Casino, dono do Pão de Açúcar, fecha acordo e será controlado por bilionário tcheco

Acionistas atuais, incluindo o controlador Jean-Charles Naouri, terão suas participações quase totalmente diluídas; Daniel Kretinsky e parceiros vão assumir a empresa

Kretinsky fornecerá a maior parte do capital de uma injeção de 1,2 bilhão de euros para fortalecer a liquidez da empresa
Por Phil Serafino - Irene García Pérez
28 de Julho, 2023 | 08:13 AM

Bloomberg — O Casino Guichard Perrachon, dono do Grupo Pão de Açúcar (PCAR3) no Brasil, chegou a um acordo de reestruturação com os credores que resultará na perda das participações do CEO Jean-Charles Naouri na empresa francesa de supermercados altamente endividada, enquanto ele cede o controle aos investidores liderados pelo bilionário tcheco Daniel Kretinsky.

O conselho da rede varejista aprovou o acordo com Kretinsky, o parceiro Fimalac e o credor Attestor Capital para recapitalizar o negócio e reduzir a dívida, de acordo com um comunicado divulgado nesta sexta-feira (28).

Credores que possuem mais de dois terços do empréstimo a prazo da empresa também aprovaram o negócio, segundo o comunicado.

O acordo prevê que o Casino entre em um processo de reestruturação supervisionado por um tribunal até outubro, com conclusão estimada para o primeiro trimestre de 2024.

PUBLICIDADE

Os acionistas terão suas participações quase totalmente eliminadas, e a Rallye, empresa de Naouri, perderá o controle do Casino.

A Rallye afirmou na quinta-feira (27) que pode ser forçada a fechar caso o acordo de resgate seja concluído. As ações do Casino e da Rallye atingiram recordes de baixa nesta sexta-feira, caindo até 21,5% e 26,1%, respectivamente.

O GPA no acordo

No documento de apresentação do acordo, há uma menção ao GPA e à rede colombiana Éxito: “Nenhuma implementação das seguintes transações [ocorrerá] sem a aprovação prévia do consórcio [de investidores que vão assumir a empresa] [...]: a alienação de participação no GPA e/ou no Éxito (a não ser à vista com valor ao menos igual ao VWAP atual ou o preço de mercado com 5% de desconto)”. O VWAP é o preço médio da ação ponderado pelo volume de negociação.

Há um mês, o Casino informou ao mercado que pretendia vender a sua participação de 40,9% das ações ordinárias do GPA, que, por sua vez, é o controlador do colombiano Éxito. Na ocasião, no entanto, o grupo francês não apontou um prazo para que o negócio pudesse ser fechado.

O Casino tem sido afetado há anos por vendas estagnadas no altamente competitivo mercado de supermercados da França. A empresa relatou na quinta-feira um prejuízo líquido subjacente de 1,3 bilhão de euros (US$ 1,5 bilhão) no primeiro semestre do ano.

A Rallye e outras três empresas controladas por Naouri dependiam de dividendos da Casino, mas o negócio não tem conseguido pagar desde 2019. As empresas controladoras foram colocadas sob proteção contra credores naquele ano.

O acordo – que já recebeu o apoio dos credores com garantias, incluindo Davidson Kempner Capital Management e Farallon Capital Management — resultará em Kretinsky, Fimalac e Attestor como novos controladores da empresa.

PUBLICIDADE

Kretinsky fornecerá a maior parte do dinheiro de uma injeção de capital de 1,2 bilhão de euros (cerca de US$ 1,32 bilhão) para fortalecer liquidez para a empresa. Mais de 1,3 bilhão de euros de dívidas garantidas e 3,5 bilhões de euros de dívidas não garantidas serão convertidos em capital.

Plano de reestruturação

“A oferta é baseada na intenção de manter a sede do Casino em Saint-Étienne e preservar sua equipe em seu número atual, a fim de apoiar as perspectivas futuras de crescimento e os desafios do grupo”, disse o consórcio em um comunicado nesta sexta.

A intenção também é iniciar um plano de contratação para aumentar o número de funcionários nas lojas e armazéns e “rejuvenescer” a plataforma de e-commerce CDiscount, “atualmente sofrendo com a falta de investimentos nos últimos anos”.

Na avaliação de Charles Allen, analista de varejo da Bloomberg Economics, o plano de reestruturação do Casino, com 1,2 bilhão de euros em novos fundos e uma conversão de dívida para capital de 4,85 bilhões de euros (US$ 5,34 bilhões) pode resolver o problema de excesso de dívida da empresa.

A abordagem da empresa em relação às deficiências operacionais, contudo, que levaram à crise da empresa parece otimista.

“Preveem-se perdas mais pesadas em 2023, com um fluxo de caixa livre negativo de 882 milhões de euros após a venda de ativos. Portanto, a conclusão prevista para o primeiro trimestre de 2024 parece estar distante no futuro”, disse Allen.

Philippe Palazzi, ex-executivo da Lactalis e da Metro, pode ser nomeado como novo diretor de investimentos pelos novos acionistas para liderar a reestruturação operacional, de acordo com o comunicado.

“O Casino é um grupo notável”, disse Kretinsky no comunicado. “Chegou a hora de alcançar avanços e crescimento.”

A empresa busca desde 2018 reduzir a dívida por meio da venda de ativos, mas sua concentração em áreas altamente dependentes do turismo sofreu revezes durante a pandemia, e uma estratégia de aumentar os preços mais do que seus concorrentes agravou os problemas do Casino mais recentemente.

Desde o final de maio, a empresa tem negociado uma solução com credores e dois grupos que tiveram interesse na aquisição em um processo supervisionado pelo tribunal conhecido como de conciliação, no qual o governo francês também esteve envolvido, dada a importância do Casino para o emprego e a segurança alimentar no país.

- Com a colaboração de Luca Casiraghi.

Veja mais em bloomberg.com

Leia também

Casino, dono do GPA, deve fechar acordo com credores após prejuízo bilionário

Além do Casino: dívida de empresas em dificuldades já soma US$ 500 bi e acende alerta