Bloomberg Línea — O Bradesco (BBDC4) apresentou nesta sexta-feira (7) um resultado de Tesouraria no quarto trimestre que surpreendeu positivamente o mercado. Os números despertaram o interesse de analistas sobre como o banco alcançou uma performance avaliada como “incrível” e “extraordinária” pelo CEO Marcelo Noronha e pelo CFO Cassiano Scarpelli.
A margem com o mercado (tesouraria) atingiu um volume de R$ 842 milhões entre outubro e dezembro, acima do registrado no terceiro trimestre (R$ 364 milhões) e de igual período do ano passado (R$ 696 milhões). Em 2024, o resultado totalizou R$ 2,161 bilhões, um crescimento de 595% em relação ao valor de 2023 (R$ 311 milhões).
“Não tem mágica. É trabalho e suor do time da tesouraria”, disse Noronha em referência aos ganhos do banco com operações de trading e arbitragem.
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Por trás dessa área responsável em identificar oportunidades para gerar lucros e minimizar riscos, o CEO destacou cinco nomes do time: os diretores de tesouraria Philipe Biolchini, Marina Bauab Werebe e Bruno Rosa Cardoso, além do diretor executivo Roberto Paris e de Luiz Felipe Sayão, superintendente sênior no Bradesco BBI.
“O resultado da tesouraria foi muito bom. Esse time pode fazer o ano de 2025 melhor”, disse o CEO.
O CFO considerou o desempenho das atividades de ALM (Asset Liability Management, gestão de ativos e passivos) algo “extraordinário”. Scarpelli reconheceu que a perfomance da margem com o mercado é a mais difícil de projetar devido à natureza do trading, de busca de ganhos pontuais e dependente do cenário macroeconômico.
Entre os analistas, o indicador foi visto como um fator positivo para o resultado do banco em 2024, mas ressaltaram que isso não garante que a performance se repita em 2025.
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“A margem com o mercado merece menção pela surpresa ao vir em volume acima do terceiro trimestre (R$ 842 milhões ante R$ 364 milhões), opostamente ao previsto, dada a abertura da curva de juros no período e o histórico de sensibilidade negativa ao movimento”, escreveu Rafael Reis, analista do BB Investimentos, em relatório.
O analista ressaltou ainda que a margem com o mercado do quarto trimestre trouxe incertezas sobre a trajetória desse indicador nos próximos trimestres.
“A volatilidade dessa linha, explicada neste trimestre por um melhor resultado com arbitragem, adiciona um tempero de imprevisibilidade que não nos soa bem-vindo”, avaliou Reis.
Pedro Leduc, analista do Itaú BBA, também avaliou, em relatório, que a tesouraria do Bradesco teve um desempenho favorável no quarto trimestre, quando o banco registrou um lucro líquido de R$ 5,4 bilhões.
‘Próximo da neutralidade’
O CFO do Bradesco explicou que o desempenho da tesouraria ocorreu devido a operações específicas de arbitragem, que resultaram em um “bom movimento que não é tradicional”.
Para 2025, um ano de continuidade do ciclo de alta dos juros, ele espera um resultado descrito como mais cauteloso, “próximo da neutralidade”.
Mesmo com a “surpresa” positiva da Tesouraria, investidores reagiram mal ao balanço, que trouxe projeções (guidances) consideradas conservadoras e dados negativos. As ações recuaram perto de 3,50% nesta sexta-feira na B3.
Entre os dados citados estiveram o crescimento de despesas, atribuído a contingências cíveis, trabalhistas e fiscais, além do rearranjo organizacional, que inclui uma redução de aproximadamente 25% dos pontos de atendimento nos últimos dois anos.
Leduc, do Itaú BBA, considerou os guidances para 2025 como “otimistas”, que resultam em uma perspectiva de lucro líquido entre R$ 21 bilhões e R$ 23 bilhões neste ano que começa.
Na avaliação de Leduc, a eficiência operacional do Bradesco deve melhorar em 2025, com uma redução nos custos administrativos e o foco na experiência do cliente.
O CEO do Bradesco voltou a dizer que se considera um “otimista com pés no chão” e que o processo de reestruturação do banco ocorrerá “step by step”.
O crescimento do lucro projetado para o ano virá, segundo ele, de frutos a serem colhidos com os investimentos realizados e em curso em tecnologia, como IA (inteligência artificial), e nas melhorias previstas no “plano de transformação” do banco, previsto para ser concluído em 2028.
Além disso, o Bradesco espera capturar resultados com os últimos esforços para crescer em setores como o agronegócio e o atendimento a PME (pequenas e médias empresas).
Neste caso, o foco está em linhas de crédito com garantias, como empréstimos consignados e programas federais como Pronampe e Procrede, e na sua aposta para o segmento de alta renda, com a multiplicação de unidades do Bradesco Principal, lançado no ano passado.
“Na próxima semana, vamos fazer o closing do negócio com o banco John Deere”, adiantou Noronha em referência à compra de 50% da instituição financeira com atuação relevante no agronegócio e na construção civil, aprovada pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), sem restrições, em setembro de 2024.
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