Bloomberg Línea — Pedro Arnt, CEO da dLocal (DLO), previu um ano de expansão e potenciais aquisições para a fintech uruguaia listada na Nasdaq, dado que ela pretende se consolidar nos mercados emergentes da África e da Ásia. As duas regiões podem responder por mais de 50% das receitas da empresa nos próximos anos. Ele também enfatizou que vê sinais positivos para a demanda na Argentina, após as reformas do governo de Javier Milei.
“Durante este ano, espero voltar a vocês com alguns anúncios de aquisições”, disse Arnt em entrevista à Bloomberg Línea no podcast La Estrategia del Día Argentina, observando que a empresa, que processa pagamentos para gigantes globais como Netflix e Spotify, já tem aquisições potenciais “bem mapeadas” no setor de pagamentos internacionais.
O executivo, que assumiu o cargo em agosto de 2023 após deixar o cargo de CFO do Mercado Livre (MELI), disse enxergar uma janela única para aquisições para fortalecer a posição da dLocal no mercado.
Atualmente, sua única concorrente importante na América Latina é a brasileira Ebanx, embora sua estratégia de M&A se concentre em empresas menores e, possivelmente, em outros mercados fora da América Latina.
“Durante o período do boom de fintechs, que terminou em 2022, havia um número muito grande de empresas de pagamentos internacionais que receberam capital inicial”, explicou ele, acrescentando: “essas empresas começam a ficar sem fundos, encontram dificuldades para competir com participantes do nosso tamanho e escala e, portanto, vão procurar o que sempre chamamos de soluções estratégicas”.
Até o momento, a única aquisição da dLocal aconteceu em 2021, quando comprou a brasileira PrimeiroPay por US$ 40 milhões, de acordo com a S&P Capital IQ.
Essa startup oferecia “soluções de pagamento eficientes e confiáveis e serviços financeiros para comerciantes que desejavam expandir seus negócios online em mercados emergentes sem a necessidade de uma entidade local”, de acordo com seu LinkedIn.
Leia mais: Nubank investe US$ 150 milhões em banco digital na África do Sul e nas Filipinas
Veja a seguir os principais pontos da entrevista de Pedro Art por tópicos:
Interesse estrangeiro pela Argentina
A processadora de pagamentos do Uruguai vem observando uma mudança no interesse de seus clientes globais no mercado argentino. “Com as mudanças mais recentes em relação às tarifas e uma maior abertura do país para a possibilidade de compras de comércio eletrônico entre fronteiras, isso gerou um pico de interesse de muitos de nossos clientes globais em olhar novamente para a Argentina”, disse Arnt.
2024 foi um ano de transição para a dLocal na Argentina, partindo de um 2023 com “três trimestres extremamente lucrativos”, de acordo com o executivo. Desde o último trimestre daquele ano, no entanto, houve uma desaceleração significativa devido à desvalorização cambial e à queda na demanda.
“Havia cada vez menos interesse de clientes globais devido à falta de clareza sobre o que aconteceria com a Argentina”, disse ele em referência ao período que antecedeu o início de governo de Milei.
Agora, Arnt disse enxergar sinais positivos para 2025. A perspectiva mostra uma melhora com a redução da diferença entre as taxas de câmbio, algo que, embora “às vezes tire um pouco da lucratividade”, fortalece a perspectiva de longo prazo para os negócios.
“Definitivamente, vemos uma evolução positiva do interesse, da curiosidade e da solicitação de soluções que vemos para a Argentina”, acrescentou o CEO. Ele observou que várias empresas globais que haviam reduzido sua presença no país consideram expandir suas operações novamente, bem como empresas que nunca haviam entrado no mercado argentino.
Em relação à investigação iniciada em 2023, durante o governo de Alberto Fernández, e vinculada a transações de repatriação de fundos no valor de US$ 400 milhões, Arnt afirmou: “a dLocal não é ré em nenhum tipo de investigação; pessoas ou empresas que usaram nosso gateway de pagamento é que são”. Ele disse que “todas essas transações foram informadas ao banco central [argentino, o BCRA]”.
A empresa cooperou ativamente com as autoridades e, de acordo com Arnt, “nunca houve qualquer reclamação do governo argentino à SEC [Securitis and Exchange Commission]”.
Leia mais: O alerta do CEO da VTEX ao e-commerce: adotem o modelo chinês ou deixem o mercado
Desafios no Brasil
No Brasil, seu principal mercado, a dLocal enfrentou uma queda trimestral de 20% no lucro bruto entre julho e setembro de 2024. Arnt atribuiu essa queda a “alguns contratos muito pontuais e a uma mudança regulatória no Brasil que forçou alguns de nossos clientes a retirar o tráfego, porque eles obtiveram uma licença regulatória que não permitia que eles processassem por meio de nossa licença”.
Mas a empresa já vê sinais de recuperação. “O que já estava em andamento, e é por isso que mostramos algum otimismo de que o que houve no Brasil não era estrutural, era uma mudança em nosso produto e em nossos contratos com eles que permitiria que, sob essas novas licenças, eles pudessem processar através de nós novamente”, explicou.
Teoria do taco de hóquei
A estratégia de crescimento da dLocal baseia-se no que Arnt descreve como uma “curva em forma de taco de hóquei” na adoção de tecnologia em mercados emergentes e de fronteira, citando um estudo da McKinsey.
“O que a McKinsey observa é que, com a queda significativa nos custos de tecnologia e a distribuição em massa que os telefones celulares permitem, essas curvas estão começando a se parecer mais com um taco de hóquei do que com uma curva em ‘S’”, explicou.
Essa teoria sustenta a expansão agressiva da dLocal na África e no Oriente Médio. “Não seria loucura pensar que, em alguns anos, mais da metade de nossos negócios se deslocará da América Latina para o resto do mundo”, projetou Arnt.
Boom no México
O México surge como um mercado estratégico, com um aumento trimestral de 45% no lucro bruto durante o terceiro trimestre de 2024, impulsionado principalmente por empresas chinesas de comércio eletrônico e serviços de compartilhamento de carona. “Continuamos vendo o México como um mercado com muito potencial”, disse Arnt.
O crescimento no México também beneficia o modelo de negócios da dLocal.
“Como agregamos o volume de vários participantes globais, em vez de cada um deles negociar individualmente com os processadores de pagamento, negociamos o volume combinado”, explicou o CEO. “E isso gera uma grande capacidade de reduzir os preços.”
Leia mais: Como o Uruguai se tornou um refúgio de bilionários da América Latina
Vantagem competitiva global
A proposta de valor da dLocal, conhecida como “uma dLocal”, permite que os clientes acessem mais de 40 países com uma única integração.
“Se você estiver selecionando a quem vai entregar sua pilha de pagamentos no Peru, a decisão não é apenas sobre quem pode lhe oferecer o serviço no país”, explicou Arnt. “Se escolher outro para o Equador, outro para a Costa Rica e outro para El Salvador, isso torna a localização de pagamentos muito ineficiente em termos de custo.”
Perspectivas para 2025
Embora as ações da dLocal permaneçam cerca de 80% abaixo de seu recorde histórico, Arnt se disse otimista. “Se conseguirmos continuar a apresentar essa consistência de resultados sem grandes notícias negativas por mais dois trimestres, estou confiante de que haverá uma reavaliação”, disse ele.
A empresa, que recentemente recebeu aprovação regulatória para operar no Reino Unido, mantém um crescimento de mais de 40% no volume total de pagamentos, e Arnt prevê uma expansão da margem.
Leia mais: Nubank acerta parceria com Oxxo e amplia alcance com 22 mil lojas no México
“Vemos uma empresa que tem um modelo financeiro com muita alavancagem operacional”, explicou ele.
“No médio prazo, as margens devem se expandir bastante e também a taxa de crescimento do nosso volume é tal que devemos ser capazes de, ano após ano, entregar mais e mais Ebitda. Isso também se traduz muito bem em uma geração de caixa cada vez maior.”
Potencial de consolidação
Embora a dLocal não esteja formalmente à venda, Arnt disse que tem que considerar potenciais ofertas. “Temos o dever fiduciário de dizer: ‘vamos ver, explique-me mais sobre quem você é, qual é a sua visão estratégica, quanto prêmio você está disposto a pagar em relação ao preço das ações no mercado hoje’”, explicou.
Mas ele disse que essas conversas “quase nunca dão em nada” e que a empresa não está à procura ativamente de um comprador. “A dLocal não está à venda, mas é um ativo muito atraente, porque o que construímos no sul global nos últimos sete ou oito anos tem um valor enorme”, completou.
Leia também
Cofundador do Ebanx vê oportunidade para investimento em startups com 50% de desconto
M&A de fintechs: Malga adquire a Drip, de Pix parcelado, para avançar em crédito
Na Visa, ser agnóstica e oferecer tecnologia ao mercado é a receita para crescer