Boeing anuncia compra da Spirit Aero em acordo de US$ 4,7 bilhões

Acordo traz um fornecedor importante para o 737, 787 Dreamliner e outros jatos comerciais de volta à Boeing, em um momento de desaceleração da produção para a companhia

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Bloomberg — A Boeing concordou em comprar de volta a Spirit AeroSystems por US$ 37,25 por ação, em um acordo que avalia a fornecedora em US$ 4,7 bilhões, desfazendo uma separação de duas décadas, enquanto a fabricante de aviões norte-americana tenta corrigir defeitos de fabricação.

O valor total da transação é de cerca de US$ 8,3 bilhões, incluindo a última dívida líquida relatada da Spirit, de acordo com um comunicado divulgado nesta segunda-feira (1º de julho).

A rival Airbus também assumirá partes da Spirit que fabricam componentes para suas aeronaves, e a fabricante de aviões europeia pagará um preço nominal de US$ 1 pelos ativos, enquanto recebe US$ 559 milhões em compensação, de acordo com um outro comunicado.

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“Acreditamos que esse acordo é do melhor interesse do público que voa, de nossas companhias aéreas clientes, dos funcionários da Spirit e da Boeing, de nossos acionistas e do país de forma geral“, disse o CEO da Boeing, Dave Calhoun, no comunicado.

As ações da Spirit subiram 5,8% antes da abertura dos mercados em Nova York. Já os papéis da Boeing caíram 1,3%, somando-se a uma queda de 30% nos primeiros seis meses de 2024.

Cortes de custos

A transação complexa de três vias reúne a Boeing com uma operação que foi desmembrada em 2005 como parte de um esforço para reduzir custos e terceirizar ativos.

A iniciativa de retomar a Spirit internamente veio na esteira do acidente de 5 de janeiro, no qual uma fuselagem que havia sido montada pela Spirit perdeu um painel em forma de porta durante o voo.

Esse acidente desencadeou uma reação em cadeia na Boeing, que passou por uma grande mudança na administração, por investigações federais e pela análise minuciosa dos órgãos reguladores.

O preço que a Boeing está pagando é 30% superior ao valor de fechamento das ações da Spirit em 29 de fevereiro, um dia antes de as empresas confirmarem que estavam em negociações de fusão.

A Airbus disse que firmou um “acordo vinculativo” com a Spirit que fará com que a fabricante de aviões assuma as instalações que produzem as seções da fuselagem do A350 em Kinston, Carolina do Norte, e St. Nazaire, na França.

A empresa também tentará comprar a produção de asas e fuselagem intermediária do A220 em Belfast, na Irlanda do Norte, e em Casablanca, no Marrocos, bem como a fabricação de pilones do A220 na sede da Spirit, informou.

A transação está prevista para ser concluída em meados do próximo ano. A Boeing disse que está assumindo "substancialmente todas as operações comerciais relacionadas à Boeing", bem como outras operações comerciais, de defesa e de pós-venda.

A Spirit pagará à Boeing uma rescisão de US$ 150 milhões caso desista do acordo, enquanto a Boeing é responsável por pagar à Spirit US$ 300 milhões caso termine a transação, de acordo com um registro na bolsa de valores.

O acordo, fechado após meses de negociações, ocorre no momento em que a Boeing se aproxima de outro marco, um acordo com o Departamento de Justiça dos EUA que potencialmente envolveria se declarar culpada de fraude criminal em relação a dois acidentes envolvendo a aeronave 737 Max, que ocorreram em 2018 e 2019.

O governo dos EUA planeja acusar a Boeing, deixando a fabricante de aviões escolher entre se declarar culpada ou correr o risco de ir a julgamento, disseram pessoas familiarizadas com o assunto à Bloomberg News no domingo (30).

Próximos passos

O esforço para comprar de volta a Spirit provavelmente será bem recebido pelos órgãos reguladores da aviação dos EUA, preocupados com os lapsos de qualidade de fabricação, uma vez que as empresas lidam com a grande rotatividade de funcionários após a pandemia.

Mas a união e a dissolução da Spirit também precisariam ser aprovadas pelo Pentágono e pelos órgãos reguladores antitruste dos EUA, cada vez mais preocupados com a consolidação da produção aeroespacial e de defesa.

Embora isso provavelmente dilua os lucros da Boeing em 2026, os benefícios da reintegração da Spirit “não têm preço”, disse a analista Sheila Kahyaoglu, da Jefferies, em uma nota, acrescentando que o acordo fortalecerá a cadeia de suprimentos da Boeing e lhe dará a oportunidade de melhorar as operações e a eficiência da Spirit.

A transação da Boeing, uma vez concluída, reunirá ativos que, durante décadas, estiveram sob o mesmo teto, unindo milhares de trabalhadores e décadas de experiência compartilhada.

Ela também traz um ex-líder de longa data da Boeing de volta à empresa, enquanto os diretores buscam um novo líder, já que Calhoun deve deixar o cargo no final do ano.

O CEO da Spirit, Pat Shanahan, fez carreira na Boeing e tem grande experiência em operações de fábrica. Ele é conhecido por ter ajudado a empresa a dar a volta por cima no 787 Dreamliner após um início problemático. Ele é considerado um possível candidato para suceder Calhoun no cargo de CEO da Boeing.

Programa de remuneração

Shanahan terá direito a receber unidades de ações restritas no valor de cerca de US$ 8,95 milhões a partir de sexta-feira se permanecer na empresa por um ano ou até que a fusão seja concluída, disse o fornecedor em um documento.

A Spirit também definiu um programa de bônus de US$ 50 milhões para incentivar determinados funcionários a permanecerem e ajudarem a concluir o negócio, de acordo com o documento.

A Spirit tem enfrentado crescente pressão financeira e escrutínio ao lado da Boeing depois que o painel em forma de porta de um modelo 737 Max 9 explodiu minutos após a decolagem.

As remessas de fuselagens do 737 despencaram à medida que a Boeing intensificou suas inspeções no Kansas e em sua sede, perto de Seattle, e se recusou a aceitar estruturas de aeronaves com componentes faltando ou trabalho incompleto.

Para a Boeing, o acordo traz um fornecedor importante para o 737, 787 Dreamliner e outros jatos comerciais de volta à empresa, em um momento em que a companhia está sentindo a pressão financeira da desaceleração da produção.

A Boeing perdeu cerca de US$ 4 bilhões no primeiro trimestre e deve perder uma quantia semelhante nos próximos três meses do ano. A classificação de crédito da empresa está um nível acima do grau especulativo, e a administração está empenhada em evitar que a empresa caia no território de “junk”.

A PJT Partners foi a consultora financeira da Boeing, com o Goldman Sachs e a Consello atuando como consultores adicionais.

--Com a colaboração de Siddharth Philip e Allyson Versprille.

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