Bilionário do Manchester United vê retomada distante e Premier League sob risco

Em entrevista à Bloomberg News, Jim Ratcliffe, novo coproprietário do clube inglês, critica discussão de normas para conter gastos dos clubes e alerta para tempo gasto em tribunais

Sir Jim Ratcliffe, Minority Shareholder of Manchester United, looks on from the stands prior to the Emirates FA Cup Final match between Manchester City and Manchester United at Wembley Stadium on May 25, 2024 in London, England. (Photo by Mike Hewitt/Getty Images)
Por Francine Lacqua - David Hellier
23 de Junho, 2024 | 08:01 AM

Bloomberg — Jim Ratcliffe, o bilionário novo coproprietário do Manchester United, alertou que o comitê que comanda a Premier League corre o risco de arruinar a competição de futebol mais rica do mundo.

“Temos mais contadores do que atletas no Manchester United”, disse Ratcliffe em uma entrevista à Bloomberg News. “Se não tomar cuidado, a Premier League vai acabar passando mais tempo no tribunal do que pensando no melhor para a liga.”

Faz pouco mais de seis meses que Ratcliffe venceu uma disputa para comprar 28% do Manchester United, que já foi o principal time do futebol inglês e continua entre os mais tradicionais do mundo.

O que o empresário de 71 anos diz que encontrou desde a conclusão de seu negócio de US$ 1,5 bilhão foi um clube em turbulência e a Premier League em caos.

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Embora o Manchester United tenha conquistado recentemente a Copa da Inglaterra (FA Cup) com uma vitória inesperada sobre seu arquirrival Manchester City em Wembley, o clube tem sido alvo de críticas nos últimos meses, com notícias negativas sobre seu técnico, os principais jogadores e sobre um estádio que é considerado defasado.

Enquanto isso, o próprio futebol inglês tem ganhado atenção. Com a compra de clubes por fundos de investimento nos últimos anos, dos Estados Unidos até o Oriente Médio, suas finanças e a administração da liga estão sendo cada vez mais examinadas por várias autoridades.

Na entrevista, Ratcliffe falou sobre sua oposição ao novo órgão regulador do futebol inglês, seus planos de gastos e quanto tempo levará para reconstruir um dos clubes de futebol mais famosos do mundo.

“Há espaço para melhorias em todos os aspectos do Manchester United, e vamos melhorar tudo”, disse ele. “Queremos estar onde o Real Madrid está hoje, mas isso levará tempo.”

Desde que assumiu o controle das operações de futebol do Manchester United, Ratcliffe disse que procurou controlar os custos, incluindo o cancelamento de cartões de crédito corporativos para executivos seniores e o fim de uma política mais flexível de home office.

Manchester United

Enquanto ele tem se ocupado com a política do clube, a Premier League lida com a sua própria.

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Parlamentares de todos os lados pediram a criação de um órgão regulador do futebol, dado que muitos clubes foram penalizados nos últimos anos por violarem as regras do fair play financeiro - ou seja, de não respeitarem as regras para evitar gastos bilionários que desequilibrem ainda mais a disputa.

O Manchester City, campeão nas quatro últimas temporadas, lançou um ataque à legalidade das chamadas Transações de Partes Associadas da Premier League – normas criadas para impedir que os times assinem acordos de patrocínio inflacionados com empresas ligadas aos seus proprietários.

O City, que também enfrenta acusações de mais de cem violações do fair play financeiro que datam de mais de uma década, tem sido apoiado financeiramente por Abu Dhabi desde 2008 e tem vários acordos em vigor com a Etihad Airways, a companhia aérea de propriedade de um fundo soberano de Abu Dhabi.

“Posso entender por que eles estão contestando isso”, disse Ratcliffe. “É por isso que eles querem um mercado aberto, livre.”

Uma lei britânica para o futebol

O Partido Trabalhista do Reino Unido, que, segundo as pesquisas, está no caminho certo para formar o próximo governo após a eleição de 4 de julho, apoiou nesta semana os planos de levar adiante um projeto de lei de governança do futebol.

A legislação tentaria estabelecer controles e balanços sobre como os clubes são administrados para garantir sua estabilidade financeira e proteger os torcedores.

Quaisquer novas regras se somariam às regulamentações financeiras da Premier League e da UEFA, que tentam limitar os gastos dos clubes com transferências de jogadores e salários, vinculando-os à receita.

O sistema da chamada “ancoragem”, que deverá ser testado na próxima temporada e que vincula os gastos a um fator das receitas dos clubes inferiores, também foi atacado.

“O que a ancoragem faria?”, questiona Ratcliffe. “Ela inibiria os principais clubes da Premier League. A última coisa que queremos é que os principais clubes da Premier League não consigam competir com times como Real Madrid, Barcelona, Bayern de Munique e PSG.”

Jim Ratcliffe, do Manchester United

Nesse contexto de regulamentação, Ratcliffe e sua equipe receberam a tarefa de mudar a sorte de um clube que já foi um candidato incansável dos maiores troféus, mas que levantou o de campeão da Premier League pela última vez na temporada 2012/13.

Trabalhando com o renomado técnico britânico de ciclismo David Brailsford, Ratcliffe contratou um novo diretor executivo, um diretor técnico e um diretor esportivo.

No entanto o clube tem enfrentado uma batalha para tirar os novos contratados de suas funções atuais. Ratcliffe lamentou a prática do “garden leave” que é comum no futebol, em que os funcionários deixam seus cargos, mas permanecem na folha de pagamento durante o período de aviso prévio.

Apenas uma das três principais contratações do Manchester United – o diretor técnico Jason Wilcox – está atualmente no cargo.

“Estamos um pouco prejudicados nesse sentido, mas acho que faremos um bom trabalho”, disse Ratcliffe. “Serão necessárias duas ou três janelas [para contratações] para chegarmos a um lugar melhor.”

Grande parte do foco envolveu a possível nomeação de um novo técnico. No entanto o clube decidiu manter o criticado holandês Erik ten Hag no cargo após uma avaliação pós-temporada - e a conquista da Copa da Inglaterra sobre o City.

“O técnico não é a questão central do United”, disse Ratcliffe.

Em vez disso, ele apontou para o “ambiente” no lado esportivo do negócio. “É um clube. Precisa ser competitivo, precisa de um grau de intensidade, mas com um lado de apoio, porque você está lidando com jogadores relativamente jovens. Historicamente, o clube não tem esse tipo de ambiente.”

Críticas ao novo Mundial de Clubes

A chave também é cuidar deles, disse ele.

Os planos para um novo Mundial de Clubes organizado pela FIFA com mais jogos são um passo longe demais. Segundo ele, o esporte corre o risco de exagerar na quantidade de partidas para cada jogador. “Não dá para simplesmente continuar exigindo mais dos jogadores.”

O objetivo de Ratcliffe é se equiparar ao Real Madrid, o atual campeão da Champions League e um dos clubes mais bem-sucedidos da Europa na última década. Desde que o Manchester United venceu o campeonato entre clubes mais cobiçado e rico do mundo pela última vez, em 2008, o Real Madrid o conquistou outras seis vezes.

O gigante espanhol recentemente fez uma reforma de 1,76 bilhão de euros (US$ 1,9 bilhão) em seu icônico estádio Santiago Bernabéu e adquiriu craques como o astro francês Kyilan Mbappe e o talentoso inglês Jude Bellingham.

“O Manchester United não tem nenhum jogador avaliado em 100 milhões de euros ou mais”, disse Ratcliffe, que observou que a compra de um superastro “não vai resolver o problema do time”.

Desempenho da equipe antes e depois do investimento da Ineos Sport

Ratcliffe acumulou uma fortuna de US$ 15,2 bilhões por meio de sua empresa de produtos químicos Ineos, de acordo com o índice de bilionários da Bloomberg.

Mas ele teve resultados mistos com seus investimentos esportivos, que incluem a equipe de F1 Mercedes AMG Petronas e a equipe Ineos Grenadiers do Tour de France, principal prova do ciclismo mundial.

As novas regulamentações sobre quanto os clubes podem gastar com jogadores, juntamente com os gastos excessivos do Manchester United em temporadas anteriores, limitaram a capacidade de Ratcliffe de ter sucesso na Premier League no curto prazo.

"Não estou confiante de que resolveremos todos os problemas na primeira janela de transferências", disse ele.

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Há também outra questão: Ratcliffe controla o time francês Nice, mas a propriedade de vários clubes pela mesma entidade ou pessoa está sendo alvo de atenção por parte da UEFA, a poderosa entidade que rege o futebol europeu.

Ratcliffe disse que precisará colocar o Nice em um blind trust (em que mantém a propriedade, mas passa a um terceiro o controle das operações) depois que o Manchester United se classificou para a Liga Europa. Isso porque um único proprietário não pode ter dois clubes na mesma competição sem algumas restrições, e ele não tem a intenção de vender o Nice.

A UEFA também aumentou sua fiscalização sobre grupos que negociam jogadores entre seus times se eles jogam na mesma competição e impediu que o Nice vendesse um jogador para o Manchester United, disse Ratcliffe, recusando-se a nomeá-lo.

“Eles disseram que podemos vendê-lo a outro clube da Premier League, mas não ao United”, disse Ratcliffe. “Isso não é justo com o jogador e não vejo o sentido disso.”

Ratcliffe quer reformar o estádio do United e a área ao redor dele (Foto: Anthony Devlin/Bloomberg)

No Manchester United, o executivo continua concentrado na reforma do mítico estádio Old Trafford, com uso de dinheiro público e privado para revitalizar a arena e a área ao redor, incluindo possíveis novos hotéis, moradias e instalações para educação e saúde.

Tudo isso faz parte do aprimoramento de uma marca que enfrenta dificuldades ultimamente.

“Todo mundo conhece Manchester por causa do Manchester United”, disse ele. “O United é como a Coca-Cola, todo mundo conhece. Não sei bem o porquê, mas é um fato.”

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