Bloomberg Línea — Após levar a concessão de 17 aeroportos em leilões nos últimos anos, a CCR (CCRO3) enxerga uma tendência de consolidação no setor, uma vez que as oportunidades em novos contratos nesse mercado hoje são limitadas, de acordo com o vice-presidente financeiro e de relações com investidores Waldo Perez.
“Em aeroportos, no Brasil, as oportunidades são bastante limitadas. Nossa decisão é limitar a exposição no setor. Não vamos adicionar novos terminais, vamos buscar a consolidação”, diz o executivo em entrevista.
A CCR detém a operação de 20 terminais aeroportuários, sendo 17 no Brasil. “Hoje, nossa estratégia é implementar os investimentos requeridos [nas concessões]”, afirma.
Perez relata que a participação de mercado das operadoras do setor é muito fragmentada no Brasil. Na visão dele, é natural que haja algum tipo de consolidação, com o passar do tempo. Ele avalia que outros participantes do mercado talvez queiram fazer a combinação de seus ativos.
Segundo a superintendente de RI da CCR, Flávia Godoy, o grupo tem um saldo de R$ 2 bilhões comprometidos em aeroportos nos próximos três a quatro anos.
Os executivos reforçaram que a companhia avalia uma “reciclagem” do portfólio. “Vamos implementar pontualmente a reciclagem de ativos, uma outra forma de levantar capital”, ressalta Perez.
A CCR encerrou o terceiro trimestre com uma alavancagem medida pela relação dívida líquida sobre o Ebitda ajustado de 2,9 vezes, ante 3 vezes no mesmo período do ano passado. De acordo com a executivo, a alavancagem permanece controlada.
Para 2024, o grupo tem R$ 4,4 bilhões em empréstimos-ponte a vencer, montante que está parcialmente refinanciado. Segundo Perez, a parte da dívida que falta ser equacionada vence em dezembro de 2024, no valor de R$ 1,2 bilhão, e é referente à concessão Rio-São Paulo.
Com esse perfil de dívida, segundo o executivo, a CCR tem condições de continuar buscando ativos. “O panorama da CCR é bastante adequado, com um perfil de dívida mais longo e linear. Temos espaço para olhar novas oportunidades, sempre de forma muito rigorosa”, diz Perez.
Godoy cita os lotes remanescentes do programa de concessões de rodovias do Paraná e o Trem Intercidades (TIC), que ligará São Paulo a Campinas, como alguns projetos que o grupo está estudando.
“Só de rodovias são R$ 120 bilhões em projetos previstos nos próximos três a quatro anos. O pipeline [do governo federal] é de continuidade”, diz a executiva.
Apesar de alegar espaço no balanço para continuar buscando oportunidades, Perez alerta para as condições de financiamentos do mercado. Segundo ele, a CCR tem a vantagem de ser um grande player de infraestrutura, o que permite acesso ao mercado de capitais e ao BNDES para financiar esses projetos. “O único ponto de atenção é que o mercado está muito volátil, com os Treasuries americanos e as questões geopolíticas globais. Quando colocamos nossas premissas de financiamentos, temos que colocar alguma ‘gordura’”, acrescenta.
Lucro da CCR no 3º trimestre
No terceiro trimestre, a CCR reportou um lucro líquido ajustado de R$ 501,6 milhões, alta de 44,8% na comparação com o mesmo intervalo de 2022. A receita líquida de julho a setembro foi de R$ 3,41 bilhões, alta de 7,6% sobre igual período do ano passado.
Já a geração de caixa medida pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) no período foi de R$ 2,1 bilhões, recorde trimestral.
Além de eficiência operacional, Godoy atribui o resultado ao desempenho nos modais que o grupo atua.
Em setembro, o tráfego consolidado da companhia em rodovias cresceu 12,8% sobre igual período de 2019, período pré-pandemia.
Em aeroportos, a demanda do grupo se manteve em linha na mesma base de comparação. Já no segmento de mobilidade urbana, a recuperação está mais lenta, afirmam os executivos. Com isso, os números ainda estão “ligeiramente” abaixo de setembro de 2019.
No acumulado de 2023, a CCR investiu R$ 4,2 bilhões, montante 133,4% acima do mesmo período do ano passado.
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