Brasil dá sinal verde para chineses e acirra competição com Starlink, de Musk

Governo Lula ofereceu uso da base de Alcântara, no Maranhão, para os testes da SpaceSail. Mas empresa ainda aguarda a aprovação do lado chinês

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Por Daniel Carvalho
08 de Novembro, 2024 | 10:19 AM

Bloomberg — Após uma longa disputa com Elon Musk sobre sua plataforma de mídia social X, o Brasil está agora cortejando uma empresa chinesa para diminuir a dependência do serviço de internet da Starlink do bilionário americano.

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que receberá Xi Jinping este mês após a cúpula dos líderes do G20, no Rio de Janeiro, ofereceu o uso de uma base espacial militar no nordeste do Brasil para a SpaceSail, uma fabricante de satélites com sede em Xangai.

O secretário de Telecomunicações de Lula afirmou que o objetivo é fomentar a concorrência no setor de satélites de órbita baixa, a fim de conectar mais famílias, escolas e empresas em regiões remotas do Brasil à internet.

A SpaceSail ainda precisa de aprovação do governo chinês para poder utilizar o Centro de Lançamento de Alcântara, na costa atlântica do estado do Maranhão.

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“Estamos tentando avançar nessa parceria”, disse o secretário de Telecomunicações, Hermano Tercius, em entrevista nesta semana. “Com Xi Jinping no Brasil, tentaremos tornar isso viável de alguma forma, na tentativa de conseguir que ele autorize.”

A SpaceSail e o Ministério das Relações Exteriores da China não responderam aos pedidos de comentário.

A possibilidade de uso da base evidencia o dilema que Lula vive ao aprofundar as relações do Brasil com a China, ao mesmo tempo em que mantém uma política de boa vizinhança com os EUA.

Homem instala sistema de internet via satélite da Starlink em Galisteo, Novo México, EUA. (Foto: Cate Dingley)

Com Musk potencialmente assumindo um papel na administração protecionista do presidente eleito Donald Trump, os direitos de lançamento de satélites estão entre os assuntos que podem desequilibrar a balança que o líder brasileiro tem mantido até agora.

O secretário de Telecomunicação brasileiro visitou a sede da SpaceSail no mês passado, junto com o ministro de Comunicações Juscelino Filho. Eles divulgaram a viagem à China em um comunicado à imprensa e nas redes sociais. A empresa “planeja lançar seu serviço de internet via satélite de órbita baixa no Brasil dentro dos próximos dois anos”, informou o ministério no X.

Os funcionários de Lula também visitaram a Galaxy Space, outra fabricante de satélites, mas a empresa com sede em Pequim ainda não tem autorização para oferecer seus serviços no exterior, de acordo com o secretário de telecomunicações brasileiro.

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As conversas ministeriais na China ocorreram logo após uma disputa que durou meses entre Musk e o Supremo Tribunal Federal do Brasil, que culminou em multas milionárias e na proibição do X na maior economia da América Latina.

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Em um momento da disputa, o Starlink teve suas contas bancárias congeladas no Brasil, como uma tentativa de forçar o X a cumprir ordens judiciais.

Musk eventualmente cedeu, as contas foram desbloqueadas e o acesso à plataforma de mídia social do bilionário americano foi restaurado em todo o país.

A Starlink detém apenas uma fração do mercado de banda larga no Brasil, com seus 265.000 clientes em setembro que representam apenas 0,5% do total de usuários, segundo a agência reguladora de telecomunicações do país. No entanto, a empresa de Musk é a principal fornecedora de serviços de internet via satélite, com uma participação de mercado de 46%.

Musk

Tercius negou qualquer vínculo retaliatório entre a disputa do Brasil com Musk e o cortejo aos concorrentes chineses do setor, e disse que o objetivo é oferecer opções para os consumidores.

“Independentemente da questão que envolve o Starlink”, afirmou, “é importante ter outra empresa para que haja concorrência, para que haja outra opção para os brasileiros.”

Enquanto isso, a China ainda tenta alcançar Musk no espaço. A Starlink tem mais de 6.000 satélites que fornecem acesso à banda larga ao redor do mundo, e as empresas chinesas possuem apenas algumas dezenas.

A SpaceSail lançou seu primeiro lote de 18 satélites em órbita em agosto, com o segundo lançamento de mais 18 que ocorreram no mês passado. Mais de 600 ainda devem ser lançados, com previsão para o final do próximo ano.

A empresa chinesa também não é a única interessada em usar a instalação de Alcântara, cuja localização próxima ao equador terrestre ajuda a catalisar o momentum do lançamento, o que contribuir para economizar o combustível do foguete no processo.

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Um estudo de mercado feito pelos militares brasileiros identificou a SpaceX, de Musk, e a Blue Origin, uma startup espacial apoiada por Jeff Bezos, como possíveis usuárias da base, de acordo com veículos de mídia locais, incluindo a Folha de S. Paulo.

O Gabinete de Segurança Institucional da presidência não respondeu a um pedido solicitando uma cópia do documento. A Força Aérea e o Ministério da Defesa não responderam a solicitações de comentários sobre os relatórios.

Em 2019, durante o primeiro governo de Trump, ele e o então presidente Jair Bolsonaro assinaram um acordo que autorizava o Brasil a lançar foguetes e espaçonaves contendo peças americanas.

Em troca, o Brasil garantiu a proteção da tecnologia dos EUA contida nesses projéteis.

“É do interesse do Brasil fomentar esse tipo de atividade comercial, pois gerará recursos substanciais para o desenvolvimento local e regional e para o programa espacial brasileiro”, disse o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações do Brasil em um comunicado.

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