C6 Bank: temos a capacidade de dobrar a receita com despesas estáveis, diz CEO

Em entrevista à Bloomberg Línea, Marcelo Kalim analisa o primeiro lucro anual - de R$ 2,3 bilhões - do banco digital em seis anos de existência e fala das perspectivas para 2025

Sede do C6 Bank na avenida Nove de Julho, na região dos Jardins, em São Paulo (Foto: Rogerio Albuquerque/Divulgação)
25 de Fevereiro, 2025 | 05:10 AM

Bloomberg Línea — Depois de encerrar 2024 com o primeiro resultado anual positivo de sua história, o C6 Bank está em um patamar que lhe permite fazer uso de sua alavancagem operacional para acelerar o crescimento neste ano sem que isso comprometa os fundamentos.

“Temos a capacidade de dobrar a nossa receita mantendo as despesas estáveis”, disse o CEO e cofundador do C6 Bank, Marcelo Kalim, em entrevista à Bloomberg Línea.

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Segundo ele, os indicadores preliminares de 2025 endossam essa avaliação.

“A perspectiva para 2025 é melhor em termos de crescimento de carteira [de crédito] do que 2024. Já estamos vendo um crescimento maior do que o do segundo semestre do ano passado.”

O banco que entrou em operação em agosto de 2019 e que atraiu o JPMorganChase como sócio com 46% do capital quatro anos mais tarde, obteve em 2024 um lucro líquido de R$ 2,3 bilhões, dos quais R$ 1,3 bilhão no segundo semestre, com alta de 34% em relação ao primeiro.

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Outros indicadores foram igualmente inéditos - o banco chegou a 35 milhões de clientes (não revelou quantos estão com relacionamento ativo).

A receita líquida cresceu 45% entre 2023 e 2024, para R$ 8 bilhões. A carteira de crédito expandida atingiu R$ 60 bilhões ao fim de dezembro, uma expansão anual de 30% impulsionada principalmente pela concessão de empréstimos com garantia, como consignado e financiamento de veículos.

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O crédito com garantia respondeu por 77,5% dos empréstimos concedidos no período. A base de captação saltou de R$ 46 bilhões para R$ 79 bilhões, um avanço de 71% na comparação anual.

As despesas operacionais recuaram 3%, para R$ 3 bilhões. A PDD (provisão para devedores duvidosos) caiu 21% para R$ 1,9 bilhão, apesar do cenário de juros futuros mais altos a partir do segundo semestre. A inadimplência (atrasos de 90 dias ou mais) recuou de 3,4% para 2,6% em 12 meses.

Nem o cenário econômico adverso com juros de dois dígitos e incertezas em alta abala a confiança do CEO do C6 Bank, que disse não esperar uma “grande deterioração” e que resumiu seu sentimento em termos de perspectivas da seguinte forma: “mais do mesmo”.

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“Em um cenário de crédito positivo pode ser que o C6 Bank tenha oportunidades em crédito não colateralizado [com garantia]. Nesses seis anos de nossa trajetória, nunca vimos um cenário benigno acontecendo”, observou Kalim, ex-sócio e ex-integrante do bloco de controle do BTG Pactual e um dos banqueiros mais experientes do país, em um contexto mais amplo.

Confira abaixo a entrevista com Marcelo Kalim, editada para fins de clareza e compreensão.

O que significa para o C6 Bank apresentar o primeiro lucro anual de sua história?

O importante é o seguinte: a linha de receita saiu de R$ 3,5 bilhões [em 2022] para R$ 8 bilhões [em 2024] enquanto a linha da despesa saiu de R$ 3,40 bilhões para R$ 3,45 bilhões. Esse é nosso modelo de negócio. Em 2025, espero que a receita seja muito mais do que R$ 8 bilhões. E que a despesa seja muito próxima de R$ 3 bilhões. É isso que faz com que o nosso lucro seja crescente ao longo do tempo.

Temos a capacidade de dobrar a nossa receita mantendo as despesas estáveis. Em 2025, vou ficar muito feliz se conseguirmos dobrar a receita e subirmos 10% do nosso custo.

Grandes bancos apresentaram um tom cauteloso com a perspectiva de desaceleração da economia brasileira neste ano. O C6 está preparado para uma virada potencial no cenário macro?

Eu não diria que se trata de uma virada do cenário macro, porque é o mesmo cenário com que já vínhamos trabalhando. Nunca estivemos entusiasmados com a economia brasileira nos últimos dois, três anos. Não acho que vai ter uma grande deterioração. Para nós, é mais do mesmo.

É um cenário desafiador, mas não pior do que foi nos últimos anos. Já nos posicionamos tanto estrategicamente quanto nos nossos critérios de crédito para esse cenário.

Diante desse quadro, quais as perspectivas para o desempenho do banco em 2025?

A perspectiva para 2025 é melhor em termos de crescimento de carteira do que 2024. Já estamos vendo um crescimento maior do que o do segundo semestre do ano passado.

Houve melhora na qualidade do crédito em 2024 segundo os indicadores divulgados. O C6 planeja aumentar o rigor na concessão?

Não. O rigor é o mesmo que tivemos em 2024, quando houve declínio dos indicadores de inadimplência, seja pela estratégia de ter uma carteira grande de ativos com colateral, seja pelos nossos critérios nos modelos de crédito mais, digamos assim, restritos para uma economia não tão exuberante como foi nos últimos anos. Esse cenário continua para 2025. Estamos bastante tranquilos com nossos modelos de crédito.

Na análise do resultado recorde de 2024, quais os fatores que contribuíram para o crescimento de 30% da carteira de crédito do C6 Bank?

Não houve um principal driver no crescimento de carteira. Todas as áreas cresceram. Foi bastante diversificado. E tivemos no segundo semestre um crescimento maior do que o primeiro semestre.

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O senhor destacou a performance no lado das despesas. Quais medidas o C6 Bank tomou para reduzir suas despesas operacionais?

Vejo a linha de custo operacional mais como estável do que declinante. Saiu de uma redução de 3,12% para 3,05%. Espero mais do mesmo para 2025. Uma variação de 5% para cima ou para baixo, para mim, é estabilidade. Provavelmente no ano de 2025 [a despesa] vai crescer algo nessa magnitude, e considero isso como custos bastante controlados. Ainda mais quando vemos uma receita subindo na magnitude em que subiu, de R$ 5,5 bilhões para R$ 8 bilhões [de 2023 para 2024].

O C6 Bank planeja mudanças no mix de serviços e produtos em 2025?

Não. Todas as nossas linhas de negócio têm estratégias bem definidas, seja pessoas físicas, pessoas jurídicas, atacado, crédito consignado, financiamento de veículos, home equity.

Todas essas linhas têm as suas dinâmicas próprias de crescimento, e estamos bastante satisfeitos com a atração que todas essas linhas de negócio estão obtendo, seja em número de clientes, seja em ativos, seja na qualidade dos ativos, ou seja, na rentabilidade. Em 2025, estamos com perspectivas bastante boas de crescimento com rentabilidade. É um ano muito promissor.

O governo decidiu permitir a concessão de crédito consignado privado por meio da plataforma eSocial. Isso pode afetar as perspectivas do C6?

Se confirmar realmente o consignado privado centralizado e o fluxo de pagamentos por meio do eSocial, o mercado se tornará mais competitivo, porque um banco não precisará mais de acordos bilaterais com empresas para fornecer o consignado privado. Isso geraria, digamos assim, uma oferta ampla.

O convênio é diferente do consignado do INSS, pois envolve análise de crédito da empresa e do funcionário. As taxas de empréstimo são definidas com base na análise de crédito e na concorrência de mercado.

O modelo centralizado pode ser vantajoso, pois permite maior alcance e menos competição por distribuição. O mercado de crédito consignado privado deve crescer com o novo modelo. Os bancos incumbentes podem perder receitas em outras linhas de crédito. A atuação depende da regulamentação final. É necessário aguardar a regulamentação para definir a estratégia de atuação.

O C6 Bank passou a destacar na abertura de seu app “uma sociedade com o JPMorgan Chase”. Isso tem relação com a consulta pública do Banco Central que discute se fintechs podem ter um nome que remeta a um banco?

Não. Temos duas licenças de banco múltiplo. O JPMorgan tem a dele. Essa discussão do BC é antiga. Há uma série de instituições financeiras com algum tipo de licença, outras que nem têm, que oferecem algum tipo de serviço e dão a entender que é banco, que é bank. Várias empresas se aproveitaram dessa brecha.

No Brasil, se alguém quiser abrir uma empresa de venda de camiseta e decidir incluir bank no nome, a Junta Comercial deixa. A depender do seu ramo de atuação, isso pode gerar uma enorme confusão. Isso me parece enganoso, porque é uma denominação que não é verdadeira.

Acho que isso tem de ser regulamentado. Na época, o BC disse que não tinha o que fazer, que não era sua competência pedir para a Junta Comercial de proibir isso. É uma discussão antiga que está voltando. Honestamente, acho que faz sentido: se alguém não é médico, não pode ser chamado de médico, bem como alguém que não é um advogado não pode ser chamado de advogado.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.