Bloomberg Línea — A Casas Bahia (BHIA3) aposta no crediário digital como alavanca para sustentar a sua trajetória de recuperação dos resultados, sob o comando do CEO, Renato Franklin.
Com ajustes profundos em seu parque de lojas desde o início do turnaround no segundo semestre de 2023, a companhia - uma das maiores varejistas em categorias como geladeira, fogão, TV, celular e móveis do Brasil - pretende manter a estratégia de disciplina de custos e de crescimento sem sacrificar a rentabilidade de suas operações tanto em lojas físicas como no e-commerce.
A conjuntura macroeconômica adversa, reflexo de incertezas fiscais, juros em alta e consequente desestímulo ao consumo, além de maior aversão global a risco devido a questões geopolíticas, inspira cautela, afirmou o CFO da companhia, Elcio Ito, em entrevista à Bloomberg Linea.
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“Temos um cenário desafiador pela frente, mas a estratégia e o plano de transformação permanecem o mesmo: aumentar a receita das lojas físicas e o crediário e avançar no operacional”, reforçou.
No quarto trimestre de 2024, o e-commerce voltou a crescer no resultado da Casas Bahia, que espera avançar na oferta do crediário nos canais digitais, principalmente em perfis considerados mais seguros de consumidores, a fim de manter a inadimplência sob controle, segundo Ito.
“O crediário em 2024 teve seu recorde histórico. Finalizamos com uma carteira de R$ 6,2 bilhões”, disse o CFO.
A rede varejista reportou na noite de quarta-feira (12) um fluxo de caixa livre de R$ 1,2 bilhão entre outubro e dezembro, o maior dos últimos cinco anos.A companhia fortaleceu sua estrutura financeira ao aumentar a liquidez para R$ 4 bilhões e reduzir a alavancagem.
O GMV (valor total de vendas realizadas no e-commerce) consolidado subiu 9,9% no quarto trimestre, graças a um crescimento anual de 16,1% nas lojas físicas e de 23,7% no marketplace (3P).
A receita líquida registrou avançou 7,6%, acompanhada de uma margem bruta de 30,8%, o que representou um avanço de 3,2 pontos percentuais em 12 meses.
Um alívio de R$ 4,3 bilhões no caixa já está garantido: não há a preocupação no curto prazo com despesas para pagar compromissos de uma dívida de R$ 14 bilhões depois de uma reestruturação com os bancos credores anunciada há quase um ano, em abril de 2024.
Confira trechos da entrevista com o CFO da Casas Bahia, editada para fins de clareza.
Como a Casas Bahia planeja conseguir reduzir mais custos em 2025?
Não prevemos movimento semelhante ao do segundo semestre de 2023, quando houve fechamento de 60 lojas e de 10.000 vagas. Não vislumbramos nem planejamos nada com essa magnitude.
No quarto trimestre, de forma proativa e preventiva, olhando o cenário macro mais desafiador para 2025, olhamos nosso parque de lojas e fechamos oito unidades e fizemos um pouco de redução de pessoas. Foi um ajuste fino da estrutura e processos com faz qualquer companhia.
Nosso lema é buscar eficiência operacional, ver oportunidades de melhorar os indicadores e tornar a companhia mais rentável. Rentabilidade e fluxo de caixa, isso é o que perseguimos.
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Haverá aberturas de lojas neste ano?
Abertura é algo mais difícil. Uma exceção é a megaloja em nossa sede na região da Berrini [na zona sul de São Paulo]. Em termos de lojas novas, o que teremos são reformulações. Devemos ter outras unidades sendo transformadas dentro do conceito de megaloja.
Como a Casas Bahia conseguiu voltar ao patamar histórico de margem bruta de 30% em 2024?
Estamos em um processo gradual desde o anúncio do plano de transformação anunciado em agosto de 2023. Fizemos ajustes profundos na estrutura de pessoas, em lojas e CDs [Centros de Distribuição] e na estratégia de ser um player especialista. Reduzimos categorias e estoques fortemente.
Ou seja, nosso plano, que engloba iniciativas tanto na parte de receita como de despesa, vem amadurecendo, cada uma no seu tempo, e isso vai transparecendo no resultado.
Buscamos a melhora sequencial dos resultados a partir dos ajustes que fizemos e continuamos fazendo. O quarto trimestre foi o quinto consecutivo de melhora da margem. Não teve nenhuma explosão, mas teve uma sequência gradual de melhora trimestre após trimestre. Isso nos anima muito para 2025, apesar da cautela com o cenário macroeconômico.
Quais os principais focos para sustentar o ritmo de crescimento em 2025?
Temos duas vertentes: continuar a crescer a receita em loja física junto com o crediário e serviços como um todo. Quanto às despesas e custos, o exercício de disciplina e rigor é contínuo, mês a mês.
Conseguimos no quarto trimestre crescer a receita em 16% na loja física e em 17% no Same Store Sales [comparação apenas de lojas maduras, abertas há pelo menos um ano], a exemplo do terceiro trimestre. Crescemos no online, algo que não tínhamos feito nos trimestres anteriores de retração.
Nosso risco maior à estratégia era se a receita começasse a cair em meio ao corte de despesas. Mas isso não ocorreu: a receita começou a subir nas lojas físicas e no online, com rentabilidade, e conseguimos ter um meio de diluir as despesas fixas e de melhorar a eficiência.
Como fazer o crediário crescer diante do aperto monetário?
O crediário em 2024 teve seu recorde histórico. Finalizamos com uma carteira de R$ 6,2 bilhões. Os indicadores de inadimplência melhoraram nos últimos trimestres. Estamos sendo cautelosos em fazer o crescimento da carteira. Como há uma demanda reprimida muito forte, estamos crescendo em classes e categorias de crédito melhores para evitar justamente ter inadimplência no futuro.
Isso continua sendo dinâmico: vamos acertando e crescendo todo mês, com forte olhar para que a inadimplência siga sob controle, principalmente em um ano que começa com taxa crescente de juros. Temos que redobrar nossa atenção em relação a isso.
O crediário permanece como core da companhia. É a forma como os brasileiros compram mercadorias de alto valor, pois precisam de financiamento. A carteira do crediário é representativa do país.
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Nos primeiros meses de 2025, o crediário da Casas Bahia continua no ritmo de alta?
Sim. Continuamos a crescer o crediário em um bom pace. Quanto à velocidade disso, é difícil dizer agora. Para 2025, pretendemos prosseguir nesse movimento à medida que as vendas e a própria economia crescem como um todo.
Conseguimos destravar o funding do crediário após o reperfilamento da dívida no ano passado. Lançamos recentemente nosso primeiro FIDC [Fundo de Investimento em Direitos Creditórios], com potencial de atingir R$ 500 milhões. É o veículo mais eficiente e adequado para financiar o crediário. Conseguimos colocar de pé essa estrutura relevante para dar crescimento ao crediário daqui para frente.
Como a Casas Bahia pretende aumentar a rentabilidade do seu e-commerce neste ano?
O e-commerce continua em uma trajetória de crescimento com melhor rentabilidade. O que nos ajuda na rentabilidade do online? Contar com uma parte de eficiência operacional e com inteligência de utilizar os mecanismos de marketing de forma mais eficiente.
Estamos mensurando melhor, de forma bem mais analítica, o que é gasto e o que se converte em vendas. Isso permite direcionar os investimentos conforme a performance operacional.
O 3P [markeplace], que é a comissão que ganhamos, está forte. Tivemos um crescimento do GMV [volume bruto de mercadorias] do 3P de 24% no ano. O take rate [comissão] foi de 12,50%, acima dos 12,20% de 2023. Isso ajuda a venda online.
Continuamos focados nas categorias core. Há ainda o avanço do crediário digital. Com isso, conseguimos sair da competição de preço e elevar a rentabilidade nesse canal.
A ação acumula alta de 68% em 2025. Na terça-feira (12), a companhia informou que o investidor Rafael Ferri atingiu participação relevante de 5,11%. Os frutos colhidos pelo plano de transformação estão por trás desse interesse de investidores de perfil mais agressivo?
É difícil dizer. Fizemos o comunicado ao mercado da participação do Rafael Ferri imediatamente após ele nos notificar sua posição acionária. Não consigo fazer nenhum comentário específico sobre o Ferri ou outro investidor. Eles fazem seus investimentos por meio de diversos veículos e instrumentos.
Nosso trabalho na gestão da companhia é continuar a melhorar os resultados, executando o plano de transformação desde que assumimos em meados de 2023. Estamos focados em dar outro direcionamento em relação aos resultados financeiros e à estrutura de capital. Ainda estamos longe do ponto a que pretendemos chegar como companhia.
Temos um cenário desafiador pela frente, mas a estratégia e o plano permanecem os mesmos: aumentar a receita das lojas físicas e o crediário e avançar no [resultado] operacional. Temos que ser ainda mais disciplinados e rigorosos na execução.
O reperfilamento da dívida nos deu fôlego: os juros e o principal só começam a ser repagos em novembro de 2026, ou seja, não é tema para este ano. Apesar da alta da Selic agora, não pagamos os juros dessa dívida.
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