Bloomberg — O Carrefour emitiu um pedido público de desculpas ao Brasil para resolver uma crise com o governo e os agricultores do país, depois de ter dito que a empresa não venderia carne sul-americana na França.
“Nossa declaração na última quarta-feira sobre o acordo de livre comércio com o Mercosul causou discordâncias no Brasil que é nossa responsabilidade amenizar”, disse a empresa em um comunicado na terça-feira (26). “Nunca colocamos a agricultura francesa contra a agricultura brasileira”.
Na semana passada, o CEO Alexandre Bompard disse que o varejista francês estava comprometido a não comercializar qualquer carne produzida pelo Mercosul, atraindo a ira de autoridades e empresas brasileiras. Gigantes da carne bovina brasileira, como a JBS, a maior produtora do mundo, e a Minerva decidiram retaliar e suspenderam as vendas para o Carrefour no Brasil.
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A rede francesa tem mais de mil pontos de venda no Brasil, que geram mais de 20% de suas vendas globais, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A declaração de Bompard ocorre em meio a protestos de agricultores franceses contra um possível acordo de livre comércio da União Europeia com o Mercosul, formado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
"Entendemos os padrões seguidos pela carne brasileira, sua alta qualidade e seu sabor", disse o comunicado do Carrefour. "Lamentamos que nossa comunicação tenha sido percebida como um questionamento de nossa parceria com a agricultura brasileira ou como uma crítica a ela."
A medida foi tomada depois que as autoridades brasileiras se manifestaram contra a decisão e defenderam publicamente a qualidade da carne brasileira. A embaixada da França no Brasil atuou como intermediária para ajudar o Carrefour a se retratar e resolver a polêmica, disse o ministro da Agricultura do Brasil, Carlos Favaro, em entrevista à TV Globo na segunda-feira (25).
“Adquirimos quase toda a nossa carne francesa exclusivamente na França e continuaremos a fazê-lo. A decisão do Carrefour França não tem como objetivo alterar as regras de um mercado francês que já é amplamente estruturado em torno de cadeias de suprimento locais”, afirmou a empresa.
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O Atacadão, filial brasileira do Carrefour, disse em um comunicado separado que está enfrentando escassez de carne em algumas lojas. A empresa acrescentou que não houve impacto significativo sobre as vendas até o momento, dados os níveis atuais de estoques.
Na terça-feira, espera-se que a Câmara brasileira vote um projeto de lei para impor a “reciprocidade econômica” em resposta ao protecionismo europeu.
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