Rony Meisler, fundador da Reserva, deixa ‘house of brands’ de Arezzo e Soma

Empreendedor da marca conhecida pelo logo do pica-pau e outros três executivos deixam a Azzas 2154; Ruy Kameyama assumirá como CEO da AR&Co, que reúne nove marcas de vestuário masculino

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Bloomberg Línea — A house of brands da Azzas 2154 (AZZA3), companhia resultante da fusão entre Arezzo e Grupo Soma, terá seus primeiros desfalques. Diferentemente do originalmente divulgado em fevereiro, Rony Meisler, um dos fundadores da Reserva, não cuidará mais da vertical de vestuário masculino.

Ruy Kameyama, que faz parte do conselho de administração do grupo, foi anunciado nesta quinta-feira (29) como CEO dessa unidade de negócios, uma das mais rentáveis do Grupo Arezzo.

Além de Meisler, também deixam o grupo os executivos Fernando Sigal, Jayme Nigri Moszkowicz e José Alberto da Silva, que participaram da fundação da Reserva. “Rony e os demais fundadores seguirão até o final deste ano apoiando o processo de transição”, disse a companhia.

Adquirida em 2020, a Reserva passou a ser designada também como AR&Co, com nove marcas no seu guarda-chuva: Reserva, Reserva Mini, Oficina, Reserva Ink, Reserva Go, Reversa, Simples, Baw e Foxton. Alcançou um crescimento anual perto de 300% na receita entre 2019 e junho de 2024, de cerca de R$ 400 milhões para R$ 1,6 bilhão, segundo comunicado divulgado pela Azzas 2154.

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As ações da Azzas recuavam perto de 5% no começo da tarde desta quinta.

A marca fundada em 2004 com a abertura de sua primeira loja no Rio de Janeiro e se tornou nos últimos anos presença comum entre profissionais da Faria Lima e consumidores de alta renda, com suas camisas polos com o pica-pau como símbolo estampado, a exemplo do crocodilo da Lacoste.

Havia sinais de que o executivo e a empresa não estavam convergindo na mesma direção, e o mercado já antecipava a saída de Rony, escreveu Thiago Macruz, analista do Itaú BBA, em relatório sobre a mudança.

No LinkedIn uma semana atrás, Meisler vez um post que tem como título “As nove verdades dolorosas da vida”, sem qualquer menção à saída da Azzas 2154. “Primeira. Tenha cuidado com quem você confia. Sal e açúcar parecem iguais”, postou.

“Vemos Rony como um executivo excepcional, mas, ao mesmo tempo, notamos que o segundo nível de executivos da Reserva continua na empresa. Acreditamos que a empresa tem capacidade para continuar administrando a marca sem grandes contratempos”, avaliou Macruz.

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A Azzas 2154 não explicou o motivo da saída dos executivos, citando apenas o “término de seus respectivos contratos de trabalho celebrados em 2020″.

“O Azzas 2154 agradece a Rony, Nandão, Jayme e Zé pelos anos de dedicação e grandes realizações e deseja boa sorte ao Ruy e ao timaço que foi formado nos últimos anos e continua na AR&Co!”, mencionou a empresa no comunicado enviado à CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

Analistas do sell side destacaram, em seus relatórios, que os fundadores da Reserva estarão sujeitos a uma cláusula de non-compete de dois anos a partir de dezembro, que inclui não apenas moda masculina mas também segmentos relacionados (por exemplo, moda feminina, calçados etc.).

“Observamos que o fim do ciclo dos executivos coincide com sua última parcela de lock-up, que soma 1,7 milhão de ações (R$ 92 milhões a preços atuais ou equivalente a 1,1 dia de negociação)”, apontou em relatório a equipe de equity research da XP voltada para o varejo, liderada por Danniela Eiger.

Na visão da XP, o processo de integração do Grupo Soma e as diferenças culturais entre as companhias estão entre os principais riscos da tese atualmente e há possibilidade de que outros executivos deixem a empresa no curto prazo, como foi o caso do ex-CFO do Soma Gabriel Lobo.

“Esse anúncio pode reforçar as preocupações com relação à retenção de talentos do Soma”, diz a XP no relatório.

O grupo de moda apontou que o novo CEO “terá como objetivo manter o forte histórico de crescimento e desenvolvimento de marcas da AR&Co, além de participar ativamente na integração com o Azzas 2154, inclusive no início do projeto de produção de algumas linhas da AR&Co na planta da Hering”.

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Atual conselheiro do Azzas 2154 e ex-conselheiro do Grupo Soma, Kameyama nasceu no Rio de Janeiro e se formou em economia no IBMEC-RJ e tem MBA da Harvard Business School, além experiências prévias em banco de investimentos e no setor de franquias, segundo o comunicado.

“Ruy possui ampla experiência em gestão de empresas e formação de times, tendo liderado o case de crescimento e fortalecimento de cultura na brMalls”, acrescentou a Azzas 2154.

Foco maior na Hering

Na primeira fase da integração, a Azzas anunciou um potencial de R$ 1,1 bilhão em receitas incrementais até 2027, concentradas principalmente na marca Hering. Esse valor seria equivalente a 6% da previsão de receita bruta projetada pelo analista do Itaú BBA para aquele ano.

Desse montante, a maior parte da receita incremental (R$ 672 milhões) viria do cross-selling de calçados e acessórios entre as marcas Farm e Hering. O plano indica que o número de conversões/aberturas de lojas Hering salte de 55 megalojas neste ano para 121 lojas em 2027.

“Considerando que a marca Reserva gera aproximadamente 20% de sua receita com calçados, e com base nas comparações com outras marcas globais, a empresa indicou que a marca Hering poderia gerar de 7% a 10% de sua receita com calçados nos próximos anos, com a primeira linha programada para ser lançada em setembro de 2024″, estimou o Itaú BBA em recente relatório.

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