Como o Brasil entrou na rota do investimento da Arábia Saudita, segundo CEO global

Em entrevista à Bloomberg Línea, Richard Attias, CEO do FII Institute, diz por que projetos no país e em LatAm atraem fundos que estarão presentes em evento com 1.500 lideranças no Rio nesta semana

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Bloomberg Línea — Os resultados das eleições no domingo (9) na Europa sinalizaram uma vez mais a insatisfação de boa parte da população com temas como custo de vida e segurança. Não se trata de evento isolado, defende o CEO do FII Institute, Richard Attias. Em pesquisas globais em cada um dos três últimos anos, (1) custo de vida, (2) qualidade de vida e segurança e (3) saúde foram apontados como prioridades para as pessoas.

São informações e dados que evidenciam a necessidade e a oportunidade de investimento com retorno em projetos que possam gerar impacto positivo para milhões de pessoas, disse Attias em entrevista para a Bloomberg Línea.

É a mensagem que ele buscará transmitir a cerca de 1.500 lideranças, entre investidores globais - incluindo uma ampla delegação da Arábia Saudita, que concedeu apoio financeiro ao evento -, CEOs e outros executivos C-Level, empresários e autoridades, de hoje (11) a quinta-feira (13) no evento FII Priority no Rio de Janeiro.

“Não podemos desconectar a geopolítica da geoeconomia. Se observarmos o que aconteceu nas eleições europeias, em muitos países, incluindo a França, um país que conheço muito bem porque passei 20 anos da minha vida lá, o partido que ganhou de longe é precisamente o que estava apenas falando sobre custo de vida e segurança”, disse Attias.

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“Quero destacar para os investidores e os líderes empresariais que devemos investir em algo importante: devemos investir em pessoas. Esse é o principal tópico que destacamos em nossas conferências do FII, pois é o que ajudará as pessoas a recuperar a dignidade”, disse o executivo.

O FII (Future Investment Initiative) Institute foi lançado em 2017 como uma organização sem fins lucrativos que busca, segundo Attias, funcionar como catalisador de investimentos de impacto em áreas como energia e minerais, agricultura, infraestrutura, esporte e tecnologia.

Conta com o apoio financeiro do PIF (Public Investment Fund), o fundo soberano da Arábia Saudita, com US$ 925 bilhões em ativos, e de mais de 30 empresas globais.

Em sete edições já realizadas em cidades como Miami e Hong Kong, foram assinados acordos de US$ 120 bilhões em investimentos, que contam em geral com a premissa - e o interesse crescente mútuo - do reino saudita e de fundos e empresas com ambições globais e regionais.

Attias, por sua vez, nascido no Marrocos, é um executivo com 30 anos de experiência no desenvolvimento e na organização de conferências empresariais e de investimentos globais, do Fórum Econômico Mundial em Davos a eventos da Fundação do Nobel e da Unesco.

Segundo ele, a decisão de organizar uma edição do evento no Rio de Janeiro acabou sendo natural no momento em que o Brasil tem atraído atenção global com a presidência rotativa do G20 (grupo que reúne 20 das maiores economias do mundo) neste ano e a organização da COP30 em Belém em 2025.

Pesou também o fato de ser um país e um continente com projetos potencialmente atraentes envolvendo recursos naturais, de minerais para a transição energética e fontes de energias renováveis a commodities agrícolas fundamentais para o mundo.

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“Temos uma enorme delegação da Arábia Saudita e de muitos outros países e, por último, mas não menos importante, temos mais de seis ex-presidentes da América Latina que estão vindo porque todos estamos extremamente interessados na geoeconomia e em como construir ecossistemas inclusivos em termos de desenvolvimento econômico”, disse.

Veja abaixo a entrevista com Richard Attias por videoconferência, editada para fins de clareza:

Qual o progresso que já foi feito desde que o FII foi criado?

Temos KPIs [Indicadores-chave de desempenho] objetivos. Ponto número um: em sete edições já realizadas, todas as discussões geraram mais de US$ 120 bilhões em investimentos. São números reais em cima de acordos feitos e de contratos que foram assinados globalmente durante nossas edições do FII - portanto, nós geramos impacto.

Ponto número dois: lançamos há cerca de dois anos a redefinição do conceito ESG, porque considerávamos que o que havia não era inclusivo o suficiente. Trabalhamos muito com líderes empresariais, investidores, formuladores de políticas, para definir nosso próprio novo ESG 2.0 do FII, e realizamos estudos com empresas de investimento como a BlackRock.

A adoção de nossa plataforma ESG mais inclusiva pode desbloquear mais de US$ 3 trilhões no Sul Global, que não está no mesmo nível do Ocidente em termos de governança, questões sociais ou de sustentabilidade e em termos de meio ambiente, que é do que trata o ESG. Portanto, se você adotar um conceito ESG mais ajustado, isso construirá uma economia mais inclusiva.

Ponto número três: temos visto nossa comunidade crescer com membros que pagam uma assinatura para fazer parte do FII Institute, porque querem ter impacto. São mais de 30 empresas globais, algumas do Brasil. O FII Institute tem se tornado um movimento global em que líderes empresariais, empreendedores e mídia trabalham para melhorar o que precisa ser feito e lançar iniciativas.

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E o que ainda falta fazer? Se voltarmos a conversar em um ano, o que o senhor espera que terá sido realizado?

Se eu olhar para o Brasil em particular e para a América Latina, primeiro, queremos mudar a percepção. Eu diria que a percepção hoje na Europa, até mesmo na Ásia, até mesmo no Oriente Médio, é que a América Latina é um continente muito complexo, como você sabe. A percepção, muito em razão do que a mídia prefere destacar, é sempre sobre cartéis de drogas, corrupção, segurança e assim por diante. Queremos mudar essa percepção.

Conheço muito bem este continente. Conheço o Brasil há mais de 30 anos. Este país, como muitos outros, tem muito a oferecer em termos de recursos naturais, talento e diversidade. São países pacíficos e não há nada de errado que não possa ser corrigido. O fato de termos mais de 75% das pessoas que vêm de fora da América Latina [para o evento] ajudará a mudar a percepção. E quando você constrói confiança e muda a percepção, o investimento vem. O investimento estrangeiro direto é a condição imperativa para o crescimento, a criação de empregos e a construção de uma economia sustentável.

Esse é o principal objetivo e é o que nos deixará felizes e orgulhosos daqui a um ano, quando percebermos que a primeira edição da cúpula de prioridades do FII no Rio alcançou esse feito.

Quais mensagens o evento buscará passar a investidores, líderes empresariais e autoridades?

Vou buscar transmitir três mensagens. A primeira está relacionada ao tema principal da conferência: investir em dignidade, e vou tentar definir dignidade na totalidade. E, especialmente hoje, nosso mundo não vai muito bem em várias áreas. Percebemos isso ao conduzir por três anos um índice de prioridade, que é a bússola, uma pesquisa mundial [realizada pela Accenture com a Oxford Economics] que fazemos todos os anos para entender quais são as prioridades dos cidadãos do mundo. E, nos últimos três anos, temos as mesmas prioridades: #1 custo de vida, #2 qualidade de vida e segurança, e #3 saúde.

Não quero fazer política, mas não podemos desconectar a geopolítica da geoeconomia. Se observarmos o que aconteceu ontem [domingo, 9 de junho] nas eleições europeias, em muitos países, incluindo a França, um país que conheço muito bem porque passei 20 anos da minha vida lá, o partido que ganhou de longe é precisamente o partido que estava apenas falando sobre custo de vida e segurança.

O meu ponto aqui é que quero destacar para os investidores, para os líderes empresariais, que é fantástico investir, mas devemos investir em algo importante. Devemos investir em pessoas. Esse é o principal tópico que destacamos em nossas conferências do FII, pois é o que ajudará as pessoas a recuperar a dignidade.

A segunda mensagem é há uma necessidade absoluta em colaborar. Não podemos trabalhar em silos. É por isso que somos uma plataforma que tenta ser um catalisador entre figuras públicas, formuladores de políticas, líderes empresariais, jovens empreendedores e mídia, que é extremamente importante porque tem uma grande voz para atingir todas as comunidades.

E por último, mas não menos importante, queremos contar em que áreas estão as oportunidades para investir com impacto, aos múltiplos setores que abordaremos, como agricultura, infraestrutura, energia renovável, entretenimento, esportes. A programação é extremamente diversificada e ajuda as pessoas a entender onde investir em termos de setores e em termos de geografias.

Por que essas áreas foram escolhidas como prioridades?

O mundo hoje precisa de muitos minerais. A tecnologia exige cada vez mais minerais: lítio, cobalto etc. Este continente tem muito disso. Número dois: a inteligência artificial nunca crescerá a menos que você tenha data centers, que consomem muita energia. É por essa razão que o futuro estará nos data centers que contam com energia renovável. Temos hidrogênio e muitas oportunidades em termos de energia renovável neste continente.

Também temos uma grande crise de segurança alimentar no mundo. Cerca de 30% das pessoas na África do Sul não têm acesso a alimentos. Este continente e o Brasil em particular são um incrível reservatório de alimentos. Portanto, a agricultura é outro setor no qual eu investiria agora. O continente também tem muito a fazer para modernizar sua infraestrutura.

E nunca devemos esquecer o esporte, que é uma grande indústria. É uma ferramenta incrível para o progresso social e o desenvolvimento econômico. Portanto, também devemos aprender com o que está acontecendo no esporte e no entretenimento. E, por último, mas não menos importante, tecnologia. Vocês têm tantos jovens talentosos aqui. Vocês têm muitos novos unicórnios e muitas startups das quais precisamos aprender. Também precisamos investir nesses setores.

Quais os desafios para concretizar esses investimentos?

Espero que todos os presentes que tenham um projeto na América Latina, no Brasil em particular, possam apresentá-los, porque os investidores globais não dão uma segunda chance. Eles estão vindo para cá. Eles querem ver projetos tangíveis com estudos de viabilidade, oportunidades e erros. Você sabe, os investidores não são filantropos.

Portanto, essa é minha mensagem para todos os que estejam no evento: por favor, levantem suas vozes e apresentem o que têm a oferecer porque os investidores estão aqui para fazer negócios e construir confiança, e é por isso que conferências presenciais são absolutamente cruciais. Não acredito que em conversas online se construa confiança. Não funciona se você não estiver na mesma sala.