Brasil deve virar destino de carros antes enviados aos EUA, avaliam importadoras

Em entrevista à Bloomberg Línea, Marcelo Godoy, presidente da associação que representa o setor, diz que concorrência deve se intensificar com guerra comercial, em particular no segmento premium

BYD
22 de Abril, 2025 | 05:15 AM

Bloomberg Línea — Com a escalada da guerra comercial entre Estados Unidos e outras potências, a competição no mercado automotivo deve crescer no Brasil, segundo o presidente da Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores (Abeifa), Marcelo Godoy.

Segundo o dirigente, o fenômeno já vinha ocorrendo desde o ano passado, mas deve se intensificar com o avanço das tensões principalmente entre Estados Unidos e China.

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“O aumento da competição já é um fato no Brasil, mas com a super taxação [do governo americano] a tendência é a de acirramento dessa disputa. Os carros que eram exportados da Europa ou do México para os Estados Unidos podem vir para o Brasil. No segmento premium, isso certamente vai ficar mais evidente”, disse o executivo em entrevista à Bloomberg Línea.

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Em sua avaliação, mesmo que a taxação por parte do governo americano volte a ser o que era antes - ou seja, com eventual recuo de Trump -, a competição deve continuar a crescer no Brasil.

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“Dos mercados com mais potencial no mundo, o Brasil é, de fato, um dos maiores: combina grande potencial de crescimento com uma penetração ainda muito baixa. A competição veio para ficar.”

Godoy afirmou que o consumidor de carro importado tem mais poder aquisitivo e, no geral, é menos suscetível a oscilações de preços.

Por outro lado, disse que, com o dólar estável em um patamar elevado no Brasil - tem oscilado na faixa de R$ 5,70 a R$ 5,90 nos últimos meses - e em um cenário de forte competição, montadoras com importados não estão repassando integralmente esse aumento de custo ao consumidor.

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“As empresas estão segurando um pouco as margens e muitas estão trabalhando com estoques para minimizar essa flutuação”, disse o dirigente, que no Brasil é CEO da Volvo Cars.

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“Falo pela Volvo, mas também no geral: as associadas seguem o mesmo racional e tentam repassar o mínimo para o consumidor. Se ficar muito no ‘sobe e desce’, o cliente perde a referência e evita a compra”, acrescentou.

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No primeiro trimestre de 2025, as vendas de carros importados atingiram 27.400 unidades no país, o que representou uma alta de 33,9% sobre o mesmo período do ano passado.

Somando os veículos produzidos no Brasil pelas associadas, os emplacamentos alcançaram 27.700 unidades no trimestre, avanço de 32,8% na mesma base de comparação, de acordo com a Abeifa.

Marcelo Godoy - Presidente Abeifa

Do volume registrado pelas associadas, 25.500 foram de modelos eletrificados.

“O carro elétrico não é para todo mundo, mas vai caber para muita gente. O elétrico caiu no gosto do brasileiro”, disse Godoy.

O executivo afirmou que o mercado brasileiro passa por uma importante fase de transição rumo à eletrificação, assim como o restante do mundo. Esses modelos já representam 9,8% do total de emplacamentos no país, dado que considera os volumes produzidos localmente.

Ainda de acordo com a Abeifa, cerca de 50% dos veículos eletrificados comercializados no país são de marcas importadas.

Expectativas para o ano

A associação projetou, no início do ano, um crescimento de 10% e 12% para o setor de veículos importados em 2025. “No primeiro trimestre, o desempenho foi até melhor do que o esperado.”

A Abeifa está otimista para 2025 e, por ora, mantém as projeções para o ano. No entanto Godoy afirma que é preciso monitorar os efeitos da guerra comercial e do cenário macroeconômico no Brasil.

“O primeiro trimestre foi encorajador, mas no segundo semestre já devemos entrar em uma espécie de ‘período eleitoral’. Alguns empresários podem postergar as compras”, disse.

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Juliana Estigarríbia

Jornalista brasileira, cobre negócios há mais de 12 anos, com experiência em tempo real, site, revista e jornal impresso. Tem passagens pelo Broadcast, da Agência Estado/Estadão, revista Exame e jornal DCI. Anteriormente, atuou em produção e reportagem de política por 7 anos para veículos de rádio e TV.