16 de outubro com o posicionamento da Reag Investimentos.

- Matéria atualizada às 20h50 de 13 de outubro com os posicionamentos da ARC Capital e da WHG.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.