Boicote de frigoríficos ao Carrefour Brasil pode reduzir fluxo de clientes, diz Goldman

Analistas do banco avaliam que falta de carne nos açougues prejudica o desempenho de vendas de outras categorias de produtos; lucro líquido do quatro trimestre pode ser afetado

Carrefour Brasil pode sofrer impacto negativo nas vendas, Ebitda e lucro do quarto trimestre com falta de carne em seus açougues, segundo o Goldman Sachs
25 de Novembro, 2024 | 04:31 PM

Bloomberg Línea — A interrupção do fornecimento de carne para unidades do Carrefour Brasil por parte de frigoríficos brasileiros pode reduzir o fluxo de clientes e ter um efeito significativo para os resultados financeiros da varejista no quarto trimestre, de acordo com analistas do Goldman Sachs, em meio a uma crise depois de o CEO global do grupo dizer que não iria comercializar carnes do Mercosul nas unidades na França.

Segundo os cálculos do Goldman Sachs, no pior cenário o lucro líquido do Carrefour Brasil (CRFB3) poderia ter uma queda de até 1,8% por dia no quarto trimestre em razão da paralisação da comercialização de carne nas unidades do grupo. A carne bovina representa 12% das vendas totais da varejista, enquanto frango e suíno respondem por 6% e 2%, respectivamente.

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A interrupção do fornecimento de carne bovina às unidades brasileiras do Carrefour foi decidida na última sexta-feira (22) por frigoríficos, em reação à fala do CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, de que suspenderia na França a comercialização de carnes produzidas em países do Mercosul.

O Carrefour Brasil disse em comunicado divulgado à imprensa nesta segunda que lamenta a situação e que a suspensão no fornecimento de carne impacta os seus clientes. “Estamos em diálogo constante na busca de soluções que viabilizem a retomada do abastecimento de carne nas nossas lojas o mais rápido possível”, disse a companhia.

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JBS (JBSS3), Marfrig (MRFG3), Minerva (BEEF3) e Masterboi estão entre os frigoríficos de maior relevância que deixaram de fornecer carne para as unidades do Carrefour no Brasil em retaliação à decisão da matriz do grupo francês.

Sem oferecer o produto, as lojas podem ser prejudicadas pela menor frequência de consumidores, segundo analistas do Goldman.

“A potencial indisponibilidade de produtos de carne pode reduzir o tráfego de clientes como um todo, resultando em uma queda significativa nas vendas de outras categorias”, escreveram os analistas Irma Sgarz, Felipe Rached e Gabriela Leme, em relatório do Goldman Sachs, que manteve a recomendação de compra para a ação da companhia com preço-alvo de R$ 12,50 para horizonte de 12 meses, com um potencial de valorização (upside) de 88,3% em relação ao último fechamento (R$ 6,64 na sexta-feira).

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Cada dia de interrupção na venda dos três tipos de carne (20% do mix de vendas) representaria um impacto negativo de 0,2% nas vendas, de 0,6% na geração de caixa (Ebitda) e de 1,8% no lucro líquido do quarto trimestre, segundo os analistas do banco.

Eles também fizeram estimativas para um cenário considerando apenas as perdas de carne bovina (12% do mix): queda de 0,1% nas vendas totais, 0,4% no Ebitda e 1,1% no lucro líquido.

O grupo supermercadista reportou um lucro líquido ajustado de R$ 412 milhões no terceiro trimestre, com vendas totais de R$ 29,5 bilhões. No Brasil, a subsidiária da companhia francesa atua com as bandeiras Carrefour (22% das vendas), Atacadão (72%) e Sam’s Club (6%).

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“Embora o risco de interrupção esteja focado na carne bovina, os artigos publicados na imprensa mencionam que as entregas de frango e carne suína também foram atrasadas e, em alguns casos, suspensas. Por enquanto, a companhia declarou que nenhuma loja sofreu com escassez de carne bovina”, ressalvam os analistas.

As ações do Carrefour Brasil eram negociadas em queda nesta segunda-feira. Por volta das 13h50, o papel registrava desvalorização de 0,90%, negociada a R$ 6,58. Na cotação mínima do dia (R$ 6,32), pela manhã, a baixa era de 4,82%.

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Para Tiago Maciel, analista da EQI Research, as notícias sobre a interrupção do fornecimento de carne para a subsidiária brasileira são negativas para as ações do Carrefour Brasil, embora ainda não haja clareza sobre como a situação poderia ser contornada.

“É difícil mensurar os reais impactos sobre as operações, pois não sabemos exatamente quantos dias de estoque o varejista possui para rodar normalmente diante do desabastecimento, tampouco se será capaz de encontrar novos fornecedores, ou se outros produtores também adeririam ao boicote”, analisou Maciel, em nota.

Ele vê a possibilidade de clientes buscarem outras redes que lhes ofereçam cestas de produtos sem restrições, principalmente neste final do ano, período importante para as vendas dos supermercados devido às festividades do Natal e do Réveillon.

O Carrefour negou que enfrente uma crise de abastecimento em suas unidades, apesar de a imprensa ter noticiado na sexta-feira que a restrição no fornecimento afetava 150 lojas no país. O grupo possui no Brasil um total de 374 lojas com a bandeira Atacadão, 114 com a bandeira Carrefour e 58 unidades do Sam’s Club.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.