CEO da Boeing faz alerta sobre o aumento do protecionismo dos Estados Unidos

Dave Calhoun diz que guinada isolacionista do país prejudicaria as exportações e a economia; negócios da empresa na China têm sido prejudicados pela geopolítica

Modelo do Boeing 777 em feira de aviação em Cingapura, em 2024
Por Guy Johnson - Kate Duffy
04 de Junho, 2024 | 02:16 PM

Bloomberg — O CEO da Boeing (BA) advertiu que uma guinada dos Estados Unidos em direção ao isolamento prejudicaria as exportações e a economia, manifestando-se contra a retórica protecionista no momento em que o país se prepara para realizar a eleição presidencial em novembro.

“Somos uma empresa que depende do comércio”, disse Dave Calhoun, CEO que está deixando o cargo, em uma entrevista no palco da Berlin Aviation Summit, nesta terça-feira (4). “Serei o primeiro a reconhecer que isso parece estar indo na direção errada e já há algum tempo.”

Calhoun não expressou sua preferência entre os prováveis candidatos, o atual presidente Joe Biden e o ex-presidente Donald Trump. No mês passado, Biden aumentou as tarifas de importação sobre uma série de produtos chineses, incluindo veículos movidos a bateria, enquanto Trump disse que as medidas não foram duras o suficiente.

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As compras de aeronaves podem aumentar ou diminuir com as relações econômicas, especialmente em mercados de alto crescimento como a China. A rival europeia Airbus tem procurado melhorar sua posição nesse mercado com a fabricação local, enquanto os negócios da Boeing na China têm sido prejudicados devido ao desgaste das relações entre os dois países.

Calhoun falou no momento em que a Boeing trabalha para reiniciar as entregas de aviões para a China, que foram interrompidas porque os órgãos reguladores do país examinam o projeto de um novo gravador de voz da cabine de comando para os modelos 737 Max e 787 Dreamliner. A Bloomberg informou anteriormente que a transportadora de baixo custo 9Air espera a entrega de um 737 nesta semana.

A interrupção das entregas na China prejudicou os esforços da Boeing para reduzir o estoque de aviões prontos destinados ao país asiático, que persiste desde a paralisação das vendas do 737 Max em 2019, após dois acidentes fatais.

A retomada dessas entregas ajudaria a Boeing a limitar uma perda de dinheiro enquanto reequipa suas fábricas para tratar de questões de segurança decorrentes do último acidente com o 737, depois que um painel da fuselagem de um avião se soltou em janeiro.

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‘Empresa diferente’

Calhoun disse que a Boeing é uma “empresa diferente” desde o acidente de 5 de janeiro, quando um painel da fuselagem foi ejetado de um 737 Max 9 quase novo, aterrorizando os passageiros a bordo do voo da Alaska Air.

Embora ninguém tenha se ferido gravemente, o acidente desencadeou uma onda de pressões de agências reguladores sobre a fabricante de aviões norte-americana e forçou a empresa a limitar a produção do 737, sua maior fonte de receita. Calhoun concordou em deixar o cargo no final do ano como parte de uma revisão da administração.

Calhoun disse que continuará a defender o livre comércio e expressou seu apoio a uma Otan forte. Trump criticou os membros da coalizão de defesa que reúne os EUA e países da Europa, exigindo que os aliados cumpram seus compromissos de gastos como condição de proteção.

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Há décadas, a Airbus e a Boeing discutem sobre políticas governamentais que ofereçam qualquer indício de vantagem para um lado ou para o outro, mesmo quando os dois fabricantes de aviões dominantes defendem os benefícios do livre comércio.

Calhoun disse que teme que o isolamento prejudique as economias no longo prazo. Suas preocupações ecoam aquelas levantadas por outros grandes exportadores, incluindo as montadoras alemãs, de que as políticas protecionistas vão prejudicar o mercado para as empresas que dependem da venda de seus produtos no exterior.

"O isolamento gera desencanto; o desencanto, por fim, gera rotatividade política", disse Calhoun. "É com esse mundo que me preocupo no que diz respeito ao isolamento, e não gosto de nenhum dos sinais que vejo."

-- Com a colaboração de Angela Feliciano.

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