Bloomberg Línea — Ao apresentar ao mercado em fevereiro passado o novo plano estratégico para o período de cinco anos, o então novo CEO do Bradesco, Marcelo Noronha, destacou o segmento de clientes de maior renda e patrimônio como uma das novas prioridades do banco.
É uma aposta cujos frutos começam a aparecer nos resultados e que sustenta um otimismo do executivo.
“Crescemos 12% em cartões para a alta renda em volume transacionado na comparação anual”, disse o executivo a jornalistas nesta segunda-feira (5) para comentar o resultado do segundo trimestre.
A priorização de clientes de alta renda, que oferecem maior rentabilidade e menor risco de perdas, contrasta com o momento considerado ainda desafiador para a concessão de crédito para o segmento massificado - tradicionalmente um dos públicos alvo do Bradesco -, devido ao maior risco de inadimplência.
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Com impulso da alta renda, o volume transacionado em cartões de crédito superou o patamar de R$ 81 bilhões de abril a junho e foi o maior da série histórica; no primeiro semestre, as receitas aumentaram 2,2% e representaram 40% do total obtido com a prestação de serviços do banco.
Do faturamento total com cartões, cerca de 50% refere-se aos que são voltados para a alta renda.
O foco no público de maior poder aquisitivo tem sido adotado como estratégia para recuperar a rentabilidade do banco como um todo, o que já havia sido sinalizado pelo antecessor de Noronha, Octavio de Lazari Junior, no ano passado.
No mesmo contexto, a cautela na emissão de cartões de crédito para o segmento de baixa renda foi uma das estratégias adotadas pelos principais bancos do país para controlar a piora dos indicadores de atrasos nos últimos dois anos.
O quadro afetou negativamente o desempenho do Bradesco (BBDC4) devido à sua maior exposição ao varejo de baixa renda.
“O maior risco está na baixa renda, que é mais vulnerável ao cenário macroeconômico, principalmente em cartão de crédito. Queremos manter nosso portfólio”, disse Noronha.
As ações do Bradesco (BBDC4) subiam perto de 8% nesta segunda-feira por volta das 16h, em dia de queda de quase 1% do Ibovespa. Até a última sexta (2), acumulavam queda de 26% no ano.
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No segundo trimestre, o ROAE (retorno sobre o patrimônio líquido médio) terminou em 10,8%, alta de 0,60 ponto percentual em três meses. A recuperação gradual tem refletido o plano estratégico em curso desde o início do ano, marcado pela mudança de comando na instituição financeira.
O executivo reafirmou os guidances para o ano de 2024 divulgados em 7 de fevereiro: carteira de crédito expandida (alta de 7% a 11%), margem financeira total (3% a 7%), receitas de prestação de serviços (2% a 6%), despesas operacionais (5% a 9%), resultado das operações de seguro, previdência e capitalização (4% a 8%) e PDD (provisões para devedores duvidosos) expandida (R$ 35 bilhões a R$ 39 bilhões).
“Tenho convicção de que vamos entregar um lucro implícito até acima do guidance. Não vamos revisar nenhuma linha. Vamos perseguir esse lucro implícito”, afirmou Noronha.
O executivo considerou “exagerada” a reação do mercado nesta segunda-feira (5) às avaliações de risco de uma possível recessão na economia americana diante de dados mais fracos do mercado de trabalho e de alívio dos indicadores de inflação - sem que o Fed tenha iniciado um ciclo de corte de juros.
“A economia americana está ‘bombando’”, afirmou Noronha.
Ele disse trabalhar com a expectativa de manutenção dos juros no Brasil em 10,50% ao ano. Em maio, o Bradesco revisou para baixo sua estimativa para o PIB (Produto Interno Bruto) de 2,50% para 2,30%.
A projeção do banco, por outro lado, ainda está acima da mediana do mercado (2,20%), segundo o relatório Focus publicado hoje pelo Banco Central, que apontou também uma alta de 1,92% para 2025.
“Para 2025, a expectativa é a de um PIB um pouco menor do que em 2024″, disse Noronha.
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Visão do sell side
Em relatório, analistas da equipe de equity reasearch do Itaú BBA escreveram que o Bradesco está no caminho certo para recuperar sua lucratividade.
“A manutenção do guidance indicou que os lucros trimestrais vão continuar crescendo no ano para atingir cerca de R$ 18 bilhões”, disse o analista Pedro Leduc.
O Goldman Sachs destacou a melhora da receita líquida de juros (NII, na sigla em inglês) e dos indicadores de atrasos, bem como a redução das provisões de abril a junho e a melhora da rentabilidade metida pelo ROAE, que atingiu o maior nível desde o terceiro trimestre de 2022.
O lucro líquido recorrente de R$ 4,7 bilhões reportado pelo Bradesco superou em 10% a estimativa de analistas do banco americano e ficou 7% acima do consenso de projeções compiladas pela Bloomberg.
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