BB: provisões podem atingir o topo da projeção com alta da inadimplência no agro

Banco havia projetado que as provisões ficariam entre R$ 27 bilhões e R$ 30 bilhões neste ano; no primeiro trimestre, indicador ficou em R$ 8,5 bilhões

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Bloomberg Línea — O Banco do Brasil (BBAS3) indicou, nesta quinta-feira (9), que as provisões para créditos de liquidação duvidosa (PCLD) podem terminar o ano no topo do guidance (projeção), o que alimenta o temor de um crescimento da inadimplência no agronegócio, um dos principais segmentos de atuação da instituição.

O desempenho do setor entrou ainda mais no radar diante das incertezas sobre o impacto das inundações no Rio Grande do Sul nos ganhos dos produtores rurais.

No começo do ano, o BB havia anunciado um guidance de que a PCLD de 2024 ficaria no intervalo entre R$ 27 bilhões e R$ 30 bilhões. No primeiro trimestre, o indicador ficou em R$ 8,5 bilhões, representando 28,3% da estimativa máxima do guidance.

Em teleconferência com analistas, no final da manhã, o vice-presidente de gestão de risco do BB, Felipe Prince, indicou que a provisão para devedores duvidosos (PDD ou PCLD) deve convergir para “entre a conta média e alta” do guidance de 2024, o que enfraquece o cenário do indicador no piso da projeção (R$ 27 bilhões).

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As incertezas sobre o cumprimento do guidance de 2024 recaíram sobre a carteira de crédito do agronegócio, a segunda maior do banco, que apresentou um crescimento de 4,8% e de 15,5% no comparativo trimestral e anual, respectivamente, totalizando R$ 372 bilhões, menor apenas do que a carteira de pessoas jurídicas (R$ 393, 583 bilhões). O guidance para o crescimento da carteira agro é um intervalo entre 11% e 15%.

“Os produtores estão esperando melhora nos preços de comercialização de seus produtos. As operações de custeio precisam ser liquidadas até o fim desta safra”, justificou o executivo do BB, citando ainda os esforços do banco para obter a regularização dessas operações e amortecer o fluxo das provisões nesse segmento.

A inadimplência da carteira agro, medida pelos atrasos acima de 90 dias, subiu de 0,96% (dezembro) para 1,19% (março). Segundo o balanço do BB, isso ocorreu “por questões conjunturais que afetaram o fluxo de caixa do produtor rural, que atuam principalmente na cultura de soja”.

As inundações no Rio Grande do Sul, que tem a atividade agropecuária como um dos principais motores de sua economia, também foram abordadas pelos principais executivos do BB na conversa com analistas. Eles evitaram precisar o impacto material das enchentes no desempenho do banco e de sua seguradora.

Presente no evento, a CEO Tarciana Medeiros disse que linhas de crédito estão sendo flexibilizadas para clientes nesse estado da região Sul e que o banco alocou mais R$ 50 milhões como medida de apoio, além de outros R$ 5 bilhões e R$ 3 bilhões (arrecadados em campanha de doações).

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Banco Patagonia

A CEO do Banco do Brasil também ouviu várias perguntas dos analistas sobre a situação da subsidiária argentina (Banco Patagonia), que contribui com R$ 2 bilhões para a receita trimestral do conglomerado.

No primeiro trimestre, a unidade argentina teve queda de 49% na receita financeira de operações de crédito no comparativo trimestral. No balanço, o BB reconheceu que “o contexto inflacionário na Argentina afeta a situação financeira, os resultados e os fluxos de caixa do Banco Patagonia”.

Para Medeiros, o Banco Patagonia, que está presente em todas as 23 províncias (estados) da Argentina, tem condições de operar novas fontes de receitas e se trata de uma subsidiária “muito bem gerida”. A subsidiária possui rede de distribuição física com 198 pontos de atendimento.

“O board é do Banco do Brasil, colegas que já passaram por intempéries nas últimas décadas. É uma operação muito bem gerida, é importante frisar esse ponto quando se fala do Patagonia”, avaliou a CEO.

Os analistas expressaram dúvidas sobre a dinâmica dos resultados da subsidiária argentina, após a maxidesvalorização do peso em dezembro, quando Javier Milei assumiu a presidência do país vizinho.

Ao avaliar o balanço do BB, a equipe de research do BTG Pactual (BPAC11) destacou a relevância desse tema para as expectativas do mercado quanto ao desempenho do banco brasileiro de capital misto.

“Será importante obter mais detalhes da administração sobre o que esperar do Patagonia, dada a sua importância crescente nos resultados do BB nos últimos tempos”, citou o relatório assinado pelos analistas Eduardo Rosman, Ricardo Buchpiguel e Thiago Paura.

O lucro líquido do Patagonia caiu 33,7% em três meses, para R$ 1,5 bilhão, mesmo com a estabilidade do principal indicador de inadimplência (0,40% para atrasos acima de 90 dias) no período. A administração do BB reafirmou que vai continuar monitorando a situação da Argentina para entender a dinâmica do resultado nos próximos trimestres.

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