Bloomberg — O que deveria ser um ano de retomada para a Boeing (BA) se transformou em sua pior queda no mercado de ações desde 2008 e, se Wall Street estiver certa, as ações da fabricante de aviões podem ter apenas uma recuperação modesta em 2025.
As ações caíram 35% este ano, o que as coloca entre as 20 maiores quedas do índice S&P 500. Os papéis se estabilizaram no último mês, mas os investidores continuam cautelosos.
Eles apontam para a série de crises em 2024 que abalaram sua confiança nas perspectivas da Boeing e o risco de que a empresa sofra caso os atritos comerciais voltem a crescer sob o governo do presidente eleito Donald Trump.
"Ficar fora do noticiário seria uma vitória para a Boeing neste momento", disse Eric Clark, gerente de portfólio do Rational Dynamic Brands Fund.
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No início de 2024, a empresa parecia estar emergindo das consequências de dois acidentes fatais com seus jatos em 2018 e 2019 e do colapso das viagens globais durante a pandemia.
A Boeing havia dado um grande passo no sentido de descongelar suas relações tensas com a China, os pedidos de jatos estavam aumentando e as ações estavam no nível mais alto em quase dois anos.
Wall Street estava extremamente otimista, sem uma única recomendação de venda para as ações.
As coisas começaram a desandar em janeiro, quando um plugue de porta de um avião Boeing explodiu em pleno ar durante um voo da Alaska Airlines.
Em seguida, veio o clamor público e o intenso escrutínio das práticas corporativas e da cultura da Boeing, uma reformulação da administração que levou à saída do CEO, sérias alegações de delatores, uma greve trabalhista debilitante e uma enorme queima de caixa que, segundo a empresa, continuará em 2025.
A cadeia de eventos abalou as expectativas de lucro de Wall Street. Doze meses atrás, os analistas esperavam, em média, que a Boeing ganhasse US$ 4,18 por ação este ano, após quatro perdas anuais consecutivas, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Eles agora preveem um prejuízo de US$ 15,89 por ação, o pior desde 2020. Ao mesmo tempo, as estimativas para 2025, 2026 e 2027 caíram cerca de 50% ou mais em relação aos níveis do ano anterior.
Tudo isso explica por que os analistas têm poucas expectativas de que a recente recuperação das ações da fabricante de jatos se estenda muito mais. Seu preço-alvo médio de 12 meses sugere um potencial de ganho de cerca de 7% em relação ao fechamento de sexta-feira, de US$ 169,65. A Boeing não quis comentar.
Turbulência à frente
Uma grande preocupação ao entrar em 2025 é que a extensa cadeia de suprimentos global da empresa a deixa exposta caso Trump leve adiante suas propostas de tarifas.
A Boeing, juntamente com gigantes da manufatura americana como a Caterpillar e a Deere, é amplamente vista como estando na linha de frente de qualquer guerra comercial que possa ocorrer.
A maior preocupação da Boeing, entretanto, é a desaceleração da produção - primeiro em um esforço para melhorar a qualidade após o incidente da Alaska e, depois, por causa de uma greve que terminou em novembro.
Essa combinação deprime o fluxo de caixa e corrói sua posição em relação à rival Airbus, que comandou quase 60% da carteira global de pedidos de aeronaves comerciais no ano passado, de acordo com a Bloomberg Intelligence.
Além disso, há décadas a Boeing não trabalha em uma aeronave totalmente nova, e o CEO Kelly Ortberg disse que esse é um dos principais objetivos. Sinais concretos de que a empresa pode produzir aeronaves de qualidade em um ritmo constante são cruciais para os investidores e analistas em 2025.
Há uma grande demanda por aviões em todo o mundo, alimentada, em parte, pelo aumento das viagens aéreas nos mercados emergentes.
“A principal prioridade é atender a essa demanda construindo aeronaves perfeitas em um ritmo gradualmente crescente”, escreveu Seth Seifman, analista da JPMorgan em um relatório no mês passado. “Isso não é fácil e não veremos resultados imediatos, mas vemos potencial para que a Boeing progrida em 2025 no caminho para oferecer valor a longo prazo.”
A semana passada mostrou o potencial das ações. A notícia de que a Boeing retomou a montagem de sua aeronave mais vendida - o 737 Max - ajudou a impulsionar seu melhor avanço semanal desde meados de 2023.
A sólida posição da empresa no mercado, como uma das duas principais fabricantes, explica por que ela ainda detém uma capitalização de mercado superior a US$ 125 bilhões. A Boeing tem mais de US$ 500 bilhões em aeronaves em sua carteira de pedidos.
Ela também levantou US$ 21,1 bilhões em uma venda de ações este ano, o que deve ajudar a estabilizar sua classificação de crédito.
"A posição da Boeing no duopólio com a Airbus assegura a viabilidade da empresa, mas não garante sua solidez financeira", disse Mark Malek, diretor de investimentos da Siebert.
As interrupções na cadeia podem aumentar os custos, já que quase metade dos fornecedores da empresa está fora dos Estados Unidos, o que representa uma ameaça tanto para a receita quanto para as margens, disse ele.
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