Brasil no foco da Unilever: fábrica em SP terá investimento de R$ 265 milhões

Unidade em Aguaí ampliará em 30% a capacidade de produzir desodorantes como Rexona e Dove e servirá como base para exportação, disse Eduardo Machado, diretor da fábrica, à Bloomberg Línea

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Bloomberg Línea — O mercado brasileiro esteve sob os holofotes globais da Unilever há poucas semanas com o anúncio da escolha de seu novo CEO.

O argentino Fernando Fernandez, nomeado para suceder Hein Schumacher à frente da gigante de bens de consumo, chegou com a experiência de ter comandado a operação no Brasil por nove anos, de 2011 a 2019, além da América Latina de 2019 a 2022, entre outras passagens de destaque.

Essa relevância global do país, que não é fortuita, se apresenta de outras formas, como o recente anúncio de investimento de R$ 265 milhões para a ampliação da fábrica de desodorantes aerossóis em Aguaí, no interior de São Paulo, em informação antecipada à Bloomberg Línea.

Os recursos vão viabilizar uma quarta linha de produção na unidade, que é considerada uma das mais avançadas, produtivas e sustentáveis da Unilever no mundo, com aumento de 30% na capacidade atual para as marcas Rexona, Dove, Axe e Suave - as duas primeiras são líderes de mercado.

“Essa fábrica é estratégica para a Unilever no mundo. É a segunda maior de desodorantes do mundo e a maior da América Latina”, disse Eduardo Machado, diretor da fábrica em Aguaí, em entrevista à Bloomberg Línea. Na região, há também unidades na Argentina e no México.

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Com a expansão, segundo ele, se aproximará em capacidade produtiva da unidade em Leeds, na Inglaterra, que é a maior do mundo em desodorantes para a gigante anglo-holandesa de bens de consumo.

Trata-se do maior investimento na unidade de negócios de Cuidados Pessoais (Personal Care) desde o desembolso de R$ 500 milhões justamente para a construção dessa fábrica em 2015, a mais nova da Unilever para desodorantes do mundo, em uma espécie de “estado da arte” industrial.

Segundo o executivo, processos como o abastecimento de materiais para as linhas são automatizados com aplicações digitais inteligentes, que dispensam a intervenção humana.

O mercado brasileiro é o segundo maior do mundo em desodorantes, atrás apenas dos Estados Unidos. E retomou a trajetória de crescimento nestes anos do pós-pandemia.

Essa categoria de produtos foi um dos destaques da companhia em 2024, alavancando o resultado da unidade de Personal Care, com vendas que cresceram 5,2% (e 3,1% em volume). As receitas dessa divisão de negócios chegaram a € 13,6 bilhões no mundo no ano passado.

No Brasil em particular, a unidade de Cuidados Pessoais cresceu acima de 10%.

As vendas de desodorantes no mundo avançaram no ritmo de dois dígitos, sob impulso de uma alta em volume em torno de 5%. Rexona e Axe cresceram em torno de um dígito alto, com impulso de inovações, segundo a Unilever no documento de resultados divulgado em fevereiro.

“A ampliação vem para atender à crescente demanda do mercado brasileiro”, disse o diretor da fábrica de desodorantes da Unilever no país, que está há dez anos na companhia. Anteriormente, o engenheiro por formação, especializado em end-to-end supply chain, trabalhou sete anos na Ambev.

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“As pessoas voltaram a sair mais para as ruas, retomaram o trabalho presencial e a vida social. A Unilever identificou que esses motivos aumentaram o consumo de desodorantes e o mercado retomou o crescimento”, completou o executivo.

A própria dinâmica estrutural do mercado brasileiro também favorece a expansão, segundo ele. “Há fatores que impulsionam a demanda: o brasileiro, em média, toma dois banhos por dia; e tem a maior frequência de uso de desodorantes comparável, sete dias por semana”, disse Machado.

Exportação para outros países

Atualmente, uma parcela menor da demanda da Unilever por desodorantes - cujo volume não é revelado - é atendida com a importação da fábrica de Tortuguitas, na Argentina.

Quando a quarta linha estiver em operação no começo de 2026, a projeção é que toda a demanda doméstica seja atendida pela produção local. E que possa servir como base para exportar para outros países da América do Sul, segundo o executivo.

“Será possível exportar para Chile, Colômbia, Paraguai, Uruguai e parte da Argentina, neste caso a depender do produto”, disse o executivo sobre o planejamento.

Nas quatro marcas citadas, Rexona, Dove, Axe e Suave, a Unilever conta com cerca de 250 SKUs (tipos de produtos), com diferenças que levam em conta as embalagens, por exemplo.

A unidade brasileira produz também a linha Clinical tanto da Rexona como da Dove, de posicionamento premium, com preço mais alto em decorrência de tecnologia mais avançada e eficiência três vezes superior em atributos como o controle do suor, de acordo com a companhia.

Quando entrou em operação, há dez anos, a fábrica em Aguaí - próximo a Limeira e São Carlos -, contava com duas de linhas de produção de alta velocidade, de 500 unidades por minuto. E operava seis dias por semana.

A terceira linha veio em 2019, no ano que antecedeu a pandemia, transferida da unidade na Argentina. No mesmo ano, a fábrica passou a operar 24 horas por dia nos sete dias da semana.

Nos últimos quatro anos, a planta industrial ganhou 20 pontos percentuais em eficiência, segundo Machado: passou de 55% para 75% na métrica que avalia a produção pelo tempo de operação, um nível elevado de referência não só da Unilever no mundo como de toda o segmento.

Não por acaso, esse é um dos mantras do novo CEO global.

“Você precisa encarar a produtividade como um hábito, e não como um programa. A produtividade como hábito garante que liberemos recursos para investir de forma significativa e competitiva em nossas marcas. Acredito que sempre há ineficiências na empresa”, disse Fernandez em entrevista recente, já como CEO, a Warren Ackerman, Head de European Consumer Staples Research do Barclays.

Ao fim de 2025, a fábrica já contará com 345 colaboradores diretos, o que representará quase o dobro do número que havia em 2022. Há ainda aumento da geração de empregos indiretos.

Fornecedores de latas e de moldes injetáveis, por exemplo, também investem para atender à nova capacidade produtiva dessa unidade.

E se a demanda continuar a crescer nos próximos anos, a fábrica de Aguaí estará apta a receber novos investimentos, segundo o executivo.

“A planta fica em um terreno com 1 milhão de metros quadrados e foi concebida para comportar diversas expansões se necessário.” A própria escolha do local se deveu justamente a fatores como esse, que incluem também a ampla disponibilidade de água, que vem do Aquífero Guarani.

A tecnologia citada na operação, por outro lado, permite que o consumo de água seja 70% menor do que em outras fábricas da Unilever no mundo, enquanto o de energia é 50% mais baixo.

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