CEO da Azul diz que consolidação do setor aéreo seria positiva para o mercado

John Rodgerson disse nesta segunda (13) que é preciso olhar para exemplos de outros países; declarações ocorrem em meio a rumores sobre uma negociação da empresa com a Gol

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Bloomberg Línea — O CEO da Azul (AZUL4), John Rodgerson, afirmou nesta segunda-feira (13) que uma consolidação do setor aéreo seria positiva para o mercado brasileiro. A declaração ocorre em meio a especulações sobre uma possível negociação entre a companhia e a concorrente Gol (GOLL4).

“Uma consolidação ajudaria a captar dinheiro, servir mais pessoas, ajudaria a economia de mercado. Isso é saudável”, afirmou Rodgerson em entrevista a jornalistas.

Ele acrescentou que, dentro desta discussão, é preciso olhar para o exemplo de outros países, como Canadá, Inglaterra e Portugal. “Nos Estados Unidos, por exemplo, houve megafusões [no setor]. Mercados saudáveis pagam mais impostos.”

O CFO Alex Malfitani ponderou, entretanto, que a empresa não vai comentar sobre uma eventual união entre a Azul e a Gol, conforme reportou a Bloomberg News, porque “não tem nada sobre a mesa”.

Leia mais: Como a Latam e a Azul podem se beneficiar da recuperação judicial da Gol

Questionado sobre a necessidade de aprovação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para uma eventual união entre as duas companhias, Rodgerson não quis comentar sobre o tema.

A Gol entrou em processo de Chapter 11 nos Estados Unidos (equivalente à recuperação judicial no Brasil) em janeiro deste ano.

Para Rodgerson , a Gol segue “forte” no Brasil. “Temos uma concorrente forte no mercado, colocando voos todos os dias”, disse.

O executivo ponderou que, hoje, o mercado brasileiro está aquecido, diferentemente do cenário em que se encontravam as aéreas em 2020, quando a Latam entrou em processo de Chapter 11 nos Estados Unidos.

“São momentos diferentes, a Latam entrou [em Chapter 11] quando ninguém estava voando. Já a Gol entrou neste ano, quando a demanda está forte e faltam aeronaves, peças e motores no mercado internacional, nesse momento está tudo muito atrasado na cadeia de aeronaves”, esclarece.

Rodgerson salientou que, independentemente do Chapter 11 da concorrente, a Azul está crescendo em seus hubs de atuação. “Não vejo a gente tirando clientes deles para a nossa malha. A sobreposição de Gol e Latam é de quase 100%, a nossa [com a Gol] é muito baixa, de quase 20%.”

No primeiro trimestre, a Azul elevou ligeiramente a sua oferta (medida em assentos disponíveis por quilômetro, ou ASK, no jargão do setor) em 2,6% na comparação com o mesmo período do ano passado.

Malfitani lembrou que a Azul saiu de um market share de “zero”, em 2008, para 30% atualmente. “Esses 30% não vieram às custas de Gol e Latam. Hoje, nós temos o menor custo unitário do setor.”

Balanço trimestral

De janeiro a março, a Azul registrou prejuízo líquido de R$ 1,11 bilhão, ante perdas de R$ 322,2 milhões um ano antes. No critério ajustado, o prejuízo no período foi de R$ 324,2 milhões, uma redução das perdas em relação a igual intervalo de 2023, quando o resultado foi negativo em R$ 727,6 milhões. Segundo a companhia, o desempenho se deve a despesas de câmbio e monetárias.

Já a receita líquida da aérea foi recorde para um primeiro trimestre, de R$ 4,67 bilhões, alta de 4,5% sobre igual período do ano passado. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) foi de R$ 1,41 bilhão, ante R$ 1,03 bilhão um ano antes.

Analistas da XP afirmaram em relatório que a Azul teve um resultado consistente no primeiro trimestre, em meio à demanda forte. “Além disso, a empresa sinaliza um desempenho operacional positivo à frente, implicitamente apoiado pela manutenção do seu guidance de Ebitda de R$ 6,5 bilhões para o ano fiscal de 2024.”

Malfitani afirmou que, neste ano, o Ebitda vai continuar crescendo e que a alavancagem deve ficar mais baixa do que no pré-pandemia. “Tivemos o luxo de não precisar [pedir] Chapter 11, saímos do choque [da pandemia] com as próprias pernas.”

Rio Grande do Sul

Rodgerson afirmou que o Rio Grande do Sul representa cerca de 10% da oferta da Azul, mas que, por ora, não há mudanças no guidance de voos da companhia para o ano em razão da tragédia no estado.

O executivo acredita que o aeroporto que serve a capital deve voltar a operar. “Se não voltar diretamente em Porto Alegre, deve voltar em Caxias ou Santa Maria. Talvez tenhamos que realocar algumas aeronaves”, disse.

Ele acrescentou que a Azul já fez 33 voos humanitários, com doações, para o estado, com auxílio do Itaú (ITUB4) para pagar o combustível. “Voo de carga é muito caro, precisamos fazer voos comerciais para ajudar mais gente.”

O executivo defendeu a abertura da Base Aérea de Canoas, na região metropolitana, para operação comercial. “Se tivermos voos comerciais em Canoas, podemos trazer alívio mais rapidamente”, destacou.