BYD aposta no agronegócio para impulsionar vendas de picape híbrida no Brasil

Montadora chinesa apresentou um novo modelo híbrido, chamado Shark, que busca competir com líderes do segmento, como Toyota Hilux, Ford Ranger e Chevrolet S10

BYD Shark
Por Leonardo Lara
21 de Outubro, 2024 | 01:09 PM

Bloomberg — A BYD aposta que sua nova picape híbrida, o sexto modelo lançado pela empresa no Brasil, pode enfrentar empresas como a Toyota e a Ford Motor na mais recente empreitada da montadora chinesa para ganhar participação no mercado automotivo global.

A picape híbrida Shark, de 436 cavalos de potência, foi disponibilizada para pré-encomenda no início deste mês por R$ 379.800, entrando no segmento altamente competitivo de picapes médias do Brasil, no qual os clientes tradicionalmente preferem veículos movidos a diesel ou gasolina.

O evento de lançamento do Shark no sábado (19) em Goiânia foi a mais recente ofensiva comercial da BYD com o objetivo de chegar ao topo das vendas de carros no país, seu maior mercado fora da China.

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A expansão no Brasil é uma parte fundamental da estratégia da BYD de construir posições dominantes em mercados emergentes, à medida que a empresa enfrenta barreiras crescentes nos Estados Unidos e na União Europeia na forma de tarifas de importação.

A BYD tem procurado empresas como a JBS (JBSS3) e a Vale (VALE3) para apoiar o uso da picape híbrida em condições extremas e, assim, obter cerca de 70% das vendas da Shark de clientes do agronegócio, disse o diretor comercial da empresa no Brasil, Henrique Antunes.

“O mercado potencial para picapes no setor agrícola é muito grande”, disse ele. “Realizamos alguns estudos que mostraram que mesmo os clientes que não estão no setor agrícola muitas vezes procuram o segmento para comprar uma picape.”

Desde o início das pré-encomendas em 3 de outubro, os clientes reservaram cerca de 1.000 das 1.500 picapes disponíveis, de acordo com Antunes, um aumento acentuado em relação ao lançamento anterior da empresa, o utilitário esportivo (SUV) elétrico Yuan Pro, que vendeu 600 unidades na pré-venda.

Antunes espera que as vendas anuais da picape Shark fiquem entre 10.000 e 15.000 unidades, o que colocaria o modelo entre as cinco maiores picapes médias do Brasil. As atuais líderes de vendas no segmento são a Toyota Hilux, a Ford Ranger e a Chevrolet S10, de acordo com dados da Fenabrave, com preços a partir de R$ 220 mil.

A BYD vendeu 51.203 veículos no Brasil durante os primeiros nove meses de 2024, um aumento de mais de 700% em comparação com o mesmo período do ano passado.

A empresa espera que o Shark a ajude a subir de seu atual 10º lugar no ranking geral de vendas para ficar entre os cinco primeiros até 2027, segundo Antunes. “A BYD não chegou ao Brasil para ser uma coadjuvante.”

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A ambição ecoa os planos globais da montadora. A BYD deixou de ser uma coadjuvante no concorrido mercado automobilístico da China para figurar entre as 10 maiores montadoras do mundo e, brevemente - no final de 2023 - ultrapassar a Tesla para se tornar a maior vendedora de veículos elétricos puros do mundo.

O lançamento de uma picape híbrida a um preço superior ao de seus rivais, e significativamente mais do que os US$ 53.400 (cerca de R$ 304 mil) que o mesmo veículo custa no México, representa uma espécie de aposta.

Ainda assim, as oportunidades superam os riscos, de acordo com Cassio Pagliarini, especialista do setor automotivo e sócio da Bright Consulting.

Ele acredita que alguns dos clientes agrícolas são pioneiros, ávidos por novas tecnologias e procurando dar o primeiro passo, mesmo em um mercado que normalmente prefere motores a diesel.

“É um cliente tradicionalista, mas é algo novo, é a primeira picape híbrida, com autonomia fenomenal, e tem uma pegada sustentável”, disse Pagliarini. “Assim como os veículos premium de todas essas outras marcas, a palavra sustentabilidade já conquista as pessoas.” Além disso, ele ainda “tem a capacidade de passar pela lama”.

A BYD fez de tudo para causar uma boa impressão no Brasil em 2024, lançando seis novos veículos, incluindo o Shark. A ofensiva já abalou as estratégias comerciais de seus concorrentes e causou reduções significativas de preços, tanto em modelos puramente elétricos quanto a combustão.

O Brasil também é uma parte fundamental dos ambiciosos planos da BYD para expandir a produção globalmente. A empresa recentemente abriu ou anunciou planos para instalar fábricas de montagem fora da China em 10 países em três continentes.

A empresa revelou planos para investir R$ 5,5 bilhões no Brasil para instalar uma fábrica na Bahia, no mesmo local em que a Ford operava até 2021.

“Esperamos iniciar a montagem de veículos em dezembro de 2024 e a produção total no primeiro semestre de 2025, incluindo estampagem de peças”, disse Alexandre Baldy, vice-presidente sênior da empresa no Brasil, em uma entrevista no sábado.

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