BB cita avanço de Nubank e Itaú em cartões e prepara ofensiva para reverter queda

CFO, Geovanne Tobias, disse em call que o banco está pronto para retomar a expansão nessa modalidade de crédito após investimentos em tecnologia e melhoria de análise de risco

Estande do Banco do Brasil no Web Summit Rio 2024 (Foto: Gil Dutra/Divulgação/Web Summit)
08 de Agosto, 2024 | 03:56 PM

Bloomberg Línea — O Banco do Brasil (BBAS3) prepara uma ofensiva no mercado de cartões de crédito após registrar uma queda de 4% no volume de carteira de empréstimos dessa modalidade no primeiro semestre, segundo disse o CFO (Chief Financial Officer), Geovanne Tobias, nesta quinta-feira (8).

As operações de cartão de crédito do BB para pessoas físicas somaram R$ 46,6 bilhões no fechamento do junho, abaixo dos R$ 48,6 bilhões em dezembro passado. Esse freio ocorreu ao longo dos últimos anos devido às medidas do banco para conter a escalada dos índices de inadimplência.

Leia mais: BB eleva lucro no 2º tri, mas aumenta a projeção de despesas com crédito duvidoso

“Sei que o Nubank, o Itaú e outros bancos focam muito na carteira de cartão de crédito. No Itaú, a carteira é quase três vezes a do BB. Não faz sentido ter nossos pares crescendo em cartão no ritmo de 2%, 3%, 4%, e o BB caindo 3%. Há espaço para crescer e vamos recuperar”, disse o CFO em teleconferência com analistas.

PUBLICIDADE

A comparação com o Itaú se deve à sua liderança entre os bancos.

Em junho, a carteira de cartão de crédito do Itaú para PF (pessoa física) totalizou R$ 131 bilhões, com crescimento anual de 2% no segundo trimestre. Nos segmentos de público de renda mais alta, representados pelo Personnalité e pelo Uniclass, houve alta de 17,3% em 12 meses.

Acima do BB está também o Santander Brasil (SANB11), que fechou o primeiro semestre com R$ 52,3 bilhões em operações com cartões, uma alta de 3%.

Já o Bradesco (BBDC4) teve um crescimento anual de 3,7% em sua carteira de cartão para PF (R$ 69,5 bilhões). O Nubank divulga o resultado do segundo trimestre na próxima terça-feira (13).

Leia mais: Itaú espera mais que dobrar a migração de clientes para superapp, afirma CEO

“O mercado está retomando o crescimento em cartão de crédito, e olhamos essa oportunidade. É um motor de crescimento em 2025. Estamos lançando uma nova plataforma do Ourocard após rever processos da jornada e melhorar a experiência de onbording [abertura de conta e acesso ao serviço]”, afirmou Tobias.

A perda de participação do BB na área de cartões também foi atribuída à discussão no Congresso sobre as taxas de juro do chamado rotativo do produto no ano passado, que resultou em um limite de 100% ao ano.

PUBLICIDADE

“Tínhamos deliberadamente fechado essa carteira, [em momento em que] houve a discussão sobre o cap [teto] do rotativo. Sabíamos que nossa solução de onbording causava muita fricção”, disse o CFO.

Inadimplência no agro sob controle

Na conversa com a imprensa e os analistas para comentar o resultado do segundo trimestre, a gestão do BB tentou tranquilizar o mercado sobre a elevação do intervalo previsto para as despesas com provisões de crédito duvidoso.

Segundo o CFO, a inadimplência no agronegócio, um dos fatores para a revisão do guidance, está sob controle e deve ceder com a liberação de crédito para financiar a nova safra.

Além disso, o banco tem reforçado o trabalho de recuperação de crédito em sua rede de agências espalhadas pelo país, a fim de acelerar a regularização dos atrasos pelos produtores rurais, segundo o vice-presidente de controles internos e gestão de riscos do BB, Felipe Prince.

Além do agro, o BB também espera um recuo dos atrasos de micro e pequenas empresas.

Questionado sobre se a retomada da aposta no mercado de cartões de crédito tem potencial de elevar os índices de inadimplência, os executivos do BB lembraram que os sistemas de gestão de risco evoluíram nos últimos anos em decorrência de investimentos em tecnologia e em segurança.

Além disso, a estratégia da instituição é focar mais em públicos de maior renda, em que a análise de dados, realizada também com uso de inteligência artificial, aponta um menor risco na concessão de crédito.

“No passado, quando o banco foi para o ‘mar aberto’, para o cliente [das classes] E e F, tivemos muitas perdas para contabilizar. Estamos falando agora do cliente C e D de maneira extremamente cuidadosa. Já fizemos um freio de arrumação nesse produto, investimos em tecnologia. É mais seguro agora oferecer um cartão de crédito”, resumiu o CFO.

Leia também

De Uber a delivery: como as empresas de aplicativos driblaram o colapso de ações tech

Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.