CEO da GetNinjas amplia participação a quase 25% e acirra disputa com gestora Reag

Eduardo L’Hotellier diz à Bloomberg Línea que está comprando ações para reforçar sua posição na defesa da proposta de redução de capital em assembleia no próximo dia 23

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Bloomberg Línea — A GetNinjas (NINJ3), maior plataforma de contratação de serviços do mercado brasileiro, virou palco de uma espécie de “queda-de-braço” entre seus principais acionistas. E o embate ganha novos capítulos.

De um lado está o CEO e fundador da companhia, Eduardo L’Hotellier, que era dono de 19,6% das ações e passou a 24,99%, segundo comunicado ao mercado após o pregão desta sexta-feira (13). Do outro, a gestora Reag Investimentos, comandada por João Carlos Mansur, que vem adquirindo participações relevantes nas últimas semanas e cobra mudanças na estratégia da startup, listada na B3 desde 2021. A Reag chegou a 25,004% do capital nesta semana.

O embate se tornou público quando a empresa convocou um assembleia de acionistas para votar uma proposta de redução de capital para o próximo dia 23 de outubro, com o argumento de excesso de caixa. O plano é devolver aos acionistas R$ 220 milhões de um total de R$ 270 milhões.

A Reag, até então com 24,09% da companhia, divergiu da proposta com a defesa da visão de que a GetNinjas tem que usar o dinheiro em aquisições para alavancar o crescimento.

Em entrevista à Bloomberg Línea, o CEO da plataforma disse que, apesar do questionamento da gestora, a assembleia marcada para o próximo dia 23 está confirmada, após decisão da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) que analisou e descartou pedido da Reag para desmarcar a votação.

Além disso, L’Hotellier afirmou que aumentou sua participação para pouco abaixo do limite de 25% a fim de defender a proposta de redução de capital. Enquanto isso, a Reag se prepara para lançar uma OPA (oferta pública de aquisição), após acabar de alcançar o patamar de 25% do capital. Pelo estatuto, isso aciona a chamada poison pill (obrigação de fazer uma oferta por 100% do capital da companhia).

“O preço mínimo da OPA seria de R$ 4,52, considerando os 30 pregões anteriores a 11 de outubro”, disse o CEO, destacando que a redução de capital proposta aos acionistas fixou a devolução de R$ 4,40 por papel.

Ou seja, caso a redução de capital seja aprovada no próximo dia 23 e a Reag realize a OPA em data posterior pelo preço mínimo de R$ 4,52, o acionista embolsaria um total de R$ 8,92 - no caso de a distribuição de capital acontecer antes da OPA. A ação fechou nesta sexta (13) cotada a R$ 4,81, com alta de 14,52% diante das expectativas com a OPA e a redução de capital.

No IPO da GetNinjas, realizado em maio de 2021, o papel saiu negociado a R$ 20. A companhia tem atualmente um valor de mercado de R$ 213 milhões.

“Com a decisão unânime da CVM de manter a data da assembleia, a Reag não tem mais tempo para tentar novamente bloquear a votação da redução de capital. A assembleia vai sim acontecer no dia 23″, reforçou o CEO, confiante na mobilização da base de acionistas.

Mobilização de acionistas

Dados da B3 apontam que a GetNinjas possui 4.590 pessoas físicas como acionistas, além de 134 pessoas jurídicas e outros 134 que são investidores institucionais, como fundos. As ações em circulação do mercado (free float) somam 41.720.647, segundo a bolsa brasileira.

Uma fonte a par dos bastidores da companhia, que pediu anonimato, pois a questão é privada, disse à Bloomberg Línea que o CEO está engajado em aumentar o quorum da assembleia com disparo de e-mails e mensagens pelo WhatsApp, com o auxílio de plataformas que podem simplificar a burocracia do processo, com o registro do voto em poucos minutos.

Na entrevista, o CEO reafirmou que sua posição declarada é defender a redução de capital diante dos acionistas e do conselho de administração (sete assentos) e que a Reag assume um voto de divergência.

“Questionamos se há um grupo de acionistas coligados, pois não queremos que a empresa fique nas mãos de um grupo e que os minoritários fiquem sem liquidez para vender suas posições˜, afirmou L’Hotellier.

Além da Reag, a companhia questionou, em comunicado ao mercado, as gestoras ARC Capital, de Sérgio Machado, ex-executivo do Credit Suisse, e o fundo exclusivo Artic, gerido pela WHG (Wealth High Governance), como possíveis interessadas em formar um grupo de acionistas para destituir o atual conselho, que tem mandato até 2025. Juntas, as três gestoras teriam cerca de 43% do capital.

Em correspondência enviada pela Reag à GetNinjas, divulgada nesta sexta em fato relevante, a gestora negou a existência de suposto acordo, após questionamento feito pela GetNinjas.

“A ARC e a WHG não responderam à nossa correspondência. Só a Reag fez isso, negando que atuam juntas. O que foi estranho foi a coincidência de, após o envio do nosso questionamento, a Reag aumentar sua posição de 24,09% para 25,004%, após anteriormente ter dito que já havia atingido sua posição alvo há três dias”, afirmou L’Hotellier.

Nesta sexta, após o CEO ter falado com a Bloomberg Línea, a ARC negou em comunicado que esteja atuando em conjunto nem que represente algum outro acionista da GetNinjas.

O executivo acrescentou que o movimento foi feito pelo fundo exclusivo Arctic, gerido pela ARC. A Reag e a Arc Capital não responderam imediatamente ao pedido de comentários da Bloomberg Línea. A WHG disse que não comentaria o assunto.

Posição da Reag Investimentos

A Reag contestou o cenário apontado pelo CEO da GetNinjas e disse que a OPA será realizada antes da distribuição de capital, caso seja aprovada a redução de capital pelos acionistas.

Em nota enviada à Bloomberg Línea na segunda-feira (16), a Reag disse ser contrária à distribuição de caixa da GetNinjas, alegando que a “empresa não cumpriu o plano e tem que se reinventar”.

A gestora destacou o fato de ser a maior acionista da empresa, com participação de 29,99%, e negou suposta atuação conjunta com ARC Capital e WHG.

Sobre a OPA, a Reag afirmou ver conflito de interesses no fato de o executivo da GetNinjas dizer que os minoritários terão direito a receber a devolução do capital, caso aprovada, mais o valor a ser oferecido pela Reag.

”O fato (não observado pela companhia) é que a OPA ocorre antes da eventual distribuição de capital (se aprovada). Os acionistas que aderirem à OPA vendem suas ações e não têm mais nada a receber ou direitos com a companhia. Os demais acionistas remanescentes poderão receber a eventual devolução de capital (se aprovada)”, apontou a Reag na nota à Bloomberg Línea.

- Matéria atualizada às 14h27 de 16 de outubro com o posicionamento da Reag Investimentos.

- Matéria atualizada às 20h50 de 13 de outubro com os posicionamentos da ARC Capital e da WHG.

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