Brasileiro busca mais flexibilidade na volta ao escritório, aponta pesquisa

Cresce o grupo de trabalhadores que valorizam flexibilidade no uso de benefícios corporativos, segundo estudo com 800 empresas; o general manager da Swile, Julio Brito, comenta as mudanças

Paulista Avenue Sao Paulo buildings Brazil / Avenida Paulista. 08/10/2024
27 de Dezembro, 2024 | 10:34 AM

Bloomberg Línea — A volta gradual ao escritório tem sido uma das tendências corporativas no Brasil e em outros mercados, atestada pelo número crescente de empresas que relatam tais políticas e por indicadores como a redução da vacância em prédios comerciais e o aumento dos congestionamentos nas grandes cidades. Mas as condições de trabalho, em geral, buscam oferecer maior flexibilidade vis-à-vis o que era praticado antes da pandemia.

Não se trata de fenômeno isolado, segundo especialistas. Os trabalhadores brasileiros, em particular, buscam maior flexibilidade em seus respectivos empregos, e isso se reflete sob diferentes perspectivas.

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Um estudo anual com trabalhadores de cerca de 800 empresas com abrangência nacional, recém-concluído pela empresa de benefícios Swile em parceria com a Leme Consultoria, corrobora essa tendência e apresenta uma dessas perspectivas: revelou que quase seis em cada dez colaboradores (56%) disseram que dispor de flexibilidade é o atributo que mais valorizam em seus pacotes de benefícios corporativos.

Parte dos resultados do estudo, que será divulgado de forma completa no início de 2025, foi antecipada em primeira mão para a Bloomberg Línea.

E as companhias, por sua vez, têm buscado endereçar essa demanda: o percentual das que oferecem benefícios que podem ser gerenciados de acordo com a necessidade ou escolha do trabalhador, dentro do que a lei permite, passou de 26% há três anos para 39% atualmente.

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“Há um aumento considerável da adoção de benefícios flexíveis por parte das organizações”, disse Julio Brito, general manager da Swile no Brasil, em entrevista à Bloomberg Línea.

Segundo ele, a tendência é que os benefícios corporativos sejam cada vez mais individualizados de acordo com as necessidades e as preferências de cada trabalhador.

Os dados fazem parte da nova edição anual do “O Planeta Firma - Anuário de Benefícios Corporativos, Boas Práticas e Tendências para os Recursos Humanos”. As cerca de 800 empresas consultadas somam mais de 900 mil colaboradores, de múltiplos setores em todas as regiões do país.

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A pesquisa destaca o avanço da flexibilidade como prioridade, o retorno ao modelo presencial e híbrido e a inclusão da saúde física e mental nas estratégias de benefícios. Esses movimentos mostram que o mercado de benefícios evolui para atender demandas de bem-estar, produtividade e retenção de talentos.

Houve aumento de quase 10% na oferta de assistência psicológica, em um sinal de reconhecimento da saúde mental como pilar estratégico. E alta de 80% em três anos em descontos em academia.

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A Swile, empresa francesa presente no mercado brasileiro desde o fim de 2021, tem sido um dos novos players do mercado de benefícios que atuam justamente com a flexibilidade no uso dos mesmos como um dos principais atributos em sua proposta de valor para as companhias (veja mais abaixo).

Para Nicolas Batista, diretor comercial da Swile e um executivo com experiência anterior no segmento de benefícios, a evolução do mercado tem sido acelerada, citando dados da fatia dos novos players. “Trata-se de um mercado consolidado, e não uma ‘moda’ como chegou a ser classificado.”

“Quando projetamos 2026, a estimativa é que de 35% a 40% do novo mercado já estará no chamado arranjo aberto do mundo de flexibilidade”, disse Batista à Bloomberg Línea. Segundo ele, essa fatia hoje está em torno de 15% a 20% e, há apenas dois anos, ficava entre 1% e 2% do total.

Essa transição é reflexo do que ele descreve como evolução do mercado, em que benefícios corporativos se concentravam em vale alimentação e vale refeição sem grande diferenciação entre os líderes, “quase como se fossem commodity do ponto de vista de quem usa, o trabalhador”.

Para a área de RH, isso representa uma oportunidade de fazer a gestão de valor para os colaboradores na frente dos benefícios oferecidos, defendeu Batista.

Outra insight derivado do estudo é justamente o da volta gradual dos trabalhadores aos escritórios: duas em cada três empresas (65,9%) disseram que adotam o modelo híbrido ou presencial.

Segundo o executivo, trata-se de uma tendência cada vez mais percebida de fato nas conversas com clientes.

O estudo revela que houve aumento de 203% na concessão de vale combustível e de 76% no auxílio automóvel pelas empresas na comparação com a edição passada.

Julio Brito, General Manager para o Brasil da Swile, empresa francesa de benefícios corporativos (Foto: Divulgação)

A própria Swile é um exemplo de empresa que tem buscado se adaptar para esse momento de aumento da frequência na ida ao escritório, que fica na região da Berrini, na zona sul da capital paulista.

“Percebemos que os colaboradores atendiam de 70% a 80% das expectativas de presença no escritório em relação ao que era acordado com as respectivas lideranças e buscamos entender quais eram as razões para quem preferia ficar em casa”, contou o líder da Swile para o Brasil.

“E o fator mais mencionado foi a dificuldade de acesso.”

Segundo ele, quatro em cada dez trabalhadores da empresa levavam até uma hora para chegar ao escritório, e o restante, portanto, um tempo acima desse intervalo.

De posse dessa informação, a empresa conduziu neste ano um estudo com uso de geolocalização para entender quais as localidades que poderiam atender melhor a maioria dos funcionários e com ampla oferta de transporte público, incluindo metrô e linhas de ônibus.

Como resultado, a Swile decidiu se mudar no começo de 2025 para a região da avenida Paulista, próximo à zona central de São Paulo, apenas dois anos depois de ter se instalado na Berrini.

“O escritório funciona também como um benefício para o trabalhador se bem localizado em termos de acessibilidade”, disse Brito, citando que seis em cada dez colaboradores da empresa disseram que agora terão condições de chegar em até uma hora ao trabalho.

“No fim do dia, colaboradores com mais benefícios tendem a trabalhar mais felizes e isso se traduz em produtividade maior.”

Instituição de pagamento

A Swile faz parte de um movimento mais recente de aumento de concorrência e de novos modelos no setor de benefícios no Brasil, do qual também participam startups como a Flash e a Caju e unicórnios originalmente de outros segmentos, como o iFood.

São em geral empresas nativas digitais que introduzem justamente opções adicionais flexíveis como auxílio saúde, mobilidade, combustível, educação e home office, entre outras.

No caso da Swile, essa proposta de valor se reflete no gerenciamento de benefícios de oito categorias em um mesmo aplicativo e na integração com wallets da Apple Pay, Google Pay e Samsung Pay.

A liderança do mercado nacional continua nas mãos de gigantes como as francesas Sodexo e Ticket Edenred e das brasileiras VR e Alelo, concentradas em benefícios tradicionais como refeição e alimentação.

Leia mais: O iFood chegou a 100 milhões de pedidos no mês. O CEO diz por que é só o começo

Há poucos meses, a Swile concluiu a sua integração com a Bimpli, do grupo financeiro BPCE, em seu país de origem, a França, em negócio que reforça a sua capacidade e a expertise financeira. Hoje ela atende clientes de empresas de todos os portes. Entre as mais conhecidas estão o Carrefour e o Spotify.

No Brasil, a empresa recebeu no início do mês a autorização para funcionar no Brasil como instituição de pagamento, o que amplia as possibilidades do que poderá oferecer em termos de soluções.

Nicolas Batista, Diretor Comercial para o Brasil da Swile, empresa francesa de benefícios corporativos (Foto: Divulgação)

Em entrevista à Bloomberg Línea em setembro, o general manager da Swile disse que a próxima meta era atingir a marca de 1 milhão de usuários - naquele momento, eram 700 mil.

Segundo o executivo na ocasião, alcançar esse objetivo será importante para antecipar o breakeven da unidade brasileira até o fim de 2025 - ou até antes disso. O prazo inicialmente acordado com o conselho de administração da Swile apontava para a marca nos últimos meses de 2026.

“A estratégia passa pela ampliação do leque de produtos e serviços para que possamos crescer e ter o melhor posicionamento como empresa”, afirmou Brito em setembro.

O próximo produto na fila, em fase de testes, é o Swile Travel, que oferece a empresas a possibilidade de compra de passagens aéreas e hospedagens para os funcionários. A modalidade já existe na França.

A previsão é que o serviço comece a ser disponibilizado no Brasil no primeiro semestre de 2025. Em um segundo momento, outras funcionalidades devem ser incorporadas para facilitar a gestão de gastos corporativos. “Nós queremos abranger tudo que envolva o mundo do trabalho”, disse Brito.

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.