Bloomberg Línea — Depois de registrar um prejuízo bilionário em 2024 e diminuir o número de destinos na malha de voos, a Azul (AZUL4) se prepara para um novo processo de reorganização, que inclui desde alterações no conselho de administração até um aumento de capital.
Segundo executivos, a estratégia visa fazer frente aos desafios de câmbio e criar condições para que a companhia aérea continue a crescer.
No ano passado, a companhia reportou uma receita líquida consolidada de R$ 19,5 bilhões, uma alta de 4,4% sobre 2023. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) alcançou R$ 6 bilhões, aumento de 16,4% ante o resultado do ano anterior.
Apesar do crescimento, a aérea registrou um prejuízo líquido de R$ 8,2 bilhões em 2024, elevando as perdas em relação ao ano anterior, quando o resultado ficou negativo em R$ 700 milhões.
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O CFO da Azul, Alex Malfitani, minimizou as perdas e afirmou que analistas de mercado que acompanham o setor aéreo acabam olhando “muito mais” a geração de caixa (medidas pelo Ebitda) e o lucro operacional (Ebit), que seriam indicadores mais apropriados sobre a saúde financeira.
O CEO da Azul, John Rodgerson, acrescentou que a companhia sempre foi rentável na operação, mas que durante a pandemia endividou muito para sobreviver, o que acabou criando uma despesa financeira elevada.
“Queremos continuar a crescer, mas mantendo nosso custo fixo ou até reduzindo. Estamos todos engajados para tornar a empresa mais eficiente”, disse o executivo a jornalistas.
Ao final do quarto trimestre, a aérea acumulava uma alavancagem medida pela dívida líquida sobre o Ebitda de 4,9 vezes, ante 4,4 vezes no trimestre imediatamente anterior.
De acordo com Malfitani, a redução do endividamento vai depender principalmente da cotação do dólar, uma vez que os principais custos do setor são atrelados à moeda americana.
“Nosso desempenho está consistente com o que anunciamos, a grande incógnita é o câmbio. O setor aéreo como um todo depende majoritariamente de capital em dólar para funcionar.”
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“Mas independentemente da fotografia, prevemos a expansão da geração de caixa. Temos a transformação da frota. Nós vamos desalavancar”, afirmou o executivo.
No último dia 20, a Azul anunciou a aprovação de um aumento de capital, com o apoio dos acionistas controladores, que subscreverão novas ações que serão emitidas.
Rodgerson disse que, pelas regras brasileiras, os controladores da companhia terão que fazer um aporte de capital, que deve ficar entre US$ 10 milhões e US$ 20 milhões.
Entre eles está o empresário e fundador da Azul, David Neeleman, que após o processo deve ficar com uma participação em torno de 4% na empresa, ante pouco mais de 5% anteriormente. A diluição seria ainda maior não fosse a decisão de investimento dele na companhia.
“David está mantendo a aposta dele na Azul, os ‘lessores’ [empresas de leasing de aeronaves] também. Estamos migrando para um modelo de melhor governança”, disse Rodgerson. Malfitani disse que a base acionária ficará mais ampla, com participações bem distribuídas.
Em paralelo, a companhia deve votar pela redução do número de conselheiros de 13 para nove membros, com Neeleman se mantendo no posto de presidente do colegiado.
As mudanças devem ocorrer a partir de abril, quando dois representantes dos chamados bondholders (detentores de dívidas) serão adicionados ao conselho.
Mudanças na malha
Rodgerson disse que a Azul encerrou o ano de 2019 com 119 cidades servidas no país e, na pandemia, esse número chegou a 160. No entanto, segundo ele, com a desvalorização cambial, a demanda não acompanhou a receita necessária para manter determinadas rotas.
“Obviamente vamos fechar o que não funciona, estamos alocando ativos para onde podemos ganhar dinheiro. Com o dólar a R$ 6, algumas rotas não fazem sentido”, disse o executivo.
Ele acrescentou que, apesar da suspensão de algumas rotas, a companhia decidiu, por outro lado, reforçar a frequência em outras. No saldo, hoje a Azul voa para 150 destinos.
“Temos zero tolerância para perder dinheiro. No passado, esperávamos um pouco mais [para encerrar rotas]”, disse o executivo.
“Ainda estamos com 50 cidades a mais do que nossos concorrentes. Vamos crescer no primeiro trimestre, temos novas rotas chegando, e não quer dizer que não podemos voltar com algumas delas.”
Rodgerson observou que a decisão de encerrar alguns destinos independe nas conversas para unir as operações com a Gol.
“Nem podemos conversar com eles [Gol] ainda. Estamos confiantes de que podemos fazer algo juntos, mas vamos deixar as autoridades olharem isso. Já houve outras fusões com muito mais concentração de mercado”, disse o executivo. “Como o processo de análise de fusão é muito demorado, temos que trabalhar como uma empresa normalmente.”
A expectativa é que a companhia receba “diversos” aviões da Embraer (EMBR3) neste ano. “Estamos lutando todos os dias para receber essas aeronaves, mas há um problema grave na indústria de motores global. Hoje temos aeronaves estacionadas por falta de motores”, afirmou Rodgerson.
Segundo ele, a fabricante brasileira entregou cinco aeronaves de uma vez em dezembro, que deveriam ter sido entregues ao longo do ano. “A expectativa é que o cenário melhore em 2025.”
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