Boticário ‘dobra a aposta’ em startups e prepara aportes de fundo de R$ 100 milhões

Analu Partel, diretora de M&A e GB Ventures do Grupo Boticário, diz à Bloomberg Línea que o objetivo é olhar para o resultado ‘do século’, e não ‘do trimestre’, e cita verticais no foco, como a de biotechs

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Bloomberg Línea — A aposta do Grupo Boticário em inovação aberta ganhou nova dimensão neste ano com o lançamento de um fundo de corporate venture capital (CVC) de R$ 100 milhões.

A movimentação marca uma etapa mais estruturada da estratégia da companhia de se aproximar do ecossistema de startups, em um esforço para antecipar tendências e acessar tecnologias que possam complementar ou transformar seu modelo de negócios.

“Nós estamos dobrando a aposta pensando muito no futuro na empresa. Falamos muito que não olhamos o resultado do trimestre, e, sim, o resultado do século”, disse Analu Partel, diretora de M&A e GB Ventures do Grupo Boticário.

“O CVC vem muito com essa visão de futuro, de fazer apostas em coisas que podem ser inovadores para o nosso core business”, completou.

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A Bloomberg Línea conversou com a executiva durante o South Summit, evento realizado em Porto Alegre neste mês de abril.

A estratégia de aproximação com o ecossistema de startups conta ainda com um programa de aceleração, iniciado em 2021 e que está em sua quinta edição.

“Nós remontamos o time, hoje com 13 pessoas dentro do GB Ventures, para fazer tanto aceleração quanto negócios e investimento”, contou Partel, que está no grupo há pouco mais de um ano.

Em sua experiência anterior, a executiva ficou três anos na Renner, atuando no RX Ventures, o CVC da varejista, e na divisão de M&A.

O Boticário conta atualmente com apenas uma startup no portfólio, a estoniana Haut.AI, investida em 2023.

“Eles trabalham com visão computacional e inteligência artificial para fazer um escaneamento da pele, analisando dezoito atributos e, a partir daí, recomendam produtos. Nós devemos começar um piloto logo mais”, disse Partel.

Na tese do CVC, os cheques devem ficar entre US$ 1 milhão e US$ 2 milhões por aporte e o valor deve ser empregado no período de quatro anos.

“Nós temos um pipeline robusto para sair nos próximos meses”, afirmou a executiva.

A depender da volatilidade do dólar, o fundo deve ser finalizado com um portfólio entre 8 e 12 startups, além de manter um capital residual para operações de follow-on.

“Uma das grandes verticais para a qual nós estamos olhando é a de biotechs. Vimos muito no South Summit. Estamos procurando ingredientes e matérias-primas para os nossos produtos que sejam mais sustentáveis ou substitutos de matérias-primas que podem não existir no futuro. Isso vale tanto para produtos quanto para embalagens”, contou.

A tese do CVC está ancorada em mais quatro verticais: retail techs, em busca de soluções digitais para experiência e vendas; fintechs, com produtos de crédito, cobranças e pagamentos; beauty techs; e marcas, em categorias que são tendências e em que o Boticário não atua.

Nos últimos dias, o GB Ventures anunciou uma parceria com o Cubo como um um dos caminhos para se aproximar de startups de beleza e varejo instaladas no hub criado pelo Itaú em São Paulo.

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O CVC também irá patrocinar o Brazil At Silicon Valley (BSV), evento que reúne empreendedores e investidores brasileiros e americanos no Vale do Silício, nos Estados Unidos, nesta semana.

“É também uma forma de nós estarmos mais em contato com esse ecossistema e empreendedor”, contou Partel.

Os investimentos em startups caminham em paralelo com a estratégia de aquisições, que movimentaram a companhia nos últimos anos, quando trouxe para dentro de casa marcas como Truss e a Dr. Jones, o marketplace Beleza na Web e o software Equilibrium.

“M&A é muito mais uma estratégia do que é o nosso core para os próximos anos. Nós temos olhado bastante coisa de tecnologia e a tese é bastante ampla. O grupo é muito grande, bem complexo. Nós brincamos que é um parque de diversões e temos bastante coisas para fazer lá”, disse a executiva.

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